Fernanda Torres: a afirmação da democracia e dos direitos humanos. Sem anistia!
"Parabéns, Fernanda Torres, por lavar nossa alma às vésperas do 8 de janeiro e dos 40 anos de Tancredo", diz o advogado Arnóbio Rocha
Há dois meses fui ao cinema assistir ao filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, e não alimentava tanta expectativa, mesmo com as boas referências de amigos e amigas. Uma grande mídia indicava, mas confesso que o filme superou em muito minhas expectativas. Saí impactado e escrevi o post Ainda Estou Aqui – o Brasil que varreu a Ditadura para debaixo do tapete!, sobre minhas impressões, não sobre o filme em si, mas sobre o contexto histórico e o comportamento da mídia, que não apenas tolerou como normalizou os adoradores da ditadura que haviam voltado ao poder com Bolsonaro. Claro que isso era uma espécie de auto-traição, pois a mídia apoiou a ditadura e se calou diante das mortes e torturas, não apenas por imposição do regime, mas por identificação com ele.
Apenas no final do post disse algo sobre a genial interpretação de Fernanda Torres. Fui econômico porque não queria influenciar ninguém nem estragar a emoção impactante da atuação da grande atriz, que já havia feito grandes filmes e papéis, como o vitorioso Eu Sei Que Vou Te Amar, de Arnaldo Jabor, em que ela, com apenas 20 anos, foi premiada no Festival de Cannes e no de Cuba. Dez anos depois, fez o marcante Terra Estrangeira, de Walter Salles e Daniela Thomas.
A carreira de Fernanda Torres se tornou popular com os papéis em novelas e séries da Rede Globo, especialmente em comédias em que ela usava alta técnica e qualidade na construção de personagens que se tornaram marcantes e ainda fazem muito sucesso nos canais que reprisam produções, como Os Normais e Tapas e Beijos. Além de muitas participações em novelas, o carro-chefe da emissora carioca, desde muito nova, ela é figura constante na tela.
Ontem/hoje, 05 ou 06 de janeiro, Fernanda Torres fez história: foi laureada como melhor atriz de drama no Golden Globe, o segundo mais prestigiado prêmio da indústria de cinema dos EUA. Entre grandes indicadas, consagradas atrizes de Hollywood, o que torna o feito ainda mais surpreendente e espetacular, foi um momento histórico que abre a possibilidade de ela ser indicada ao Oscar. Independente disso, a vitória é cheia de simbolismo, que não se refere apenas à soberba interpretação dela, mas a todo o contexto.
O filme Ainda Estou Aqui, baseado em uma autobiografia de Marcelo Rubens Paiva, traz um recorte duro, seco e cortante de como a ditadura massacrou o Brasil. A boçalidade dos milicos era sem limites. A paranoia anticomunista fez vítimas das mais variadas: militantes de esquerda (não armada e depois armada), passando por pessoas comuns, que até hoje pagam pelos horrores das abordagens violentas das polícias militares, das humilhações em delegacias e dos horrores dos presídios.
O filme, em última análise, é uma defesa real dos Direitos Humanos, dentro de um prisma que atinge uma família que passa a viver o pesadelo de ter o patriarca sequestrado e morto, sem nunca ter tido acesso ao seu corpo e às circunstâncias de sua morte. Por mais de 20 anos, a família nem mesmo tinha o atestado de óbito, algo tão comum para tantas famílias vítimas da ditadura. Apenas para lembrar que o filme não se propõe a discutir a ditadura em toda a sua dimensão, mas traz um contexto que demonstra todo o seu horror. Algumas críticas são absolutamente injustas, inclusive contra o próprio Marcelo Rubens Paiva.
Parabéns, Fernanda Torres! Lavou nossa alma, na véspera do segundo aniversário da tentativa de golpe de 08 de janeiro, dos 4 anos do Capitólio e a uma semana dos 40 anos da vitória de Tancredo Neves no Congresso Nacional. A ditadura ainda precisa ser passada a limpo, principalmente seus apoiadores, que estão vivos e assombram o Brasil com a conivência da burguesia nacional e de sua mídia canalha.
SEM ANISTIA!
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