Ganhamos uma batalha, mas a guerra continua
"Cabe a Lula e aos aliados um esforço para mobilizar a população, colocando o país de pé para impedir um retrocesso", alerta Paulo Moreira Leite
Em 2022, a lamentável história dos golpes de Estado cometidos em nosso país apresentou um capítulo grave e preocupante, como se descobre pela leitura da Petição 13.236, assinada pelo ministro do STF Alexandre Moraes em 17 de novembro de 2024.
Em 74 páginas redigidas em linguagem acessível, distante do burocratês que é padrão em trabalhos semelhantes, o documento apresenta uma narrativa consistente sobre uma conspiração de militares de extrema-direita que, no final de 2022 se mobilizaram de forma criminosa e ilegal para impedidr a posse Lula-Alckmin no Planalto.
Dispensando adjetivos e interpretações fora de lugar, a Petição 13.326 prioriza os fatos e apenas eles, evitando elucubrações excessivas e afirmações que não seria possível demonstrar.
Graças a sua consistência, a Petição cumpre o único objetivo legítimo de um documento dessa natureza: narrar os movimentos ocultos de uma operação que pretendia impedir -- pela violencia mais selvagem, inclusive assassinato de adverários políticos -- a posse do governo Lula-Alckmin, eleito pela maioria dos brasileiros.
Numa orientação criminosa que é descrita sem adjetivos, a Petição deixa claro que o golpismo de 2022 guarda diferenças importantes em comparação com os antecessores, a começar pelos métodos de ação política -- abertamente criminosos e violentos, próprios de uma operação de guerra contra o próprio povo de seu país.
Mesmo conservando a bússola reacionária que orientou o 31 de março de 64, que derrubou o governo Goulart, e também o dezembro de 1968, que criou a excrescência autoritária chamada AI-5, a geração golpista de 2022 tentou ir além.
Programou e ensaiou o assassinato de lideranças políticas nacionais, numa relação na qual os dois primeiros da lista eram ninguém menos que o moderado Luiz Inácio Lula da Silva, o mais popular lider político da história do país, e o vice, Geraldo Alckmin, homem público de conhecida formação conservadora, inclusive no plano religioso.
O terceiro alvo seria Alexandre de Moraes, ministro do STF, onde foi instalado por determinação do então presidente Michel Temer.
Responsável por iniciativas decisivas no esforço para barrar um golpe de Estado em fase de preparativos, quando os resultados oficiais da eleição presidencial de 2022 já haviam sido anunciados mas Lula não assumira o terceiro mandato, Alexandre de Moraes tornou-se, ao lado de Lula e Alckmin, um dos três alvos principais dos militares organizados na operação Copa 2022, nome de guerra do golpe entre os conspiradores.
Num comportamento comum nos preparativos de um atentado político, o ministro da Justiça era monitorado pelos espiões de farda, em ações operacionais que "tinham como finalidade assegurar a prisão da referida autoridade, caso o golpe se consumasse, ou de maneira alternativa, sua execução", informa-se na página 3 da Petição 13.236, documento que denuncia um projeto de ditadura sem receio de chamar as coisas por seu nome.
Ao conceber propostas de assassinar adversários, inclusive lideranças populares, a extrema direita demonstrou um novo grau de perversidade, ainda menos compatível com a tolerância tão celebrada pelos estudiosos da formação cultural brasileira.
Capaz de mandar prender golpistas numa situação de beira de abismo, os próximos passos do governo Lula e do universo político que ele representa serão decisivos na preservação de um regime de liberdades indispensável à vida de brasileiros e brasileiras.
À Justiça caberá julgar e punir os responsáveis por uma ação criminosa, sem aceitar panos quentes nem favores que só alimentarão novas investidas contra a democracia -- mas cedo do que se quer imaginar.
Cabe a Lula e aos aliados, desde já, um esforço político para mobilizar a população, colocando o país de pé para impedir um retrocesso que só beneficiará a grã-finos e parasitas de sempre.
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