Guerra cultural é sobre comida e sexualidade; oposição entre os temas é um erro
O jornalista Mauro Lopes, editor do 247 e do projeto Jornalistas pela Democracia, escreve sobre a guerra cultural em curso na sociedade e diverge de segmentos da esquerda que propõe que os temas centrais sejam os econômicos (salário, emprego, Previdência) e que a agenda sobre a sexualidade dos bolsonaristas seria uma "cortina de fumaça"; "A sexualidade é tema tão 'concreto' e do cotidiano quanto comida. Por sinal, se há um tema central em toda a história da humanidade e da vida de cada uma e cada um de nós como pessoas é a sexualidade"
Por Mauro Lopes, editor do 247, e dos Jornalistas pela Democracia - Há uma ideia com alguma popularidade na esquerda de que deveríamos nos concentrar nos temas "do cotidiano" no combate ao governo Bolsonaro. Traduzindo: os temas da economia, salário, emprego, fome, aposentadoria seriam os temas que importam, segundo esta concepção.
Os que defendem tal tese argumentam que embarcar nos debates do "azul e rosa" ou na temática LGBTT seria cair na "armadilha" do bolsonarismo. Estes temas seriam "cortina de fumaça" para "aquilo que verdadeiramente importa", os temas vinculados ao "concreto da vida".
Discordo dessa visão.
A sexualidade é tema tão "concreto" e do cotidiano quanto comida. Por sinal, se há um tema central em toda a história da humanidade e da vida de cada uma e cada um de nós como pessoas é a sexualidade.
É claro que a luta pela subsistência, pela sobrevivência, por condições dignas de vida é central. Mas a oposição que parte da esquerda propõe é falsa. Não existe "ou" e sim "e". Vida digna é comida na mesa e sexualidade livre na cama (e em tantos outros lugares!).
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A luta de classes é uma luta feroz pela apropriação da renda nacional -e isto diz respeito aos temas vinculados à esfera da economia. Mas a luta de classes também é uma luta feroz pelo controle de corações e mentes e pelo controle do desejo, da libido e, portanto, da sexualidade. Travar a luta em apenas um dos campos é entregar a vitória à direita e, neste momento, à extrema-direita e aos fundamentalistas.
Há uma guerra cultural em curso. Não é à toa que a extrema direita demoniza tanto Gramsci, que teve uma percepção aguda para a disputa da hegemonia na sociedade.
A guerra cultural refere-se tanto à comida no prato quanto ao controle da cama. É uma única guerra.
A gente não quer só comida, cantaram os Titãs no longínquo 1987. A gente quer comida. E quer sexo. Comida e sexo em liberdade e abundância, sem controle.
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* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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