Fernando Morais, jornalista e biógrafo
Já escrevi sobre grandes jornalistas brasileiros. Mas ainda não havia escrito sobre Fernando Morais, um dos melhores
Rio - Já escrevi aqui no Brasil 247 sobre grandes jornalistas brasileiros. Ou, pelo menos, sobre os que eu admiro. Mas ainda não havia escrito sobre Fernando Morais, um dos melhores.
Já tinha lido alguns de seus textos na imprensa. Ótimos. O primeiro livro dele que li foi ‘A Ilha’. A reportagem, escrita sobre a ilha de Cuba que tornou-se um dos maiores sucessos editoriais brasileiros e se converteu num ícone da esquerda brasileira nos anos 70.
Recentemente, recebi o seu livro ‘Lula’ (Companhia das Letras, 448 págs.) a biografia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma contribuição ímpar para compreender a figura polêmica e o personagem incontornável de um dos maiores políticos brasileiros.
O jornalista e escritor Fernando Morais nasceu em Mariana, Minas Gerais, em 1946. Filho de uma família modesta, seu pai era bancário. Um homem muito culto e muito refinado intelectualmente.
Em entrevista ao site “Cândido”, Fernando Morais conta sobre o pai. “Meu pai deixou pouca coisa material para os filhos, mas quando ele morreu, eu disse que queria os livros, eram mais de 2 mil, uma biblioteca expressiva por ser privada. Estou convencido de que sou o que sou, fundamentalmente, por causa desses livros”.
“Comecei a ler muito cedo. Estou convencido de que foi essa intimidade tão precoce com os livros que me levou a gostar de ler. E não se aprende a escrever sem ler. Não conheço nenhum bom autor que não seja um leitor voraz”.
“Acho que ali adquiri o gosto pela leitura, e a partir daí, o prazer de escrever. Um prazer doloroso. Sofro muito pra escrever. A alegria só vem depois que o livro fica pronto. Não é uma figura de retórica. Eu sou o que sou, ganhei a vida, eduquei meus filhos e criei minha família por causa de livros, estimulado pela intimidade com a biblioteca da minha casa primeiro e, depois, dos livros que fui comprando ou roubando”.
Iniciou sua carreira no jornalismo aos 15 anos. Em 1961, como office boy numa revista editada por um banco em Belo Horizonte, onde, precocemente, teve que cobrir a ausência do único jornalista da publicação numa entrevista coletiva.
Em 1966 mudou-se para São Paulo para trabalhar no recém-fundado ‘Jornal da Tarde’. Na capital paulista passou pelas redações de ‘Veja’, ‘Visão’, ‘Folha de S. Paulo’, ‘TV Cultura’ e portal ‘IG’.
Recebeu três vezes o Prêmio Esso; quatro vezes o Prêmio Abril e, com o livro-reportagem “Corações Sujos”, em que recria o mais sangrento episódio da história da imigração japonesa, ganhou o Prêmio Jabuti de Livro do Ano, de 2001.
Sobre a escrita, ele disse: “o jornalismo de hoje ficou muito preguiçoso. Nos livros, faço questão absoluta de descrever para meu leitor como o sujeito é. Fulano estava de tênis preto, meia listradinha, usava um casaco. Tem a barba mais ralinha aqui, mais fechada ali. E o ambiente: como é a casa do cara. Se tem gato, cachorro. Isso é algo irrelevante para a notícia, pode até ser, mas é tão melhor para o leitor. Acho que o leitor deve ser bem tratado. Quem aqui já leu algum livro meu, sabe. Todos os personagens, salvo exceções, têm descrições não só da atmosfera em torno dele, como dele mesmo”.
Seu primeiro sucesso editorial foi ‘A Ilha’ (1976), relato de uma viagem a Cuba. A partir daí, abandonou a rotina das redações para se dedicar à literatura. É autor de ‘Cem quilos de ouro’ (2003); ‘Os últimos soldados da Guerra Fria’ (2011) e ‘Na toca dos leões’ (2005)’, entre outros.
Pesquisador dedicado e exímio no tratamento de textos, publicou as biografias de Olga Benário, Assis Chateaubriand, Casimiro Montenegro Filho, Paulo Coelho, Lula que venderam mais de cinco milhões de exemplares no Brasil e em outros países.
Em 2003, tentou uma vaga na Academia Brasileira de Letras, mas foi derrotado por Marco Maciel, ex-senador e ex-vice-presidente da República. Em 2006 assumiu assento na Academia Marianense de Letras, em sua cidade natal.
Foi deputado estadual pelo PMDB em duas ocasiões, nas legislaturas de 1978 e 1982. Também assumiu a secretaria estadual de Cultura (1988-1991) e de Educação (1991-1993) de São Paulo, nos governos Orestes Quércia e Luiz Antônio Fleury Filho. Em 1998 foi candidato a vice governador da candidatura de Orestes Quércia ao governo do Estado de São Paulo nas eleições de 1998.
Desde 2023 Fernando Morais escreve uma nova história na carreira. Naquele ano ele assumiu a Inter Press Service (IPS), uma agência internacional de notícias com 59 anos de serviços, com escritórios e correspondentes nos cinco continentes. Morais foi eleito por unanimidade pela equipe de 13 diretores do veículo para um mandato de 3 anos.
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