Fortaleza vai às urnas
A cidade de Fortaleza está mais uma vez entre a cruz e a caldeirinha
O ano era 1985. As trevas que se abateram sobre o Brasil desde 1964 davam seus últimos suspiros, enquanto o Partido dos Trabalhadores (PT) ensaiava seus primeiros passos na política brasileira. E foi assim que, surpreendendo a todos e graças à militância, Maria Luiza Fontenele tornou-se a primeira mulher a ser eleita prefeita de uma capital, no caso Fortaleza, pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Mas quem pensou que seria fácil?
Sob todos os tipos de pressão da terra dos coronéis, de olhos azuis ou não, a administração da então petista foi inviabilizada (alguns diriam sabotada) do início ao fim. Maria Luiza, no entanto, segurou a onda e, como faz toda mulher, lutou até o fim, cumprindo o mandato para o qual havia sido eleita, ou seja, de 1986 até 1989. Devido a desentendimentos com o Partido (ou teria sido do Partido com ela?), Maria Luiza foi expulsa do Partido dos Trabalhadores. Nem é preciso dizer que o PT errou feio com Maria Luiza.
Nas eleições à Prefeitura no ano de 2020, com Luizianne Lins (PT) fora do páreo, a cidade de Fortaleza elegeu José Sarto (PDT). Na ocasião, a cidade ficou entre a cruz e a espada, uma vez que tinha que escolher entre o candidato do PDT e o candidato do União Brasil, Capitão Wagner. A cidade elegeu Sarto. Dos males, o menor. É tanto verdade, que nas eleições de 2024 Sarto conseguiu o feito de ser o primeiro prefeito na história de Fortaleza a não ser reeleito. Não é preciso dizer, ao mesmo tempo que é preciso dizer, que o PT errou feio de novo. Dessa vez, com Luizianne Lins.
39 anos após a eleição de Maria Luiza, a cidade de Fortaleza está mais uma vez entre a cruz e a caldeirinha. E é preciso dizer que o PT, mais uma vez, errou feio com Luizianne Lins. É um equívoco, e o eleitor fortalezense sabe muito bem disso, atropelar lideranças políticas que têm não apenas a cara da cidade, mas o compromisso com sua população mais necessitada. Não é de bom tom, em nome do que quer que seja, impedir candidaturas com as quais a cidade se identifica, pois isso nunca termina bem. Como diz o poeta: “a lição sabemos de cor, só nos resta aprender”. Aprendamos, então!
As eleições de 2024 em Fortaleza são em quase tudo uma reedição daquela de 2020. O elemento novo consiste na chegada ao segundo turno do candidato de extrema de direita, filhote do bolsonarismo, apoiado por candidatos que até ontem se apresentavam como democratas e diziam trabalhar pelo bem-estar da população fortalezense. Contudo, como num passe de mágica barata, esses pseudodemocratas esfaquearam Fortaleza pelas costas e, sem nenhum pudor (se é que têm algum), pularam para o barco do candidato da extrema direita. Ressentidos, medíocres e oportunistas, esses políticos agora também são extremistas. E no desespero de se manterem a todo custo no poder apostaram todas as suas fichas em uma candidatura que pode, como se diz no Ceará, “papocar com linha e tudo”.
O que tais políticos desconsideram é que Fortaleza é uma cidade naturalmente progressista sem, pelo menos até então, apreço de qualquer ordem por políticos fascistas na condução da cidade. Até o momento, todas as pesquisas indicam empate técnico entre os dois candidatos à Prefeitura, o que só será decidido no silêncio da cabine de votação. Ao final do domingo 27 já saberemos o que a maioria dos eleitores e eleitoras da cidade dos “verdes mares bravios” terá escolhido para si. Fascistas não se criam em Fortaleza. E que assim seja!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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