Extrema-direita e cristianismo
Um dos motes da plataforma internacional da extrema-direita para as disputas eleitorais é "proteger os cristãos em todo o mundo"
Neste final de semana acontece em Madrid, na Espanha, um encontro de líderes da extrema-direita global. O encontro é organizado pelo Vox, partido da extrema-direita espanhola.
Estarão presentes, entre outros, Javier Milei, presidente da Argentina; Viktor Orban, da Hungria; Marie Le Pen, da França; a primeira-ministra Giorgia Meloni, da Itália e representantes do governo de Israel.
Pesquisas de opinião apontam que partidos da extrema-direita podem sair vitoriosos em 9 dos 27 países da União Europeia, incluindo a França, de Marie Le Pen, e a Holanda. Essas mesmas pesquisas também indicam que a extrema-direita direita já se tornou a segunda maior força política na Espanha, Portugal, Alemanha e Suécia.
No encontro deste final de semana em Madrid, um dos motes da plataforma internacional da extrema-direita para as disputas eleitorais é "proteger os cristãos em todo o mundo". Também defendem o armamentismo, o protecionismo agrícola, medidas xenófobas e uma "coisa" chamada de "valores tradicionais", expressão que dá guarita a todo tipo de retrocesso nos campos de políticas públicas focalizadas, direitos individuais, sociais e reprodutivos, além de agradar os que são saudosos de tempos imperiais e até teocratas de plantão.
Como temos alertado e considerando vários estudos sobre o crescimento de grupos extremistas, o fundamentalismo cristão é uma das bases da extrema-direita global e, no Brasil, enxergamos com clareza esse movimento.
Um dos pilares de sustentação do bolsonarismo é a religião. As igrejas, principalmente as poderosas agremiações neopentecostais evangélicas e segmentos conservadores do catolicismo garantiram (e ainda garantem) ao ex-presidente ampla base de apoio social e político.
O uso da religião tem caracterizado a nova extrema-direita global, como revelou o vaticanista Iacopo Scaramuzzi em seu livro intitulado “Dio? In fondo a destra – Perché i populismi sfruttano il cristianesimo” (em tradução literal, Deus? No fundo à direita – Porque os populismos desfrutam do cristianismo), cuja capa estampa quatro dos principais expoentes desse fenômeno: Salvini, Trump, Bolsonaro e Putin.
A pauta (moralista) de costumes associada contemporaneamente à guerra cultural e o (ab)uso da religião são as principais armas da extrema-direita direita na formação de uma nova cruzada "do bem contra o mal" - uma estratégia amplamente utilizada ao longo da história para se pavimentar os grandes retrocessos civilizatórios.
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