Falando sem parar, Bolsonaro tenta calar o país
"O discurso asfixiante de Bolsonaro impede a construção de um debate nacional, que permitiria a cada brasileiro dar sua palavra para os problemas urgentes do país", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247. "Falando sem parar, ele tenta impor, pelo excesso de ruído, várias ideias que a população rejeita"
O governo Bolsonaro é um discurso sem silêncios nem pausas. Não há intervalo para contraponto nem para questionamentos. Muitos menos para a construção de um ponto de vista alternativo, que implicaria em admitir democraticamente que o espaço público é um local de eterna disputa, onde cabe aos brasileiros e brasileiras a palavra final para seus problemas e soluções.
No universo de Bolsonaro, não importa estar certo nem ter razão. Nem é preciso ficar perturbado ao ser flagrado numa afirmação grotesca sobre a fome dos brasileiros, desmentida por uma simples caminhada pelos bairros chiques de São Paulo. Na mentira intencional -- como a eterna negação da tortura, que agora alcançou Miriam Leitão -- ou na demonstração de ódio racista pelos "paraíbas," os mesmos nordestinos que, conforme o tuite de uma estudante paulista, em 2010, deveriam ser mortos por afogamento como "um favor a São Paulo".
O importante é não parar de falar e assim impedir o Outro de se fazer ouvir. Pode parecer simplório mas nem tudo é complexo no personagem. O efeito procurado por esse discurso permanente, total, asfixiante, é tentar impedir o país de refletir -- passo necessário para que possa reagir. Nunca é uma fala para um diálogo nacional, necessário em qualquer projeto que pretendesse construir alguma saída positiva para um país, mais desencontrado e peplexo hoje do que na campanha presidencial.
É um discurso para impor, de cima para baixo, ideias que a população rejeita, como a liberação da posse de armas, o enfraquecimento da proteção social, o ataque às universidades públicas, a submissão humilhante a Washington. Bolsonaro dispensa comentários e sabe que o risco de buscar aplausos é abrir espaço para vaias e assobios. Para evitar surpresas desagradáveis, aceita gestos conformados de concordância. Fala sem parar para nos calar pelo excesso de ruído. Isso lhe basta.
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* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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