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    Marcia Tiburi

    Professora de Filosofia, escritora, artista visual

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    Fernanda Torres e a questão Brasil

    "O prêmio se torna uma espécie de bálsamo. Para quem sabe a profundidade da ferida da ditadura militar no Brasil, é um bálsamo ainda mais intenso"

    Fernanda Torres conquista o Globo de Ouro (Foto: Reuters)

     O merecido Globo de Ouro recebido por Fernanda Torres trouxe à tona o Brasil - e o ser brasileiro ou brasileira - como questão. Tanto a autodesvalorização, quanto a surpresa com um prêmio internacional fazem parte do nosso “Complexo de Vira-Lata” . 

    O prêmio se torna uma espécie de bálsamo. Para quem sabe a profundidade da ferida da ditadura militar no Brasil, é um bálsamo ainda mais intenso. Eunice Paiva, a personagem histórica, entendeu na pela a extensão da ferida ainda aberta: o que aconteceu com Rubens Paiva - homem branco e burguês - acontece com a população negra e indígena diariamente. Enquanto vemos Fernanda Torres receber seu prêmio com todas as glórias, vemos os corpos indígenas sangrando no Mato Grosso. O constraste entre esses mundos mostra a profundidade da ferida. Que as pessoas entendam o que Eunice Paiva entendeu é a parte mais importante desse filme de Walter Salles. 

    Sobre o diretor há que se reconhecer seu mérito que faz pensar no mérito que muita gente poderia ter no Brasil, caso houvesse oportunidade. Oportunidade se faz com educação, cultura, direitos básicos assegurados. É preciso dizer mais que isso no pais da desigualdade de classe, raça e gênero?

    Sobre o orgulho nacional que desponta é preciso dizer ainda que a baixa autoestima é colonial e é vivida coletivamente. É também  diariamente promovida pela humilhação dos poderes vigentes - político, midiático, etc. Nesse cenário, não é fácil ver potências nacionais quando somos levados a não nos valorizar. De fato, falamos português, uma língua que não conta no cenário do inglês internacional, e de repente, um filme nessa língua periférica fura uma bolha, uma atriz ganha um prêmio importantíssimo, numa competição envolvendo outras atrizes muito bem inscritas nos poder do cinema internacional e, bingo, é Brasil! 

    Que ninguém perca de vista que AINDA ESTOU AQUI consegue a façanha de colocar um sentimento de empatia na cultura política, fazendo pensar no horror do Estado matador. A cada ato da politica militar truculenta pelo Brasil afora, lembremos de Eunice Paiva e da luta pelos direitos humanos.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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