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    Helena Chagas

    Helena Chagas é jornalista, foi ministra da Secom e integra o Jornalistas pela Democracia

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    Haddad e os perigos de quem fica muito forte

    "São muitos os riscos que cercam um ministro forte. Ambições, ciúmes, interesses contrariados", diz Helena Chagas

    Fernando Haddad (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

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    Foi ele mesmo quem disse com franqueza, em entrevista à Globonews, estar se sentindo “menos na frigideira”. Fernando Haddad parece ter vencido o fogo amigo e inimigo, a descrença do mercado e de parte do PIB, e chega ao fim do primeiro semestre como o ministro mais forte do governo. Além da condução bem-sucedida da pasta e da colheita de bons números na economia — mais um "sortudo" no governo, dirão os mal-humorados —, o titular da Fazenda credenciou-se como interlocutor confiável junto ao establishment e articulador político preferido do Congresso. O resultado inevitável dessa conjuntura é o fortalecimento de seu  nome para a sucessão de Lula, caso o presidente desista de se candidatar à reeleição.

    Um perigo. É claro que passar por um processo de fortalecimento é muito melhor do que se desgastar e ficar fraco.  Mas quem fica forte vai para o alvo. E o problema hoje para Haddad — que, obviamente, vem se negando com veemência a falar de 2026 — é que ainda restam três anos para essa definição. Tempo em que um político pode até permanecer num céu da popularidade, mas durante o qual pode também descer aos círculos do inferno. Tratando-se do titular da Fazenda, então, essa incerteza é grande.

    Antes de tudo, a eventual candidatura presidencial dependerá, além da vontade de Lula de não se recandidatar e escolhê-lo como herdeiro, da manutenção do bom desempenho da economia e seu impacto positivo na vida das pessoas até lá. Crises econômicas, de origem externa ou interna, podem mudar o cenário de uma hora para outra e riscar o nome do ministro da Fazenda da lista.

    Mas tão importante quanto isso será a habilidade de Haddad de não tropeçar em armadilhas que adversários e aliados vão deixar no caminho. São muitos os riscos que cercam um ministro forte. Ambições, ciúmes, interesses contrariados. Torpedos virão de todos os lados, e a experiência mostra que, às vezes, os domésticos são mais danosos do que os estrangeiros.

    Haddad terá que lidar com o fogo amigo do PT — que, em tese, vai lhe dar novamente legenda para se candidatar a presidente.  O partido vê com reservas seu bom relacionamento com setores do establishment econômico, e  joga sempre para puxar o governo à esquerda. Está no seu papel, e caberá ao presidente da República pilotar o fogão.

    Lula consegue regular a chama, que foi sensivelmente reduzida, por exemplo, quando ele — até então com comportamento algo ambíguo — deixou claro que, sim, apoiava o arcabouço fiscal de controle dos gastos públicos apresentado por Haddad e criticado pelo PT. E deu ordem unida no partido para que todos votassem a favor — diferentemente do que ocorrera em episódios anteriores, quando Haddad foi desautorizado por pressão petista, como no caso da reoneração dos combustíveis.

    Para se manter viável, portanto, o ministro  precisa ter o apoio irrestrito do chefe e driblar as intrigas do serpentário governista. Amigo leal de Lula há muitos anos, Haddad conhece bem a psicologia do presidente — que, a essa altura da vida, detesta superministros.

    Qualquer desconfiança de que Haddad trabalhe numa candidatura pode azedar o clima entre os dois, elevar a temperatura do fogo amigo e torrar o ministro. Afinal, a chama apenas diminuiu, mas não foi apagada. Já se ouve, entre petistas, críticas a novas medidas debatidas na Fazenda. Ao mesmo tempo, a boa vontade do mercado e da mídia neoliberal com Haddad,  em  seguidas manchetes e sob os holofotes, pode ajudá-lo a transitar politicamente junto ao centro — o que é positivo para uma futura candidatura —- mas é um ponto negativo em seu partido. O ministro, por sua vez, vem se blindando com uma postura disciplinada. Em todas as oportunidades, deixa claro que quem tudo decide está no Planalto, e não na Fazenda.

    O caminho até 2026 é longo e acidentado, e caberá a Lula, à luz da conjuntura, definir os rumos da centro-esquerda caso não seja candidato novamente. À primeira vista, as alianças que vem fazendo à direita, inclusive com o centrão, para assegurar a governabilidade, apontariam para um nome que dialogue com elas, como o de seu ministro da Fazenda. Perfis mais à esquerda podem jogar esses partidos nos braços de um candidato da direita moderada, como Tarcísio de Freitas.

    Nesse caso, é possível que a polêmica imagem que selou o acordo para aprovação da reforma tributária na Câmara, mostrando, lado a lado, o ministro da Fazenda e o governador de São Paulo, tenha mostrado, premonitoriamente, os protagonistas da próxima disputa presidencial. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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