Homens loucos por dinheiro lucram com a Guerra ou a quem serve a política do ódio?
Clausewitz disse: “a guerra é a continuação da política por outros meios”; Foucault contradisse: “a política é a continuação da guerra por outros meios”
Por Marcia Tiburi
- Clausewitz disse: “a guerra é a continuação da política por outros meios”; Foucault contradisse: “a política é a continuação da guerra por outros meios”. A contraposição entre as proposições dos pensadores define a complementaridade dialética entre guerra e política.
- A política é um assunto de homens na história do patriarcado. A guerra também é um assunto de homens na história do patriarcado. A masculinidade sempre foi um parâmetro tanto político quanto da guerra. Como categoria ideológica e parâmetro estético, a masculinidade define ao longo dos séculos o sentido do próprio poder e de quem pode ocupá-lo. Hoje, mais do que nunca, essa consciência tornou-se um parâmetro do capital político.
- Demonstrar força e capacidade de violência tem sido um elemento fundamental nos jogos de poder. Candidatos tem usado aparecer como homens brutos. Quem aposta no discurso de ódio se torna vencedor. A guerra é o ódio organizado e politizado. Tendo em vista que a política foi reduzida à publicidade na era do espetáculo, o mesmo aconteceu com a guerra.
- Na sociedade do espetáculo a imagem é o grande capital e a guerra adquire o caráter de cena que, como tal, pode ser vendida para amedrontar e extasiar pessoas. Mas a guerra é também uma publicidade da indústria e do mercado de armas que move o medo e outros afetos negativos como a inveja sem a qual não há consumismo.
- O grande capital espetacular casou-se numa união perigosa com a indústria das armas. Capitalismo e espetáculo sempre andaram juntos, mas agora o perigo do extermínio mundial causa estranhamento porque a cortina de fumaça dos direitos humanos e da paz mundial pode desaparecer. Segundo o SIPRI (Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo - https://sipri.org/), a indústria americana de armamentos teve em 2019 61% das vendas dos 25 maiores produtores de armas do mundo. Os 5 principais fornecedores de armas entre 2016 e 2020 são os Estados Unidos, a Rússia, a França, a Alemanha e a China respondendo por 76% do volume total de grandes exportações de armas. Desde 1950, os EUA e a Rússia (a União Soviética antes de 1992) têm sido sempre, de longe, os maiores fornecedores de armas para países do Oriente médio, da África e Ásia. O colonialismo industrial não vai deixar esse mercado de lado tão cedo, talvez nunca. A propaganda de armas é essencial para o avanço desse que é um dos negócios mais rentáveis do planeta. Não esqueçamos que Bolsonaro dez sinal de “arminha” durante toda a sua campanha provando que era uma campanha política e armamentista, ou seja, de militarização e incitação à guerra civil, ao mesmo tempo.
- Estamos diante do espetáculo da política e, desse modo, do espetáculo da guerra. Que o presidente Zelensky da Ucrânia seja originalmente um ator famoso na Ucrânia, mais precisamente um comediante, não é um mero acaso. O capitalismo vampiriza os Estados e precisa de homens que sejam capazes de fazer papéis que naturalmente não são tão fáceis de fazer. No caso de um ator, tudo é literal demais. Também entre nós, o ator Bolsonaro é muito bom na cena da farsa e não é por acaso que programas como CQC, Jornal Nacional e vários outros da Rede Globo e Tvs das igrejas neopentecostais, bem como da Jovem Pan, tenham lhe dado tanto espaço. Bolsonaro atua como um espantalho, mas essa é uma atuação suficiente para comandar as massas infantilizadas e dominadas pela produção audiovisual de baixo nível que vem apagando o limite entre realidade e ficção e, desse modo, conduzindo a democracia para o cadafalso no qual ela dá a si mesma um golpe mortal com as próprias mãos, ou seja, por meio do voto, ao eleger tiranos fascistas que devem destruir a democracia que os elegeu.
- O presidente da Ucrânia elegeu-se com mais de 70% de votos sem ter nenhuma experiência como político. Provavelmente sua eleição faça parte do plano do marqueteiro Steve Bannon que também ajudou Bolsonaro a se eleger e que percebeu que a extrema-direita precisava de um projeto de publicidade consistente se quisesse avançar. Bannon é o diretor disso tudo e vive a oferecer seus serviços a todos os conservadores que queiram ter mais poder e assumir cargos políticos em escala megalomaníaca começando pelos cargos à presidência dos países. Desde então, a campanha da extrema-direita em todos os países do mundo não para de avançar. Steve Bannon busca transformar o populismo fascista em um sucesso de bilheteria global no estilo de Hollywood, onde ele trabalhou como produtor no final dos anos 90.
- O projeto de Bannon faz lembrar o que na época do nazismo era a tentativa de Hitler, amparado por Goebbels de fazer a obra de arte total (Gesamtkunstwerk) como se fosse uma ópera wagneriana, ou um filme de muito sucesso de bilheteria mundial, em uma palavra: o nazifascismo foi uma tentativa de fazer da politica um super espetáculo de entretenimento em que o falso e o verdadeiro já não podem ser distinguidos. Desinformação, mentiras? Fake News, fazem parte da necessária confusão moral e psíquica produzida em escala massiva. Ser inteligente e perceber o que se passa não é cool. Ser espetaculoso, imoral e cognitivamente precário está em alta no Brasil e no mundo. As mídias corporativas hegemônicas, as redes sociais e as igrejas de mercado que administram tudo isso agradecem por seus lucros junto com os banqueiros, grandes senhores do capitalismo e, portanto, da base de violência econômica e simbólica que sustenta tudo isso.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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