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    Pedro Paiva

    Jornalista, mora em Nova York. Foi produtor e repórter do América News, jornal do canal internacional da Globo feito para a comunidade brasileiros nos Estados Unidos. É colaborador da Revista Híbrida e da USBRTV nos Estados Unidos. Acompanha a política estadunidense e outros temas importantes do país

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    Imigrantes são “sacos de lixo” para o governo Trump

    "Todos conhecem alguém que está sob o risco de deportação e o medo é visivelmente generalizado", escreve Pedro Paiva

    Donald Trump (Foto: REUTERS/Leah Millis)

    Para cumprir a promessa de campanha de realizar a maior deportação em massa da história dos Estados Unidos, o governo Donald Trump aumentou nos últimos dias a pressão sobre ICE (Fiscalização Imigratória e Aduaneira, na sigla em inglês), a polícia migratória.

    Desde sábado passado foram estipuladas metas: ao menos 1.200 imigrantes devem ser presos por dia, sendo cada escritório ICE responsável por atingir uma cota mínima de 75 detidos. A maioria desses imigrantes entram na categoria de “remoção acelerada” decretada pela Casa Branca, sem direito sequer a uma audiência perante um juiz antes da deportação em si.

    Apoiadores de Donald Trump afirmam que o foco do governo são imigrantes que cometeram crimes nos Estados Unidos, como roubo, fraude, estupro ou assassinato. A realidade, porém, não é bem assim. Karoline Leavitt, a porta-voz da Casa Branca, já deixou claro: para a nova administração, o simples fato de um imigrante estar em situação irregular no país já é um crime.

    Para bater a meta estipulada no fim de semana, a imigração sob o governo Trump opera de forma diferente do que vinha acontecendo durante a administração Joe Biden. O foco segue sendo criminosos, mas agora o ICE é incentivado a fazer prisões colaterais, ou seja, prender todo e qualquer imigrante indocumentado que seja encontrado na mesma casa ou prédio no qual a operação seja realizada.

    Em resumo: um imigrante que vive há décadas nos EUA, construiu uma vida no país, paga seus impostos em dia e nunca sequer recebeu uma multa, corre o risco de ser preso e deportado pelo simples fato de ter um vizinho que tenha cometido algum crime.

    As operações acontecem em todo o país, mas a prioridade da Casa Branca parece ser as grandes cidades de maioria democrata. No domingo, foi Chicago. Nesta terça-feira, Nova York.

    As primeiras ações da imigração em Nova York aconteceram em bairros de maioria latina absoluta: Highbridge, na região do Bronx, e Washington Heights, no norte de Manhattan - o bairro predominantemente dominicano onde eu vivo há quase 3 anos. Em ambos os casos, a motivação das operações era prender líderes de gangues, o que não impede os agentes de prender mais imigrantes no objetivo de bater a meta diária.

    Nas ruas do meu bairro, é possível ver uma mudança no humor das pessoas que caminham pelas ruas. Muitos dos imigrantes que vivem aqui já se legalizaram. A primeira onda de dominicanos que chegaram ao bairro veio nos anos 1970 e se beneficiaram do perdão concedido pelo governo Ronald Reagan. Seus filhos e netos são cidadãos americanos apesar de manterem vivo o espanhol, que falo mais do que o inglês no comércio local. Muitos outros, porém, vivem em situação irregular. Alguns há poucos anos, outros há décadas. Todos, porém, conhecem alguém (um tio, um amigo, um namorado…) que está sob o risco de deportação e o medo é visivelmente generalizado.

    Ao comentar sobre as blitz da imigração em Nova York, a nova Secretária do Departamento de Segurança Nacional, Kristi Noem, afirmou que o governo está “limpando as ruas da cidade desses sacos de lixo”. Para a extrema-direita, os imigrantes são isso: lixo. O lixo que, nas palavras de Donald Trump durante a eleição do ano passado, vem “sujando o sangue americano”.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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