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Urariano Mota

Autor de “Soledad no Recife”, recriação dos últimos dias de Soledad Barrett, mulher do Cabo Anselmo, entregue pelo traidor à ditadura. Escreveu ainda “O filho renegado de Deus”, Prêmio Guavira de Literatura 2014, e “A mais longa duração da juventude”, romance da geração rebelde do Brasil

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Imperdível. A glória de Machado de Assis hoje na TV

Está anunciado para esta sexta-feira um Globo Repórter sobre Machado de Assis

(Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

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O nosso maior escritor publicou num poema de juventude: “Esta a glória que fica, eleva, honra e consola”, verso que se tornou frase da Academia Brasileira de Letras. No entanto, em obra de maturidade, no romance Memórias Póstumas de Brás Cubas ele ponderou que “O amor da glória temporal era a perdição das almas, que só devem cobiçar a glória eterna” Então, para onde ir no momento de uma rara homenagem a Machado de Assis na televisão hoje à noite? 

Aceitemos por enquanto que “toda glória é primavera” como o nosso gênio da literatura brincava em uma cônica. Num dos perfis magistrais recolhidos por José Carlos Ruy, sobre o escritor, lemos: 

“Elisiário - Um homem de 35 anos de idade, alto e sério; é professor de latim e matemática, mas não é formado em nada, embora tenha estudado engenharia, medicina e direito, deixando em todas as faculdades fama de um grande talento sem aplicação. É poeta de improviso: não escreve os versos, os outros é que os ouvem e passam ao papel. Não tem família, mas um protetor, Lousada, médico de algum nome, que devia favores ao pai de Elisiário, e quis pagá-los ao filho. Elisiário é boa criatura, de muito talento, excelente conversador, alma inquieta e doce, desconfiada e irritadiça, sem futuro nem passado, sem saudades nem ambições - um erradio. (conto Um Erradio, 1899)”

Esse ouro magnífico copiado acima está no Dicionário Machado de Assis, que até hoje não teve a glória da publicação. Que triste coincidência. Machado de Assis na TV para todo o Brasil e José Carlos Ruy sem edição. Até quando? 

Devemos guardar a esperança em um e outro caso. Mas sob ângulos diferentes. No Dicionário Machado de Assis, que se publique dias depois desta noite. E no Globo Repórter, que se consiga boa qualidade hoje. Esperamos que a homenagem na TV não materialize uma das citações que José Carlos Ruy lembra do escritor no Dicionário Machado de Assis: 

“Foi assim que colocou na boca - ou melhor, na pena - de Brás Cubas uma autodescrição: era frívolo, superficial, ignorante e interesseiro. A universidade, em Coimbra, pouco lhe ensinou – ‘mas eu decorei-lhe só as fórmulas, o vocabulário, o esqueleto. Tratei-a como tratei o latim: embolsei três versos de Virgílio, dois de Horácio, uma dúzia de locuções morais e políticas, para as despesas da conversação. Tratei-os como tratei a História e a Jurisprudência. Colhi de todas as coisas a fraseologia, a casca, a ornamentação, que eram para o meu espírito, o mesmo que para o peito do selvagem são as conchas do mar e os dentes de pessoa morta’ ".

Algumas informações que circulam em sites indicam que poderemos ter um programa de autoajuda:

“O repórter Rogério Coutinho mostra como um homem do século XIX, que superou preconceitos e se tornou um dos maiores escritores de todos os tempos, ainda inspira tantos jovens a correrem atrás de seus sonhos”.

Mas um programa na Rede Globo sobre Machado de Assis seria como o amor: é bom, mesmo quando é ruim. Melhor aguardá-lo com renovada esperança. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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