Fiasco eleitoral à vista
As manifestações em comemoração ao 1º de Maio representam vergonhoso fiasco, de público e crítica e antecipam o que vai acontecer em todo o estado de São Paulo
“A burocracia assemelha-se a todas as castas dirigentes pelo fato de se encontrar sempre pronta a cerrar os olhos perante os mais grosseiros erros dos seus chefes em política geral se, em contrapartida, estes lhe forem absolutamente fiéis na defesa dos seus privilégios.” (Leon Trotsky, in A Revolução Traída, p. 269, Edições Antídoto, Lisboa, PORTUGAL).
As manifestações em comemoração ao 1º de Maio, data fundamental para os trabalhadores, representam vergonhoso fiasco, de público e crítica e antecipam o que vai acontecer em todo o estado de São Paulo.
Troquei impressões sobre o fato com o companheiro Demétrio Villagra, dirigente sindical cassado pelo ditadura, fundador do SindPetro, do PT e da CUT; Demétrio foi vice-prefeito de Campinas em circunstâncias delicadas, pois foi colocado no mesmo balaio de malfeitos do então prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT); mas Demétrio foi absolvido de todas as acusações que o MP apresentou; concordamos que quando se governa sem interação orgânica com a sociedade e se busca excessiva conciliação as coisas não terminam bem.
Sabemos que Lula não é, nem nunca foi, um radical de esquerda (e o país não precisa de um nesse momento); mas, “o nó” é que os movimentos sindicais, sociais e políticos estão excessivamente institucionalizados, esperam que Lula resolva tudo, que ele seja o coordenador de tudo, não é essa a tarefa de Lula (que nessa sua terceira passagem pelo Planalto vê-se obrigado a trabalhar pela desmobilização dos movimentos, para garantir alguma paz institucional).
Tendo em perspectiva essa realidade não podemos culpar Lula pelo fiasco do 1º de Maio, os responsáveis são os dirigentes, que, salvo o MST, envelheceram, engordaram e aburguesaram; não fosse verdade os movimentos e seus líderes estariam mobilizando as suas bases, num necessário esforço e contraposição às lideranças de extrema-direita que mantém os adeptos mobilizados o tempo todo, desde 2013.
Os que se apresentam como líderes hoje não passam de burocratas medíocres, incapazes de “fazer política” e, repito, não tem nenhuma conexão orgânica com a sociedade e vivem em bolhas que os afasta cada vez mais da realidade; essa eleição será lembrada como o maior fiasco para os partidos de esquerda desde a redemocratização.
O único partido, do centro para a esquerda, que, a meu juízo, mantém conexão orgânica com a sociedade e com a realidade é o PSB, pois realizou sua autorreforma. Todos os demais partidos acreditam que uma foto do Lula ao lado de seus candidatos encobrirá a incompetência da organização e a falta de militância e garantirá as eleições.
Faço essa afirmação porque o PSB no seu XV Congresso, que ocorreu em 2022, aprovou por unanimidade o novo Manifesto e o novo Programa do PSB, o que aproximou o partido e os dirigentes da sociedade e das demais verdadeiras; tratou-se de processo democrático e histórico, protagonizado pela militância do partido socialista.
Um pouco de História – Nossos dirigentes deveriam aprender com erros e acertos do passado.
A revolução russa de 1.917, por exemplo, foi o maior acontecimento da história no século XX, pois o capitalismo, sua lógica, seus principais operadores e seus estafetas foram abalados com a possibilidade de novos sistemas, econômico e político, serem implantados em todo o mundo, com a participação direta da classe trabalhadora.
A Rússia, depois a URSS, poderia ter sido um Estado operário saído de uma revolução campesina e proletária, que aboliu o regime capitalista e instaurou formas de propriedade coletiva e planificação da economia, mas perdeu-se na burocratização do poder.
A burocratização foi um processo que comprometeu a legitimidade da revolução.
É verdade que a revolução socialista teve início na Rússia atrasada e não na Alemanha, Inglaterra ou França, mais desenvolvidas em termos capitalistas, o que tornou-se um problema para seus dirigentes; não havia uma classe operária consolidada, articulada e organizada e os dirigentes revolucionários decidiram substituir a classe trabalhadora, tarefa que passou para a burocracia partidária. O PCUS passou a ser uma espécie de tutor da classe trabalhadora, o que determinou distanciamento dos dirigentes e do partido, em relação aos verdadeiros desejos e aspirações da sociedade, um distanciamento conduziu a URSS de volta ao capitalismo.
Acredito que a extrema-direita no Brasil só emergiu do chorume porque as lideranças democráticas e de esquerda se distanciaram da realidade.
Na antiga URSS dirigentes tornaram-se porta-vozes da burocracia e de seus interesses; negaram à classe que diziam representar, o direito à efetiva participação no poder e na construção do Estado socialista e levando aquele que deveria ser um Estado operário de volta ao capitalismo.
Acredito que o distanciamento da classe trabalhadora e a burocracia do PCUS lançou as sementes da perestroika e, em certa medida, Trotsky antecipou isso quando afirmou que: “… ou uma contrarrevolução social vitoriosa reconduzirá a União Soviética ao sistema capitalista ou então o desenvolvimento da revolução socialista mundial e das massas soviéticas, estimuladas pelos progressos econômicos do país, entrarão em conflito com as algemas burocráticas que saberão quebrar por meio de uma revolução política, e assim a construção do socialismo continuará no quadro da democracia soviética restaurada.” (parece que Trotsky estava certo, pois, a burocracia trouxe, sob o nome de perestroika, a tal contrarrevolução social que reconduziu a União Soviética ao sistema capitalista).
Há quem diga, inclusive, que o próprio Lênin ao verificar que estava em minoria no Bureau Politique e, tendo como seu único aliado Trotsky, buscou organizar o XII Congresso do PCUS com objetivo de recolocar a burocracia do partido no seu devido lugar. No documento “Carta e Notas ao Congresso, 23 a 31 de dezembro de 1.922” Lênin apresentou propostas de combate ao perigo burocrático, dentre elas está a necessidade de ocorrer: “… um alargamento dos órgãos dirigentes, principalmente pela introdução de ‘numerosos operários’, situados abaixo da camada que há cinco anos se meteu nas fileiras dos funcionários dos Sovietes e que pertenciam antes ao número dos simples operários e dos simples camponeses.”. Lênin mostrava claramente a sua preocupação com o excessivo fortalecimento da burocracia estatal e partidária.
Noutro congresso Shliapnikov, falando em favor da Oposição dos Trabalhadores, afirmou o seguinte: “Vladimir Ilich disse ontem que o proletariado como classe, no sentido marxista, não existe (na Rússia) Permitam-se congratular-me com vocês por serem a vanguarda de uma classe inexistente.”; o 1º de Maio de 2024 mostrou que os nossos dirigentes não representam absolutamente nada, são meros burocratas.
Eleições de 2024, fiasco contratado – Muitos dos burocratas de partidos e dos diversos movimentos, travestidos de líderes, vão conduzir o campo democrático e os partidos de centro-esquerda a derrota eleitoral em outubro e a “culpa” não é apenas das fake News, da imprensa, das elites; a culpa é deles, deixaram de ser líderes progressistas faz tempo e eles sabem disso.
Alguém escreveu que Lula, aos 78 anos, estava “...com nove ministros, abandonado num sol de lascar e sem público. Não havia bandeiras nem do PT, ou do PSOL ou do PCdoB. Tudo correu muito burocraticamente. Sem garra, sem "ganas", enquanto jovens estudantes americanos estão arriscando sua liberdade e seus futuros para denunciar o massacre em Gaza; por toda a Espanha deram-se grandes marchas. Na Argentina, em mãos do fascismo, as ruas foram ocupadas em protestos. Na Colômbia multidões foram para ruas denunciar o complô contra Petro. Em São Paulo, o vazio constrangedor. Pior que o nada: sem público, ilhado, Lula comete um "atropelo" contra a Lei Eleitoral fazendo pré-campanha para um constrangido Boulos. Avisado, tardiamente, o governo varre para baixo do tapete a evidência, retirando os vídeos do ar. Constrangedor. Estão em todas as redes. Tarde, muito tarde. A oposição fascista e o Ministério Público já estão com armas desembainhadas. (....)”.
Conclusões - Os burocratas - encastelados nos partidos, nos sindicados, ou protegidos em associações diversas -, são vírus a serem combatidos pela militância genuína. Enquanto esses seres microscópicos, parasitas intracelulares, estiverem ocupando o lugar dos verdadeiros democratas e dos verdadeiros socialistas, a direita e a extrema-direita vão prosperarem e seguirá bloqueando o debate democrático sobre o que é de fato importante. E não adianta desespero, o fiasco eleitoral já está contratado e a responsabilidade é da burocracia e da excessiva institucionalização da política, o que não é possivel é os diversos partidos seguirem ignorando a realidade, pois ela se impõe sempre.São as reflexões.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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