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    Ediel Ribeiro

    Jornalista, cartunista e escritor

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    Há 4 anos morria Olga Savary, a mãe do pasquim

    Olga nasceu em Belém do Pará, no dia 21 de maio de 1933 e faleceu no Rio de Janeiro, no dia 15 de maio de 2020.

    Olga Savary (Foto: Reprodução)

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    Mãe só tem uma.

    Pai, ele teve vários: Tarso de Castro (editor), Jaguar (editor de humor), Sérgio Cabral (editor de textos), Carlos Prosperi (editor gráfico) e Claudio Ceccon.

    O velho jargão, “mãe só tem uma”, ainda que em desuso, serve muito bem para ilustrar a história do semanário “O Pasquim” - depois apenas “Pasquim”, sem o artigo.

    Reza a “lenda”, ou a “história” ( “se a lenda é mais interessante que a história, imprima-se a lenda”, ensinou o “historiador” do Oeste americano John Ford, em “O Homem Que Matou o Facínora”) , que a fundação do “Pasquim” aconteceu mais ou menos assim:

    Com a morte do humorista Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, Tarso de Castro, que na época fazia um baita sucesso com sua coluna no jornal "Última Hora", foi convidado por Murilo Pereira Reis - dono da Distribuidora de Imprensa - para editar o jornal “A Carapuça”.

    Tarso de Castro não aceitou, preferindo criar um novo tablóide. “Vamos fazer um jornal marginal” - disse ele.

    Tarso convidou Jaguar e Sérgio Cabral para a empreitada. Os primeiros a se juntar ao grupo foram Carlos Prosperi e Claudio Ceccon, o Claudius.

    Millôr Fernandes também foi convidado para participar de “O Pasquim”, por Tarso, mas recusou — chegou a escrever um artigo prevendo o final da publicação em poucos números.

    Tarso não deixou barato: “Coisas que se explicam pelo fato de que Millôr considera insuportável qualquer coisa que dê certo e que não o tenha como autor”. Ziraldo também preferiu ficar apenas como colaborador.

    Assim, as negociações resultaram numa sociedade por cotas para dirigir o jornal: 50 por cento para Murilo Reis e 50 por cento divididos em cotas iguais para Jaguar, Tarso de Castro, Sérgio Cabral, Carlos Prosperi e Claudius.

    Até aí, tudo bem. O que a “lenda” ou a “história” dos “meninos” esqueceu de contar é que havia outro fundador (a): Olga Savary.

    Olga era casada com Jaguar, com quem teve dois filhos - Flávia Savary , também escritora e Pedro, morto em 1999, aos 41 anos. Participou ativamente das reuniões de criação do tablóide - que acontecia em sua casa ou nos botecos de Ipanema e Leblon.

    Participava e editava as famosas entrevistas. Criou a seção “Dicas”, a mais lida do jornal. Foi a primeira mulher a dar preços e sugestões de restaurantes, tendência depois seguida por quase todos os jornais.

    Na década de 70, criou a editora Codecri, ligada ao semanário.

    No entanto, o livro “O Som do Pasquim”, uma coletânea de entrevistas publicadas no tablóide, é a única publicação que cita o nome de Olga Savary, ligando-a ao semanário. Na página 86, ela faz “uma” pergunta a Waldick Soriano, numa entrevista que fizeram com o cantor, na Freguesia, Ilha do Governador.

    Olga Savary é uma das mulheres mais inteligentes do Brasil. Nascida em Belém do Pará, em 1933, vivia no Rio de Janeiro. Filha de pai russo e mãe paraense, se orgulhava de ter uma bisavó materna de origem indígena. Poetisa, escritora, ensaísta, tradutora e jornalista. Ganhou trinta e seis prêmios nacionais de literatura (entre eles dois Jabutis). Foi tradutora de Pablo Neruda, Júlio Cortázar, Jorge Luis Borges, Carlos Fuentes e Mario Vargas Llosa. Foi, ainda, a primeira mulher a publicar um livro de poesias eróticas e escrever e traduzir haicais (a sintética poesia japonesa).

    Festeira, foi a primeira mulher a frequentar bares, antes só frequentados por homens, e foi, também, criadora do “Bloco de Ipanema”, que resultou depois na “Banda de Ipanema”.

    Assim, por mais que omitam seu nome nos registros, ficará na "história" e na "lenda" como uma das criadoras do ‘Pasquim’”.

    É verdade que mais na lenda do que na história — porque ela, afinal, é só a mãe.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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