TV 247 logo
    Luis Felipe Miguel avatar

    Luis Felipe Miguel

    Professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB). Os textos reproduzidos nesta coluna são postados originalmente no Facebook do autor

    89 artigos

    HOME > blog

    Fidel deixa uma marca profunda na História

    "Se manter uma revolução vitoriosa é tarefa muito mais difícil do que fazer uma revolução triunfar, como de fato é, então podemos dizer que Fidel foi mais herói do que o próprio Che", diz o cientista político Luis Felipe Miguel, professor da Universidade de Brasília; "Mas o exercício do poder coloca desafios muito maiores do que a contestação do poder. Fidel os enfrentou, nem sempre da forma que gostaríamos, e deixou uma marca profunda na história do seu tempo"

    "Se manter uma revolução vitoriosa é tarefa muito mais difícil do que fazer uma revolução triunfar, como de fato é, então podemos dizer que Fidel foi mais herói do que o próprio Che", diz o cientista político Luis Felipe Miguel, professor da Universidade de Brasília; "Mas o exercício do poder coloca desafios muito maiores do que a contestação do poder. Fidel os enfrentou, nem sempre da forma que gostaríamos, e deixou uma marca profunda na história do seu tempo" (Foto: Luis Felipe Miguel)

    "A história me absolverá", disse Fidel Castro em seu famoso discurso, quando estava sendo julgado por sua primeira e frustrada tentativa de promover uma revolução em Cuba. Mas, em geral, a história promove julgamentos mais complexos do que a simples absolvição ou condenação - e creio que será assim também no caso de Fidel.

    A Revolução Cubana teve uma importância incrível para todos os povos submetidos ao imperialismo. Foi a demonstração de que era possível lutar, que era possível vencer e que era possível resistir, mesmo com o implacável cerco estadunidense. Cuba, em seguida, demonstrou que também era possível construir uma sociedade que desse condições materiais mais dignas a todas as pessoas, mesmo num país pobre. Fidel foi protagonista disso tudo.

    Mas foi protagonista também da edificação de um regime autoritário, intolerante com o dissenso, em que a participação popular foi transformada em encenação, em que o poder se personalizou. Se o isolamento a que a ilha foi submetida não contribuiu para a construção de uma sociedade mais democrática, por outro lado não dá para simplesmente jogar tudo em suas costas. O governo cubano optou por menos democracia e liberdade, mesmo quando podia ter optado por mais. A partir de certo momento, ficou claro que Cuba não servia de modelo para uma esquerda renovada. Para muita gente, a questão foi ser capaz de manter a solidariedade a Cuba, diante do embargo, e de reconhecer os avanços em campos como educação e saúde, sem com isso abrir mão da crítica em questões como direitos humanos e liberdades cidadãs.

    Fidel participou dos acertos e dos erros; entre os erros, tanto dos que foram fruto de decisões incorretas quanto dos que indicaram a adesão a valores indefensáveis. O julgamento da história é mais complexo por sua longa e produtiva vida. 

    Se manter uma revolução vitoriosa é tarefa muito mais difícil do que fazer uma revolução triunfar, como de fato é, então podemos dizer que Fidel foi mais herói do que o próprio Che. Mas o exercício do poder coloca desafios muito maiores do que a contestação do poder. Fidel os enfrentou, nem sempre da forma que gostaríamos, e deixou uma marca profunda na história do seu tempo.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

    ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: