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    Sérgio Fontenele

    Sérgio Fontenele é jornalista e comentarista político

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    Foi golpe sim, não adianta chorar!

    "Aposta-se no esquecimento, transcorrido com o intervalo de tempo iniciado nas conspirações golpistas colocadas em execução com o discurso inflamado"

    Dilma Rousseff (Foto: Antonio Augusto/Secom/TSE)

    Foi golpe. Não há o que escamotear sobre o fenômeno ocorrido em 2016, quando a presidenta Dilma Rousseff, reconhecidamente honesta, foi derrubada por uma armação do Congresso Nacional, capitaneado pelo então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Notório corrupto, o parlamentar carioca logo depois foi cassado, por quebra de decoro parlamentar; e preso, condenado no pleno do Supremo Tribunal Federal (STF), por corrupção e lavagem de dinheiro, entre outros crimes.

    Quase sete anos depois do trágico fato histórico, que maculou a democracia brasileira e destruiu parte da economia, com centenas de milhares de trabalhadores lançados à própria sorte, no panorama sombrio da incerteza, insegurança, do desemprego e empobrecimento, há a tentativa de fingir que não houve golpe. Isso foi apenas o começo de uma catástrofe tupiniquim. O retorno da fome em larga escala, a deterioração do quadro social, o desmonte de praticamente todas as políticas públicas e a falência da soberania viriam na esteira do fato.

    Aposta-se no esquecimento, transcorrido com o intervalo de tempo iniciado nas conspirações golpistas colocadas em execução com o discurso inflamado, irracional e antipatriótico do então senador Aécio Neves (PSDB-MG), que questionou a derrota nas urnas, em 2014. Com isso, ele traiu o País lançando-o a todo o horror vivenciado desde então. Investe-se também na estratégia de disputar a guerra de narrativas, na qual a posição dos golpistas, para se contrapor aos fatos insofismáveis, é a de que houve um impeachment.

    Pedalada fiscal

    Contudo, não havia crime de responsabilidade. Conforme a Constituição Federal cidadã, de 1988, impeachment só pode ocorrer em caso de crime de responsabilidade. Até uma criança sabe disso. E na falta de um, os golpistas, com o respaldo do Tribunal de Contas da União (TCU), Ministério Público e Judiciário, optaram por inventar que Dilma cometeu pedalada fiscal. Nada mais ridículo, cínico e até risível – se não fosse trágico. Anos depois, vários golpistas admitiram que houve um golpe, inclusive o próprio ex-presidente Michel Temer.

    Boa parte da população, que presenciou o golpe de 2016, sabe o que aconteceu, e não adianta espernear, como quem tenta fazer valer um processo de revisionismo, e contar a história de um ponto de vista supostamente hegemônico. O atual governo já demonstrou esforço em torno do sentido de prevalecer os acontecimentos históricos como de fato sucederam. Por isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva coloca os pingos nos is ao chamar Temer de golpista, em pronunciamento oficial feito no Uruguai.

    A disputa de narrativas travada desde 2015 vai continuar, portanto, já que a grande mídia e setores das elites querem cristalizar a ideia de que houve um impeachment legal, e não o golpe. Desta vez, aqueles perseguidos e violentados há mais de seis anos – hoje de volta ao poder – terão maiores condições de esclarecer à sociedade sobre a verdade dos fatos, outra página infeliz de nossa epopeia. É preciso usar o passado como demarcação importante na luta do presente, contra aqueles que trabalham para destruir a dignidade desta nação.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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