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    Julimar Roberto

    Comerciário e presidente da Contracs-CUT

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    Já vai tarde!

    "Como alguém com empresas em paraísos fiscais e investimentos em títulos públicos pôde liderar a política monetária de uma nação?"

    Roberto Campos Neto (Foto: Reuters/Ueslei Marcelino)

    O Brasil já respira aliviado só de imaginar que Roberto Campos Neto está às vésperas de deixar a presidência do Banco Central. Seu mandato será lembrado como um período de estagnação econômica e submissão às chantagens do mercado financeiro, prejudicando as famílias, empresas e o Estado em favor dos super-ricos.

    À frente do BC desde 2019, Campos Neto manteve a política de juros altos como ferramenta central para o controle inflacionário, mesmo que os dados recentes indiquem que a inflação esteja desacelerando. A decisão de elevar a taxa Selic para 12,25% reflete uma escolha política alinhada aos interesses do mercado financeiro, e não à necessidade do país. Essa postura prejudica milhões de brasileiros e brasileiras e emperra o desenvolvimento econômico. O que vemos é um modelo que perpetua desigualdades e protege os lucros de uma elite econômica à custa do povo brasileiro.

    Até quem não entende de economia consegue facilmente perceber que a estratégia do presidente do BC é um verdadeiro boicote ao crescimento econômico e um golpe na classe trabalhadora. Mesmo diante de alternativas viáveis para controlar o câmbio, como intervenções no mercado de moeda, Campos Neto se faz de rogado. 

    Enquanto isso, as consequências são devastadoras. Só em 2023, mais de R$ 732 bilhões foram pagos em juros da dívida pública – cinco vezes o orçamento destinado à Educação e mais de três vezes o destinado à Saúde. É dinheiro que poderia ser usado para reduzir desigualdades, criar empregos e melhorar a vida das famílias.

    Sem contar que o aumento de juros sabota os esforços do presidente Lula em promover justiça social. Uma das propostas do governo federal, que enfrenta resistência política, é acabar com a cobrança do Imposto de Renda na fonte para os mais pobres. Essa medida ajudaria milhões de brasileiros, mas, para setores do mercado e da elite, e para o atual presidente do BC, toda política que beneficie a classe trabalhadora parece ser tratada como uma ameaça.

    Mas Campos Neto já tem sua partida anunciada e será lembrado como a raposa que tomou conta de um galinheiro. Movido mais pelos interesses do mercado do que pelas necessidades do país, o economista acumula acusações de conflito de interesses que, como no caso Pandora Papers, lançam uma sombra sobre sua conduta ética. Como alguém com empresas em paraísos fiscais e investimentos em títulos públicos pôde liderar a política monetária de uma nação?

    Felizmente, há esperança no horizonte. Com a indicação de Gabriel Galípolo para assumir a presidência do Banco Central em 2025, há uma expectativa de que essa postura mude e de que a política monetária finalmente atenda aos interesses do Brasil e do povo brasileiro. 

    Até lá, é imprescindível que a sociedade mantenha o debate vivo e pressione por mudanças. Campos Neto pode até ter um mandato independente, mas não está imune à crítica pública e à responsabilidade histórica pelos danos causados ao país. Afinal, uma política econômica que estrangula os mais pobres enquanto privilegia os mais ricos precisa ser tratada como o que é, um verdadeiro crime socioeconômico.

    O Brasil precisa de uma política monetária que trabalhe pelo desenvolvimento, e não contra ele. Que o governo Lula continue avançando na construção de um país mais justo e que possamos, em breve, enterrar de vez o fantasma dos juros altos.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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