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Bepe Damasco

Jornalista, editor do Blog do Bepe

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Haja paciência para o "pachequismo" das transmissões da Globo nas Olímpiadas

"O 'pachequismo' costuma ser associado a um nacionalismo cego, ufanista, exacerbado, beirando a xenofobia", explica Bepe Damasco

Captura de tela do personagem 'Pacheco' em comercial da Gillette (Foto: Reprodução/YouTube/Setha Produções)

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Para a Copa do Mundo da Espanha, em 1982, a Gillette do Brasil criou um personagem chamado Pacheco, típico torcedor histriônico e fanático. Na esteira do futebol bonito e artístico que os comandados de Telê Santana mostravam em campo, até cair para a Itália, no fatídico jogo do estádio Sarriá, Pacheco fazia cada vez mais sucesso.

A Gillette nunca deve ter vendido tanta lâmina como naquela época.

Passados 42 anos, o conceito de "pachequismo" costuma ser associado a um nacionalismo cego, ufanista, exacerbado, beirando a xenofobia, e que se manifesta para muito além do futebol

Pois nunca se viu tanto "pachequismo" por parte de profissionais da imprensa esportiva como nas transmissões das Olimpíadas de Paris.

Abre parênteses: para quem gosta de esportes, e trabalha basicamente de home office, como eu, a cobertura do grupo Globo, especialmente de seus canais fechados, tem sido de uma abrangência elogiável. Outro acerto foi ampliar a contratação de atletas e ex-atletas como comentaristas, embora nem todos fiquem à vontade diante das câmeras e dos microfones, o que é normal. Fecha parênteses.

Tudo bem que os narradores das mais diversas modalidades esportivas torçam para os nossos atletas, afinal, cada medalha é mesmo uma façanha em um país que ainda tem um longo caminho pela frente até virar uma força esportiva digna de um lugar de destaque no quadro de medalhas. Os casos de superação pessoal merecem mesmo destaque.

O problema é quando o jornalismo e o bom senso são deixados de lado em nome da torcida "pachequista" para os brasileiros e brasileiras, em geral com uma gritaria desnecessária e, às vezes, desproporcional ao resultado obtido.

Um dia desse, em uma partida de vôlei de praia entre a valorosa dupla brasileira Carol Solberg e Bárbara Seixas e uma dupla australiana, o locutor e a comentarista resolveram brigar com os fatos do início ao fim do jogo.

Enquanto as australianas dominavam amplamente  o jogo, o narrador repetia como um mantra que as meninas do Brasil estavam na iminência de crescer na partida e virar o jogo, quando nada indicava que isso pudesse ocorrer.

As australianas venceram com tranquilidade por 2 x 0.

Outra discrepância que salta aos olhos é a distância entre a patriotada e o quadro de medalhas. Não se trata apenas de ser rabugento e implicante. Vibrei com as proezas espetaculares de Rebeca Andrade, junto com a torcida brasileira, e com as medalhas do judô, embora o considere uma luta chatíssima.

O time de futebol feminino ter chegado à final e o protagonismo absoluto das mulheres brasileiras nas conquistas das nossas medalhas são fatos de grande relevância.

Mas seria pedir demais um pouco de comedimento e sobriedade à maioria dos narradores, comentaristas e repórteres ? 

Evitaria, pelo menos, constrangimentos e coisas estranhas, como o enaltecimento verborrágico da performance brasileira ser sucedida pela apresentação do quadro de medalhas, com o Brasil longe, muito longe das primeiras colocações.

Acabo de consultar: neste momento, o Brasil ostenta o 17º lugar.  

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