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    Marconi Moura de Lima Burum

    Mestre em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB, abraçado às epistemologias do Direito Achado na Rua; pós-graduado em Direito Público e graduado em Letras. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. No Brasil 247, inscreve questões ao debate de uma nova estética civilizatória

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    Israel criou a ONU! E Israel destruirá a ONU!

    "Ironicamente, a mesma ONU que tanto protegeu o povo judeu, é a mesma que será destruída por ele", pontua Marconi Burum

    Benjamin Netanyahu discursa na Assembleia Geral da ONU, 27 de setembro de 2024 (Foto: EDUARDO MUNOZ/REUTERS)

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    O título parece equivocado do ponto de vista de uma verdade histórica. Mas não é! Muito embora necessitemos colocar os devidos “pingos nos ‘is’” para ser verossímil o trabalho. Senão, vejamos.

    Não foi o Estado de Israel que criou a Organização das Nações Unidas, primeiramente porque sequer existia Israel como Estado. Segundo, porque nenhum Estado sozinho seria capaz de criar um organismo tão pujante a representar o processo de mediação global da geopolítica e da diplomacia multipolar. Contudo, dois eventos envolvem Israel diretamente como eventos simbólicos (e concretos) para que a ONU existisse como ONU. O primeiro deles é que é o assassinato frio e cruel de 6 milhões de judeus (àquele tempo dispersos por dezenas de nações mundo afora), genocídio este praticado pelo regime nazista de Adolf Hitler. E o derradeiro fato a caracterizar a dimensão de uma nova ordem mundial que tem a ONU como grande hub, é (agora sim) a criação do Estado de Israel, em 1948.

    Estes elementos históricos denotam a construção de uma simbiose (geo) política quanto ao excerto sugerido para a primeira parte do título, isto é, Israel é uma mola propulsora que, de alguma forma, justifica a criação da ONU ali no apagar das luzes dos salões de poder da 2ª Guerra Mundial. Contudo, há outra premissa que se vigora válida: quase 80 anos depois da aprovação dos Estados de seu organismo motriz para, entre outras dimensões, a mediação de altos conflitos e violação de direitos humanos, é o mesmo Israel que está provando o atual fracasso da ONU, logo, é também a nação a colocar a primeira pá de cal na organização.

    Perguntaremos: e como isso se dá? Também não temos resposta fácil. É um evento sofisticado da geopolítica. A teimosia dos impérios, em especial, os EUA em não aceitar a multipolaridade do mundo, isto é, um esforço a qualquer custo dos “ianques” para se manterem como “xerifes” dos outros Estados soberanos. A falácia e a hipocrisia destas nações imperiais que “protegem” à última gota de sangue de inocentes (árabes, em especial) é sua máxima chancelaria. Consequência? Tais países autorizam que Israel pratique contra os seus vizinhos, nesta quadra de destaque, o povo palestino e mais recentemente, o povo libanês, um verdadeiro genocídio, igualzinho – e até pior, em certos tons[1] – aos crimes mais cruentes que Hitler praticou contra os judeus na primeira metade do século XX.

    E como confirmar a premissa de que a ONU não sobreviverá, isto é, que sucumbe a cada novo míssil lançado contra uma escola, ou um hospital cheio de crianças inocentes que não sejam da “raça pura” judia? O fato é que a Assembleia Geral é um mero teatro de discursos dos maiores líderes do globo terrestre. Mas não passa disso: discursos! Na prática, zero é a solução, ou mesmo influência para frear a sanha assassina do Chefe de Governo de Israel. O Conselho de Segurança é uma zona de egos soberanos. Um lugar de lugar algum. Um labirinto sem saída. Apenas cinco nações decidem o destino do mundo. Contudo, o destino que escolhem é vetado por qualquer uma delas. Logo, não há destino possível a brotar como solução de paz por meio daquele órgão.

    Em síntese: como Israel é a “criança mimada” que grita e rola no chão para ganhar seu pirulito (metáfora para mais armas e mais colonialismo a partir das margens da “Terra Prometida”; e o “pai”, os EUA não conseguem se impor sobre os caprichos do filho, estes sempre vetarão qualquer “barulho” que incomode Israel. E mesmo que aceite alguma Resolução que mitigue o conflito, a variável da derrota da ONU caminha por dois outros trieiros inevitáveis: i) a soberania de todo Estado – que impede concretamente a imposição do fim de um genocídio praticado por Israel, por exemplo; e ii) o interesse econômico dos países que não querem sancionar Israel para salvar crianças assassinadas brutalmente. Neste último evento, falamos da venda de armas, por exemplo, entretanto, toda a motriz capitalista que dá as reais cartas do que se pode ou não se pode fazer; se aplicam ou não se aplicam sanções e a quem são direcionadas seletivamente pelo jogo do Mercado[2]. Em síntese: um projétil israelense é lançado a 11 mil km de distância da sede da ONU para atingir mais uma vítima árabe. Atinge-a, mata-a, entretanto, acerta também o coração do organismo que criou o Estado de Israel.

    Logo, logo, não sobrará uma “vidraça” sequer daquela estrutura em pé. Ironicamente, a mesma ONU que tanto protegeu o povo judeu, é a mesma que será destruída por ele...

    …………….

    [1] A este respeito da “reinvenção” do nazismo, agora pelos sionistas que traem seus antepassados, impondo aos palestinos a dor intergeracional que lhes impôs o regime de Hitler, leia o texto que escrevi para este mesmo portal alguns meses atrás: https://www.brasil247.com/blog/assassinados-por-israel-em-gaza-ja-e-maior-que-na-alemanha-nazista#google_vignette.

    [2] A ONU, na verdade, já era frágil antes, por (ter de) se comportar como uma antessala da superestrutura global. Contudo, até algum tempo atrás parecia ter algum respeito. Hoje, nem isso sobrou da Organização.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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