Governantes anti-floresta na Amazônia não sentirão nem o cheiro dos bilhões de Joe Biden
Se não puder trabalhar com os atuais e futuros governantes anti-floresta, Biden poderá certamente contar com o trabalho do terceiro setor da sociedade brasileira, formado pelas organizações não-governamentais, que tanto bem fez nas últimas décadas à grande floresta e a seus mais antigos habitantes
Governados por gestores anti-ambientalistas e anti-indígenas, os estados da Amazônia certamente não devem sentir nem o cheiro dos mais de R$ 100 bilhões que o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu formar a nível internacional para proteger a região e ajudar os índios e demais povos tradicionais a continuar exercendo seu papel de mais antigos guardiões da maior, mais rica e mais bonita floresta tropical do mundo.
Nesse contexto, o Acre do sindicalista e seringueiro Chico Mendes, que mudou o rumo da história pregando, defendendo e até morrendo pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia, é hoje o estado de pior exemplo da região quando se trata de preservar sua ampla bacia hidrográfica e sua rica biodiversidade florestal, além dos cuidados que deveria ter com os ocupantes seculares de seus mais de 14 milhões de hectares florestais.
Governado pelo bolsonarista Gladson Cameli (PP), o estado mais ocidental do país sofre há dois anos com o completo abandono de milhares de índios, seringueiros, ribeirinhos e pequenos produtores rurais, que já não dispõem sequer de ramais trafegáveis para tirar sua produção agrícola a fim de fazerem renda e darem de comer aos habitantes das cidades acreanas.
Envolto nas mentiras e promessas de Jair Bolsonaro por um Brasil melhor e também vítima da onda antipetista que se abateu sobre o país de Norte a Sul nas eleições de 2018, o Acre, governado 20 anos pelo PT, saiu em pouco tempo da sua posição histórica de modelo de desenvolvimento sustentável da Amazônia. Situação reconhecida por instituições nacionais e internacionais, como o IPEA e o Banco Mundial.
A exemplo de outros estados da Amazônia, trata-se no Acre de um governo genuinamente anti-ambientalista e anti-indígena, que adotou como uma de suas primeiras ações a de extinguir de seus quadros funcionais uma Assessoria Especial que, na época do PT, cuidava dos todos os assuntos relacionados aos mais de 20 mil índios presentes em dezenas de aldeias espalhadas na floresta que faz fronteira com os vizinhos Peru e Bolívia.
Em sua campanha eleitoral de 2018, o governador Gladson Cameli visitou rapidamente apenas uma dessas aldeias para fazer promessas de melhores dias para os índios. Passado quase a metade de seu mandato, Cameli foi recentemente, junto com a esposa, a uma segunda aldeia para fazer novas promessas e tirar fotos com a esposa e os índios para divulgar na mídia local. Mesmo sem levar nenhuma ação pública para ajudá-los a vencer pelo menos as graves vicissitudes que estão sendo criadas nas aldeias, há longos nove meses, pela pandemia da Covid-19.
O presidente eleito Joe Biden prometeu trazer a montanha de dinheiro para preservar e desenvolver a Amazônia de forma sustentável porque sabe o que se passa há tempos na grande floresta, que foi intensamente bombardeada, com imensos desmates e gigantescas queimadas, nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro, com a omissão e a complacência de governantes anti-floresta da região.
Baden se familiarizou com o Brasil por ter se aproximado de governos da América Latina quando foi vice do presidente Barack Obama, tendo desenvolvido uma boa relação com a então presidenta Dilma Rousseff. Por isso, os analistas políticos que conhecem o democrata Joe Biden apostam que ele deverá fazer muita pressão política no Brasil para que medidas de preservação da Amazônia, dos povos indígenas e dos direitos humanos sejam concretizadas no país.
“Com Biden vai haver conversas sobre Amazônia e direitos indígenas porque isso é politicamente importante para ele”, afirmou ao jornal O Globo o consultor político e jornalista Thomas Traumann. Membro do conselho curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), embaixador do Brasil nos Estados Unidos de 2004 a 2006 e diplomata durante 45 anos, Roberto Abdenur também destacou ao jornal carioca o motivo da iniciativa do novo presidente norte-americano.
“Não foi gratuitamente que Biden suscitou a questão dos problemas ambientais no Brasil, por iniciativa própria. Sem ser provocado, ele disse que esperava reunir internacionalmente um fundo de US$ 20 bilhões para ajudar o Brasil na preservação, mas se o Brasil não aceitasse, haveria consequências...”, afirmou Abdenur.
Desta forma, o comandante eleito na maior economia do planeta certamente só deverá ajudar os governos amazônicos que se propuserem a mudar a pauta de suas políticas públicas, focando-a em ações que respeitem os direitos ancestrais dos povos indígenas e adote o desenvolvimento sustentável da grande floresta, já considerada por toda a ciência mundial como essencial ao próprio equilíbrio climático do planeta.
Se não puder trabalhar com os atuais e futuros governantes anti-floresta, Biden poderá certamente contar com o trabalho do terceiro setor da sociedade brasileira, formado pelas organizações não-governamentais, que tanto bem fez nas últimas décadas à grande floresta e a seus mais antigos habitantes.
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