TV 247 logo
    Tereza Cruvinel avatar

    Tereza Cruvinel

    Colunista/comentarista do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos.

    1031 artigos

    HOME > blog

    Itaipugate não pode ser abafado

    "O resumo do negócio é simples: o Brasil obrigou o Paraguai a contratar pra si um volume maior de energia, superior à sua própria necessidade. Ao mesmo tempo, privou a Ande da exclusividade da revenda ao Brasil, abrindo caminho para a entrada da Léros no negócio", escreve a jornalista Tereza Cruvinel sobre o escândalo envolvendo usina de Itaipu e o governo Bolsonaro

    (Foto: Reuters | Reprodução)

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    A condescendência da mídia brasileira para com Bolsonaro não pode chegar ao ponto de ignorar, ou relegar a notas e registros secundários, a gritante suspeita de que haja uma grossa história de corrupção, envolvendo a própria família do presidente, na crise política que agita o Paraguai, por conta do acordo secreto sobre a divisão da energia de Itaipu. Lá, o presidente Mario Abdo Benítez voltou a enfrentar o risco de impreachment. Aqui, o PT pediu ontem à Procuradoria Geral da República a abertura de investigações contra Bolsonaro, o chanceler Ernesto Araújo e o presidente brasileiro de Itaipu, general Luna e Silva, mas isso também será ignorado ou jogado aos pés de página.

    Pela mídia grande, Bolsonaro não é corretamente qualificado como de extrema-direita, como fazem, referindo-se a ele, veículos de todo o mundo. Produz mentiras diárias e não é chamado de mentiroso. E mesmo declarando ostensivamente que usa o aparelho de Estado para se vingar da mídia, dela não recebe a nomeação correta de seu ato: prevaricação. Ele mesmo confessou: “No dia de hoje, eu retribuí parte daquilo que grande parte da mídia me atacou”. Truncado, mas compreensível. A retribuição foi a assinatura de MP que subtrai dos jornais a receita obtida com a publicação anual de balanços, providência a que estão obrigadas as empresas de capital aberto. Bolsonaro as presenteia com a publicação gratuita dos balanços no Diário Oficial da União. Ou seja, faz cortesia com o dinheiro público para se vingar, para satisfazer seu interesse pessoal. Prevarica, além de atentar indiretamente contra a liberdade de imprensa ao tentar interferir na saúde financeira das empresas do setor. Não vi, entretanto, a tal MP ser condenada com o necessário rigor, pela gravidade que encerra. 

    Mas voltemos às trutas do lago de Itaipu. Em Assunção a história está na boca do povo, nos blocos que andam pelas ruas pedindo o impeachment do presidente Mario Abdo Benitez e de seu vice Hugo Velásquez. No início da semana a providência foi abortada pela anulação do acordo secreto de 24 de maio, mas ontem alguns partidos de oposição voltaram a protocolar o pedido de julgamento político do presidente, do vice e do ministro da Fazenda Benigno López. Mas sem o apoio do partido do ex-presidente Cartes, Honor Colorado, não dispõem, de maioria para aprovar o pedido na Câmara paraguaia. Por ora, porque lá a situação política vai escapando ao controle do governo. Quando há fato jurídico, etem povo na rua, a maioria acaba se formando.

    Lá, já não acusam a trinca apenas de assinar um acordo lesivo ao Paraguai, mas de participação direta numa operação obscura que visava favorecer a empresa brasileira Léros, interessada em comprar o excedente da energia contratada pelo Paraguai. 

    Para isso, subtraiu-se do acordo a exclusividade da estatal Ande (Administradora Nacional de Eletricidade) na revenda. Uma Vazajato paraguaia revelou mensagens de whatsapp entre Benítez e o ex-presidente da Ande, Pedro Ferreira, explicitando que o presidente acompanhou de perto as negociações, que declarou-se pressionado pelo governo brasileiro a aceitar o acordo, e que, por sua vez pressionou Ferreira a aceitar o acordo. O presidente da Ande se recusou e deixou o cargo, dando início à crise.

    Está na boca de todos, no país vizinho, o nome do advogado José Rodriguez González, que participou das tratativas como assessor jurídico do vice-presidente Velásquez mas defendia, de fato, os interesses da Léros, representada nas sombras por Alexandre Giordano, que vem a ser suplente do senador Major Olímpio, do PSL, que é líder do Bolsonaro no Senado.

    O resumo do negócio é simples: o Brasil obrigou o Paraguai a contratar pra si um volume maior de energia, superior à sua própria necessidade. Ao mesmo tempo, privou a Ande da exclusividade da revenda ao Brasil, abrindo caminho para a entrada da Léros no negócio.

    Em toda esta lambança, pelo menos uma coisa exige esclarecimento cabal: qual é a relação entre a família Bolsonaro e a empresa comercializadora Léros. Pois quando se referem a ela, nas mensagens vazadas, autoridades paraguaias se referem claramente a ligações com a “família presidencial”.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: