Israel e EUA, entidades terroristas
O rompimento com a tecnologia e os produtos eletrônicos dos EUA e de seus prepostos não é mais mera questão de soberania nacional
Os grandes jornais da burguesia estão chamando a série de atentados terroristas ocorridos no Líbano esta semana de “explosões”. Claro, o atentado não foi obra dos árabes e não ocorreu na Europa, nos Estados Unidos ou em Israel. Se fosse, seria rotulado de terrorista na primeira leva de breaking news.
Como foi obra de Israel – todo o mundo sabe disso, ainda que os sionistas o neguem –, então é claro que não é terrorismo. São apenas algumas “explosões”. Explosões exclusivamente em áreas civis e que já mataram mais de 30 pessoas (incluindo crianças) e deixaram mais de 3.000 feridos.
Em meio ao mar de ingenuidade fingida nos grandes veículos de imprensa, uma reportagem do New York Times cita 12 fontes da Defesa e da Inteligência israelense que confirmam que Israel está por trás dos atentados. De acordo com algumas das fontes do NYT, a companhia húngara B.A.C. Consulting, que produziu os pagers para a taiwanesa Gold Apollo, na verdade é uma empresa de fachada dos serviços de inteligência israelenses. Ela produziu os dispositivos para que fossem monitorados e ativados para explodir a qualquer momento por Israel.
Esse tipo de ataque é considerado terrorismo em qualquer lugar do mundo pelos mesmos que estão negando ou ocultando que tenha sido um atentado terrorista de Israel.
Em 2018, um refugiado afegão de 19 anos atacou com uma faca dois turistas americanos na estação central de trem de Amsterdã. Ele sequer matou os turistas (pelo contrário, foi morto em apenas nove segundos pela polícia). Aquilo, porém, foi considerado um ataque terrorista. No ano anterior, seis pessoas ficaram feridas em um atropelamento na região de Paris. Aquilo também foi investigado como possível ataque terrorista.
Se casos como esses são terrorismo, por que os jornais e os governos ocidentais não reconhecem as “explosões” no Líbano como atentados terroristas?
Justamente porque isso implicaria considerar que Israel é uma entidade terrorista. E a imprensa controlada pelos Estados Unidos – que sustentam e incentivam o terrorismo israelense – jamais poderia fazer isso.
Após muitas maquinações do Império Britânico durante o final do século XIX e a primeira metade do século XX, os Estados Unidos se tornaram o principal responsável por assegurar a criação e consolidar a existência do “Estado de Israel”, uma entidade artificialmente fabricada. Desde então, utilizam esse pedaço de terra roubada dos palestinos como uma gigantesca base militar em sua ânsia de dominar o Oriente Médio e sugar as suas preciosas riquezas naturais.
Desde o início da nova fase do genocídio (que tem origem ainda em 1947/48), em outubro do ano passado, os Estados Unidos forneceram mais de 6,5 bilhões de dólares em ajuda militar a Israel. Entre 2017 e 2021, os Estados Unidos foram responsáveis por fornecer 92% de todas as armas importadas por Israel, segundo o Stockholm International Peace Research Institute.
Os EUA também são os responsáveis pelo desenvolvimento tecnológico de Israel – que é voltado primordialmente para a área militar e cujos atentados terroristas no Líbano são uma consequência.
Yoav Gallant, o ministro da Defesa israelense, ligou para sua contraparte estadunidense, Lloyd Austin, minutos antes do primeiro atentado, para informá-lo sobre uma operação que seria realizada imediatamente no Líbano, segundo o portal Axios.
Há décadas a CIA e a NSA realizam operações de espionagem a partir de dispositivos eletrônicos, como TV’s, computadores e celulares, contra cidadãos de todos os países do mundo. Agora Israel, uma máquina genocida, mostra que não é possível apenas espionar a partir de dispositivos que pertencem às próprias vítimas, mas também matar – e matar quem está por perto.
Esse episódio covarde e cruel de terrorismo cibernético e assassino é uma demonstração do perigo que é a dependência tecnológica. A maior parte do mundo depende da tecnologia monopolizada pelos países ricos, em particular os EUA, e seus gigantescos conglomerados que fabricam esses dispositivos praticamente sem concorrência – pois eles a suprimem.
Os grandes monopólios ocidentais estão diretamente ligados aos governos imperialistas, como o dos Estados Unidos. As big techs são um exemplo óbvio disso – basta ver o repasse de informações privadas dos usuários de redes sociais ao governo norte-americano, ou a censura política exercida contra páginas que desagradam Washington.
Se as grandes empresas que fabricam e, portanto, detêm o controle de toda a tecnologia que está dentro dos dispositivos eletrônicos que nós adquirimos para uso corriqueiro têm acordos com governos como os de EUA e Israel para fornecer dados dos usuários e mesmo estabelecer um controle remoto que pode ativar e explodir o dispositivo, qualquer pessoa no mundo está suscetível ao terrorismo imperialista.
Há poucos meses, Israel já havia cometido outro (de tantos) atentados, quando bombardeou e matou o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã. A sua localização foi obtida através do monitoramento de seu aparelho telefônico. Isso levou Hassan Nasrallah a instruir os membros do Hezbollah a não utilizarem smartphones em reuniões ou conversas sigilosas, e substituírem-nos pelos pagers.
Mas nem mesmo aparelhos pouco sofisticados, como pagers e walkie-talkies, estão protegidos do monitoramento e do controle remoto das agências de espionagem e empresas privadas dos EUA e Israel.
O sistema de vigilância e invasão da privacidade dos indivíduos erguido pela ditadura imperialista dos EUA – da qual Israel é um preposto criminoso e covarde – atingiu um novo nível. É por essas e outras que governos que estão na alça de mira desses criminosos, como China e Rússia, lutam por criar tecnologias e dispositivos eletrônicos próprios. Não querem ter suas casas – ou suas cabeças – voando pelos ares a qualquer hora do dia.
O rompimento com a tecnologia e os produtos eletrônicos dos EUA e de seus prepostos não é mais mera questão de soberania nacional. Agora é questão de sobrevivência – no sentido mais literal do termo.
Para quem pensa que esse perigo não existe, basta lembrar que estamos falando de entidades (EUA e Israel) que já mataram mais de 30 mil mulheres e crianças em Gaza em menos de 12 meses. Eles são capazes de tudo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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