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    Tereza Cruvinel

    Colunista/comentarista do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos.

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    Ítaca – Liberdade para Assange

    "O filme faz parte da campanha pela libertação de Assange, que poderá ser extraditado para os EUA, onde amargará a prisão perpétua", diz Tereza Cruvinel

    Julian Assange (Foto: Reuters/Henry Nicholls)

    O mundo inteiro conhece a história de Julian Assange, o prisioneiro político convertido pelo poder americano e global em criminoso, por ter denunciado os crimes de guerra e outros abusos dos Estados Unidos, como o grampeamento de governantes estrangeiros, entre eles Dilma Rousseff. Mas conhecer não é sentir. O documentário “Ítaca – a luta de um pai”, que já pode ser visto nos cinemas brasileiros,  humaniza a tragédia de Assange. É um mergulho na crueldade da situação e na dor – a dele e a dos seus mais próximos, como o pai John Shipton e a mulher Stella, advogada de defesa que se tornou sua mulher e mãe de seus filhos.

    O lançamento do filme (produção do irmão Gabriel Shipton, direção de Ben Laurence, distribuição da Pandora Filmes), faz parte de novo esforço da campanha mundial pela libertação de Assange, que poderá ser extraditado em breve pelo Reino Unido para os Estados Unidos, onde amargará a prisão perpétua (pois sua pena chega a 175 anos) numa masmorra de segurança máxima.

    John Shipton é uma figura admirável e comovente. Tem 76 anos, a energia de um jovem e a dignidade dos justos em sua luta pela libertação do filho. Viajou 37 horas, vindo da Austrália, para estar ontem em Brasília, no lançamento do filme, organizado pelo incansável Nilson Rodrigues, no Cine Cultura. Mas ele está frequentemente em Londres, onde Assange está preso há quatros anos, depois de ter passado sete asilado na embaixada londrina do Equador, ou em qualquer lugar do mundo onde ecoem gritos de “Free Assange”.

    O filme mostra suas incansáveis peregrinações e capta suas reflexões, deixando transparecer sua erudição e sabedoria combinadas com simplicidade. Ele se orgulha do filho e não pode aceitar que a pátria da Primeira Emenda, que torna sagrada a liberdade de expressão, persiga penalmente seu filho usando a lei anti espionagem por conta das revelações tenebrosas do Wikileaks, o site de jornalismo investigativo por ele criado.

    Stella Assange também emerge no filme como uma mulher extraordinária. Começou seu relacionamento com Julian em 2015, durante o período em que ele estava na embaixada do Equador e ela integrava a equipe de defesa. Tiveram um filho em 2017 e outro em 2019, casaram-se em 2022 na prisão de Belmarsh, onde ele está preso, nos arredores de Londres. Mas o que ela faz é luta política, nos protestos, nas entrevistas em que denuncia o risco de criminalização do jornalismo com a aceitação da condenação de Assange, ou quando lembra a Biden, como fez há poucos dias, que a deportação será um problema para sua campanha.

    Mais do que isso vira spoiler. Vejam “Ítaca – a luta de um pai”,  e entrem nessa corrente. Qualquer que seja o desfecho deste drama, ele ficará na história como um absurdo do nosso tempo.

    Ítaca, vocês sabem, é aquela ilha grega para onde voltava Ulysses, o herói da Odisseia, em sua longa e tormentosa jornada pelo mar, enfrentando os cíclopes e outros monstros, além do canto das sereias. Desconfio que John Shipton, em deixa transparecer certo helenismo em suas falas, foi quem deu título ao filme.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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