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Ricardo Nêggo Tom

Músico, graduando em jornalismo, locutor, roteirista, produtor e apresentador dos programas "Um Tom de resistência", "30 Minutos" e "22 Horas", na TV 247, e colunista do Brasil 247

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Jojo Todynho: a nova "ama de leite" da casa grande bolsonarista

"O seu embranquecimento cultural, político, ideológico e econômico veio a público num grito de liberdade e satisfação", escreve Ricardo Nêggo Tom

Jojo Todynho (Foto: Reprodução)

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Como se já não bastasse a nossa política estar bem abaixo do nível da desqualificação, tendo figuras como o ex-presidente Jair Bolsonaro, e agora o coach picareta Pablo Marçal, como heróis populares e possíveis salvadores da pátria, a cantora (?) e influenciadora (de quê?) Jojo Todynho manda avisar que será candidata a alguma coisa em 2026 e declarou eufórica e orgulhosa: “Eu sou uma mulher preta de direita”, acrescentando que não está nem aí para um possível cancelamento e postando uma foto ao lado de Alexandre Ramagem e Michelle Bolsonaro. Se alguém me perguntar que tiro foi esse?, eu respondo que é um tiro que acerta em cheio a capacidade de raciocinar da futura candidata, e a coloca em estado grave no CTI racial dos pretos e pretas cujas almas agonizam em estado de embranquecimento.

Evoco aqui a figura das amas de leite do período colonial, mulheres pretas que eram selecionadas para amamentar os filhos das sinhás. Também conhecidas como “mães pretas”, essas mulheres tinham a função cuidar do aleitamento dos brancos recém-nascidos da casa grande. Geralmente, eram mulheres que haviam acabado de parir, estavam cheias de leite no peito e eram forçadas a deixar os seus próprios filhos também recém-nascidos aos cuidados de outras escravizadas, para cuidarem dos filhos dos senhores de engenho. Isto é apenas um recorte sobre as formas como os pretos e pretas escravizados eram utilizados no período escravista. Algo que Jojo talvez deva desconhecer. Do contrário, não se prestaria ao papel de servir como “mãe preta” dos fascistas brasileiros, fortalecendo o bolsonarismo, não com leite materno, mas com o sangue que foi vertido pelos seus ancestrais e será vertido por seus irmãos de cor se a extrema direita voltar ao poder.

Jojo Todynho sempre foi uma figura controversa, pouco lúcida em seu raciocínio, mas contundente em suas palavras. Ainda que não soubesse bem o que estava dizendo. Uma prova disso, é que ela acaba de declarar apoio a Alexandre Ramagem, o chefe da Abin paralela de Bolsonaro, como candidato a prefeito do Rio de Janeiro, e ameaçou processar quem criticasse o seu posicionamento. Mais uma prova de sua pouca lucidez de raciocínio e desconhecimento do que fala. Processar quem critica o seu posicionamento político? Como assim, futura candidata? Afinal, a turma que a senhora agora apoia, é defensora da liberdade de expressão irrestrita. Inclusive, para pesar em arrobas, homens e mulheres pretas como você, e dizer que elas não servem nem para procriarem mais. É possível que Jojo também desconheça Paulo Freire, embora, se encaixe perfeitamente numa de suas frases mais compartilhadas: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é se tornar opressor”

Miss Todynho transita entre a ignorância histórica e a convicção pessoal de que pode ser superior por ser de direita. É o tipo de preto que tenta se descolar ao máximo de suas raízes e origens, para ganhar um biscoito da branquitude. De olho no voto conservador, ela disse que vai retirar das plataformas digitais a música “Arrasou, viado”, que fez sucesso entre o público LGBTQIA+. As acusações de oportunismo incomodaram a bolsonarista, que saiu gritando aos quatro cantos nunca ter precisado se aproveitar de causa nenhuma para fazer sucesso. Vale lembrar que Jojo chegou a ser apadrinhada por Anitta, que a ajudou bastante no meio musical. A música causadora da discórdia entre Jojo e o público LGBTQIA+, é uma composição de Anitta e DJ Batata, e fez com que a nova amiga da família Bolsonaro ganhasse mais visibilidade e acolhimento por parte do campo progressista. Hoje, Jojo não fala mais com Anitta e justifica a distância entre as duas dizendo que “ciclos se encerram”

Longe de querer promover o cancelamento de Jojo, ou direcionar ataques pessoais à influenciadora, é preciso fazer a crítica do ponto de vista político, ideológico e racial, de um movimento inconsequente e alienado feito por uma mulher que simboliza tudo aquilo que a extrema-direita pretende destruir e eliminar da nossa sociedade. As minorias. Minorias estas que Jair Bolsonaro do alto de seu palanque de candidato à presidência em 2018, vociferou que deveriam se render ou sumirem do país. O “fuzilar a petralhada” também verbalizado pelo ex-presidente, mirava todos aqueles que pertencem aos chamados grupos minoritariamente representados, embora sejam maioria numérica na sociedade. A turma a qual Jojo agora se alia, odeia ter que respeitar a existência de pretos, pobres, mulheres, homossexuais, e qualquer pessoa que não lhes reflita através do espelho.

Ao se olhar no espelho, Jojo Todynho não vê refletida a imagem física da branquitude, mas o seu embranquecimento cultural, político, ideológico e econômico, já gritava dentro de si como um condicionamento mental e existencial. Tanto, que no vídeo do seu chá de revelação ela grita e se diz aliviada por não precisar mais esconder de ninguém que ela sempre foi “branca”. Como naquela cena de novela que virou meme com a atriz Carolina Ferraz gritando: “Eu sou rica! Rica! Rica!” Todynho virou galak e agora pode defender como seus, os ideais e os padrões sociais da branquitude escravocrata brasileira. Ela já tinha posado com fuzil, participado de treinamento do BOPE e espalhado a fake News de que Lula defendia o roubo de celulares para tomar uma cervejinha. Indícios claros de que daria à luz ao seu bolsonarismo mais cedo ou mais tarde. Nenhuma surpresa.

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