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    Miguel Paiva

    Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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    Freud explica

    "Tudo aquilo que aprendemos na terapia, quem fez terapia, vai por água abaixo no que estamos vivendo nesses anos de Bolsonaro", escreve Miguel Paiva

    (Foto: Miguel Paiva)

    Só há um entendimento para o que estamos vivendo no Brasil e neste fato só Freud explica. Impressionante, como a irresponsabilidade de quem colocou o futuro do país em risco por conta de um neoliberalismo cego hoje é perdoada e ignorada por muita gente, sobretudo pela imprensa oficial, a burguesia e o chamado senso comum.

    Tudo aquilo que aprendemos na terapia, quem fez terapia, vai por água abaixo no que estamos vivendo nesses anos de Bolsonaro. Somos obrigados a conviver com sentimentos comprometedores como culpa, vergonha, senso de rejeição, impotência e sobretudo uma autoestima baixíssima incapaz de reagir à tamanha humilhação.

    Esta viagem de Bolsonaro ao exterior me causa engulhos. É uma vergonha planetária institucionalizada onde a ignorância, a submissão e a desimportância assumem dimensões enormes. Somos vistos pelo resto do mundo como um país que tem um presidente ridículo e que quer levar todos ao mesmo lugar.

    Na terapia passamos muito tempo tentando descobrir o que nos fez chegar a certas situações. A influência do passado, da relação paterna ou materna que explica mais ou menos tudo. Agora, na politica é parecido. Precisamos olhar pra trás e ver como muitos foram vítimas de todas as infâmias criadas após a derrota de Aécio Neves nas eleições e de tudo o que veio depois. Impediram a presidenta Dilma de governar e numa articulação organizada armaram o golpe. Isso explica tudo o que estamos passando do mesmo jeito que as atitudes dos nossos pais ou mães explicam nossas neuroses de hoje. Fomos tratados com violência? Fica difícil agir de um modo que não deixe transparecer esta violência. Mas, tentamos corrigir. Saber que isso existe já é importante. 

    Saber o que aconteceu na nossa história recente também. Entender porque chegamos a esse ponto é quase tão importante quanto a descoberta da solução. Saber disso já faz parte da solução. Havemos de ter alta um dia e comemoraremos nossa saúde mental junto com todos. A psicanálise e a política dão as mãos para levar tanto ao indivíduo quanto à nação a uma sensação se soberania, de libertação e de saúde.

    Precisamos superar esse momento de submissão, de total falta de amor próprio que nos leva a considerar normais os fatos que estamos assistindo. Nada disso é normal. É normal dentro de um cenário como este que vivemos agora de morte, de destruição, de desestímulo, de demonização da política no sentido geral. A política é como a terapia que nos leva à transformação. É preciso entender o que vivemos, o que estamos vivendo e o que vamos viver para poder tirar uma reta em direção ao sucesso, à transformação, à construção da felicidade. 

    Freud, hoje em dia, já foi superado enquanto dinâmica de terapia, mas seus ensinamentos permanecem assim como os do velho Karl Marx. Nada como conhecer bem para poder transformar. Queremos escolas, queremos casa, comida, diversão e arte e queremos saúde, física e mental para construir um país melhor.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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