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    Pedro Maciel

    Advogado, sócio da Maciel Neto Advocacia, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007

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    Intelectuais de bula de remédio

    Esses “intelectuais”, que colhem suas “confiáveis” fontes de informação no vazio, passaram a repetir, a cantilena: “o Brasil está quebrado”, sem perceber que estavam sendo convencidos disso pelo método desenvolvido pela Cambridge Analytica, CA (empresa privada que combinava coleta e análise de dados, com comunicação estratégica para o processo eleitoral)

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    Basta inundar as redes sociais e grupos de whatsapp com a versão dos fatos que se quer emplacar, para que ela se torne verdade – e abafe outras narrativas, inclusive e sobretudo as reais”. (Patrícia Campos Mello)

    Antes de desenvolver a ideia, vale a pena fixarmos alguns conceitos. O primeiro é bula, e o segundo é desinformação.

    Bula é um documento incluído na embalagem de medicamentos que fornece informações sobre aquele medicamento e seu uso, são escritas com linguagem simples. Há pessoas cujo “conhecimento” é amealhado através das bulas. Há advogados de bula, médicos de bula, engenheiros de bula, e os economistas de bula

    Esses intelectuais de bula, devem ser os mesmos que tem como fonte de desinformação as redes sociais, ambiente que possui mais de 140 milhões de usuários.  Sabe-se que o WhatsApp é a fonte de informação de 79% das pessoas, e o Facebook de 44%; esses intelectuais de WhatsApp, são verdadeiro exército de imbecis e desinformados.

    Esses “intelectuais”, que colhem suas “confiáveis” fontes de informação no vazio, passaram a repetir, a cantilena: “o Brasil está quebrado”, sem perceber que estavam sendo convencidos disso pelo método desenvolvido pela Cambridge Analytica, CA (empresa privada que combinava coleta e análise de dados, com comunicação estratégica para o processo eleitoral). Em 2016, trabalhou para a vitoriosa campanha presidencial de Trump, e para a do Brexit, visando a saída do Reino Unido da União Europeia, espalhando mentiras e ódio. O papel dessa empresa, e o impacto sobre essas campanhas é objeto de várias investigações criminais em andamento tanto nos Estados Unidos quanto no Reino Unido. 

    Bem, Steve Bannon, estrategista de extrema-direita vinculado à Cambridge Analytica, foi contratado por Bolsonaro em 2018, e manipulou as eleições no Brasil, usando o mesmo método usado por Trump em 2016.  

    No seu livro “A máquina do ódio: Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital”, a jornalista Patrícia Campos Mello, narra em detalhas o processo de mentiras e fraudes coordenado por Carlos Bolsonaro e Bannon. 

    Postos esses conceitos e fatos, passemos à pergunta: o Brasil está quebrado? 

    Segundo muitos economistas como Simone Deos, da UNICAMP, esse argumento, que é frequentemente repetido por analistas econômicos, não é verdadeiro. 

    Para a economista, existe uma falácia em jogo, que generaliza situações familiares ou empresariais para a situação macroeconômica. A avaliação de que o Brasil quebrou é completamente equivocada, para dizer o mínimo, e mal-intencionada. Não é possível dizer que não seja mal-intencionada. O que significa quebrar um país, do ponto de vista macroeconômico? As pessoas que não têm formação como economistas naturalmente tendem a interpretar isso tal como a sua própria situação familiar ou mesmo empresarial. 

    Já, nas palavras do Professor José Luís Oteiro da UnB, que trata a questão: “Uma das muitas falácias que se construíram nos últimos anos é que o governo brasileiro estaria sem dinheiro para pagar suas contas, o que explicaria a necessidade de fazer uma reforma da previdência a toque de caixa do contrário os servidores da União poderiam ficar sem receber seus salários já em 2020. Isso não passa de fake News e terrorismo econômico barato”.

    Oteiro chama atenção para o saldo da Conta Única do Tesouro no Banco Central do Brasil como proporção do PIB, que vem melhorando ao final de cada ano, e que a disponibilidade de caixa da União triplicou nos últimos 17 anos, passando de aproximadamente 6% do PIB em 2001 para 18% do PIB no final de 2018, segundo seu artigo denominado “O Brasil quebrou? Pense de novo” do início de 2019. 

    Além disso, o professor nos convida a verificar que, o saldo da conta única do tesouro aumentou consideravelmente, portanto, nada mais mentiroso do que dizer que o governo está sem dinheiro para gastar, que o Brasil quebrou, e que o PT quebrou o Brasil. 

    O dinheiro existe e está disponível para o Tesouro em sua conta no Banco Central, o que impede o governo de gastar não é a ausência de dinheiro, mas as regras fiscais existentes hoje como a meta de resultado primário, a regra de ouro e a regra do teto dos gastos. Essas regras proíbem a União de efetuar uma série de gastos na atual conjuntura da economia brasileira, forçando muitas vezes os gestores públicos a contingenciarem o orçamento público, como ocorreu recentemente com as universidades públicas, para não cometer crime de responsabilidade. Trata-se de um arranjo institucional da política fiscal, que atendeu alguns interesses, não é ausência de dinheiro. 

    Já para o Professor da FGV, e ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Carlos Bresser-Pereira manter o dólar a R$ 2 foi um dos poucos erros de Lula, pois isso agravou  a desindustrialização. 

    Mas esse erro foi corrigido por Dilma, e os principais indicadores macroeconômicos (PIB, desemprego, Inflação, relação Dívida Liquida x PIB, reservas cambiais, IED, dentre outros) mantiveram-se até 2015 muito positivos, mas alguns deles foram levados de roldão pelos tsunamis da crise política iniciada por Aécio, Cunha e Temer, e pelo método devastador da Lava-Jato, temas que teremos que discutir depois.Essas são as reflexões, que submeto às democráticas críticas, especialmente aos intelectuais de bula de remédio, pois assim, desafiados, quem sabe eles se estimulam a estudar.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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