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    Paulo Moreira Leite

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    Golpe dentro do golpe na Bolívia pode mudar a América do Sul

    Justiça boliviana adia eleição presidencial em função do coronavírus, mas não oferece nenhuma garantia de que o pleito será retomado quando a pandemia tiver passado, escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

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    Marcadas para 3 de maio, as eleições para a escolha do novo presidente da Bolívia acabam de ser adiadas por decisão da Justiça Eleitoral daquele país.

    Embora o governo tenha justificado a medida em função da pandemia do coronavírus, há uma questão democrática aqui.   

    Em vez marcar uma nova data para o pleito -- num dia qualquer de dezembro, por exemplo -- a Justiça eleitoral decidiu adiar as eleições por "tempo indeterminado".

    Evitou-se, assim, um compromisso firme com a retomada do processo eleitoral, cautela essencial num país com imensa história de instabilidade política. No episódio mais recente, em novembro de 2019 ocorreu a um golpe de Estado que forçou a renúncia de Evo Morales, permitindo a posse  da autoproclamada presidente, Janine Añez, até hoje no cargo.  

    Até agora, as últimas pesquisas indicavam que,  com 31 pontos,  o sindicalista Luis Arce, aliado de Evo Morales, já estava consolidado em primeiro lugar. Já acumulava mais do que o dobro das intenções de voto de Carlos Mesa, adversário que disputou a eleição com Evo Morales, ficando a própria Añez em terceiro.

    Outro aspecto é a geopolítica continental.  Donald Trump retomou o discurso agressivo contra a Venezuela de Maduro, aliada provável de um eventual governo do afilhado de Evo Morales.

    Outro fator é a posição do Brasil. Uma das utilidades do acordo diplomático-militar assinado por Jair Bolsonaro com os EUA será reforçar os laços entre Brasília e Washington, permitindo uma pareceria mais ajustada, inclusive para ações na região.

    Em 3 de novembro, o eleitorado dos Estados Unidos irá às urnas para votar para presidente. É  possível que só depois disso a população boliviana tenha direito de escolher seu novo presidente em urna, retomando um processo interrompido um ano antes, pelo golpe que forçou Evo a renunciar.

    Alguma dúvida? 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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