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    Wadih Damous

    Presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB e da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro

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    Haddad e a encruzilhada histórica

    "Um governo de esquerda não deverá tentar reformar ou fazer um capitalismo melhor, mas sim enfrentar o fascismo e por fim ao golpe em vários aspectos sociais. Na relação entre capital e trabalho, na questão ambiental, no emprego, na reforma agrária, na educação e saúde", afirma o deputado Wadih Damous (PT-RJ); "O desafio de Haddad e da classe trabalhadora em caso de vitória são hercúleos e menosprezá-los pode trazer certo conforto, mas é tornar o fracasso uma realidade possível", diz ele, acrescentando que Haddad terá de enfrentar um "Congresso possivelmente ainda mais conservador, um Judiciário fascistizado e sem qualquer respeito pela Constituição, um partido político chamado Rede Globo"

    Haddad e a encruzilhada histórica (Foto: Stuckert)

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    O Brasil, desde 2008, vive uma profunda e grave crise econômica. O capitalismo se sustenta com cíclicas crises em que a burguesia aprofunda fossos sociais, transferindo o ônus da crise para os trabalhadores, com o aumento do lucro pela exploração do mais valor.

    Lula segurou a crise e utilizou, com maestria, instrumentos públicos como BNDES e Caixa Federal, mas em 2013 ela se aprofundou e parcela da burguesia que antes estava no governo do PT tentou a via eleitoral em 2014 com Aécio, mas o povo brasileiro não permitiu. Depois, o que se viu foi o boicote ao governo de Dilma e conspiração até o golpe de 2016.

    O golpe que derrubou a presidenta Dilma aconteceu porque em toda crise econômica a burguesia precisa ter o controle absoluto do Estado para salvar os seus e transferir o peso da crise para a classe trabalhadora.

    Grandes empresas e bancos se salvam à custa do congelamento do investimento na saúde, educação, fim dos direitos trabalhistas, da reforma agrária e da construção de moradias.

    O golpe de 2016 fez com o trabalhador pagasse com a própria pele pela avidez financeira e é fruto da irresponsabilidade das elites.

    Mas, o golpe não resolveu o problema da crise econômica, apenas a transformou numa crise social, ambiental e política.

    O custo social do golpe foi deixar 66 milhões de brasileiros fora do mercado de trabalho e o aumento da desigualdade a ponto de os 6 maiores ricos do país terem patrimônio equivalente a 104 milhões de brasileiros. Além de insustentável, isto é a própria barbárie.

    A entrega do pré-sal para 16 empresas e a quebra da destinação de 50% da exploração para saúde, educação e meio ambiente, levará o país ao fosso da exclusão e da degradação do meio ambiente sem precedentes. No entanto, essas medidas causaram a pior crise de legitimidade e aprovação de um governo na história: apenas 3% apoiam o governo golpista.

    Para implementar a barbárie, precisavam tentar destruir o presidente mais popular da história. Uma campanha sem precedentes, com capas e mais capas de revistas e horas e mais horas de Jornal Nacional, tentaram acabar com a esquerda, com Lula e o PT sob o pretexto de “combater a corrupção”.

    Ao mesmo tempo, escondiam do povo que a verdadeira e profunda raiz da corrupção está nos bancos e no sistema financeiro, com 40% do PIB destinado a pagar juros. Qual banqueiro foi preso pela lava-jato?

    A Globo para isso transforma Sergio Moro em herói e instila e cria as condições germinais para o nascimento do fascismo. Não vai muito longe, usar vermelho, defender as cotas e usar camiseta do Che Guevara passou a ser motivo para o ódio de parcela da classe média.

    O resultado disso deu em Bolsonaro. A Globo é mãe e pai desse fascismo de nova roupagem e agora não sabe o que faz com ele.

    O plano original era eleger alguém como Alckmin para continuar a agenda de venda do patrimônio nacional e desmonte do pouco de Estado de bem-estar social existente no Brasil, agora com uma legitimidade das urnas. Mas o germe do fascismo floresceu e fez terra arrasada com PSDB e DEM.

    De parte das forças de esquerda, ficou cristalizado que a classe trabalhadora se une em torno de Lula. Por isso o prenderam e, por isso, não deixaram sua candidatura ser registrada. O patrimônio politico de Lula não guarda comparação com nenhum outro político da história, talvez com Getúlio.

    Preso, isolado, sem poder falar e andar pelo país, Lula tem 40% da preferência dos eleitores e isso fez com que Haddad rapidamente atingisse patamares eleitorais que só o fenômeno Lula pode explicar.

    Ao que tudo indica, caberá ao PT enfrentar o fascismo e Bolsonaro. Provavelmente, Haddad será eleito ao final, porque não há espaço para a pauta de Bolsonaro, além do patamar eleitoral que ele possui hoje.

    Transformar o país numa guerra, com ódio, preconceitos e licença para matar não parece ter correspondência na maior parte da população, ainda que, pela alienação, 30% insistam em defender essa candidatura.

    Não se trata, portanto, de um governo de transição ou de apenas administrar o Executivo, mas um governo que terá que mudar um paradigma histórico das forças produtivas e alterar a correlação de forças.

    Um governo de esquerda não deverá tentar reformar ou fazer um capitalismo melhor, mas sim enfrentar o fascismo e por fim ao golpe em vários aspectos sociais. Na relação entre capital e trabalho, na questão ambiental, no emprego, na reforma agrária, na educação e saúde.

    O desafio de Haddad e da classe trabalhadora em caso de vitória são hercúleos e menosprezá-los pode trazer certo conforto, mas é tornar o fracasso uma realidade possível.

    Assim, Haddad terá que lidar e enfrentar um Congresso possivelmente ainda mais conservador, um Judiciário fascistizado e sem qualquer respeito pela Constituição, um partido político chamado Rede Globo e com uma crise econômica, social, política e ambiental.

    Portanto, somente uma reorganização das forças de esquerda e a edificação de um governo democrático e popular de mobilização permanente, poderá tirar o país dessa profunda crise.

    Com isso, é possível renovar a esperança de que amanhã vai ser outro dia.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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