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    Dafne Ashton

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    José Leal, presente!

    José Leal, o homem que enfrentou a escuridão da ditadura militar e emergiu como um defensor ardente da cultura brasileira, permanecerá vivo em nossos corações

    José de Souza Leal (Foto: Reprodução/YouTube/TV Resistência Contemporânea)

    No mês de setembro de 2023, perdemos um grande brasileiro, um homem de coragem inabalável e um defensor incansável da cultura brasileira. José de Souza Leal, nascido no Rio de Janeiro em junho de 1946, partiu, deixando um legado que inspirará gerações futuras.

    José Leal teve uma vida repleta de desafios, mas sua determinação e paixão por nossa cultura foram inabaláveis. Ele surgiu como um líder estudantil no Movimento dos Vestibulandos em 1968, ao lado de figuras notáveis como Luiz Rodolfo Viveiros de Castro, o carinhosamente chamado "Gaiola". Essa época foi um marco na história do Brasil, uma época de luta por democracia, liberdade e justiça, e José Leal estava na vanguarda dessa batalha.

    No entanto, seu compromisso com a justiça e a liberdade custou-lhe caro. Em 1974, José Leal foi sequestrado e submetido a torturas brutais pelo regime militar. Sua esposa, Neide, seu irmão Carlos Jardel e a esposa deste, Mariza, também sofreram nas mãos dos repressores. Foram momentos terríveis que deixaram cicatrizes profundas, não apenas em seus corpos, mas também em suas almas.

    José Leal nunca esqueceu os horrores que testemunhou e sofreu. Até recentemente, ele compartilhava com amigos os terríveis ecos da tortura em sua mente, lembrando-se dos gritos das mulheres sendo estupradas e do som ininterrupto da água pingando.

    Depois de enfrentar essa terrível experiência, José Leal continuou sua jornada, dedicando-se à preservação e promoção da cultura brasileira. Em 1983, ele foi vencedor do Concurso de Monografias da Funarte, o que levou à edição do livro "João Pernambuco, Arte de um Povo". Esse livro foi o começo de sua missão para celebrar nossas raízes culturais e mantê-las vivas.

    José Leal também expandiu seus horizontes, viajando para a Alemanha em 1985. Lá, ele experimentou várias profissões e aventurou-se em diferentes áreas da arte e da cultura. Ele editou livros bilíngues de poesia, literatura infantil e cultura indígena após viagens ao Pará e Amapá, levando pedaços da riqueza cultural brasileira para o exterior.

    Mas o amor de José Leal pela cultura brasileira nunca desapareceu. Ele retornou ao Brasil para aprofundar sua pesquisa sobre João Pernambuco, o renomado músico e compositor pernambucano. Suas viagens a Recife e à cidade natal de João Pernambuco foram o catalisador para a criação do Instituto de Arte Popular João Pernambuco e a publicação de seu último livro, "Raízes e Frutos da Arte de João Pernambuco, Uma Infinita Viagem", em 2023.

    José Leal foi homenageado em uma bela cerimônia organizada pela Faculdade de Música da UFBA, e seu livro foi lançado com pompa e circunstância. O professor doutor Rodrigo Moraes, que escreveu o prefácio do livro, tornou-se um amigo próximo e testemunhou o desejo de José Leal de retornar ao Brasil.

    No entanto, o destino tinha outros planos. Em 10 de setembro de 2023, José Leal sofreu um AVC em Recife, que o colocou em um estado de coma profundo. Três dias depois, ele nos deixou, deixando seus amigos e familiares em choque emocional.

    Seus filhos, Carlos Roberto, Silvia e Cinara dedicaram-se incansavelmente a trazer seu pai de volta ao Rio de Janeiro, onde ele foi sepultado no cemitério de Irajá, bairro onde passou parte de sua juventude.

    José Leal deixou um legado que transcende seu tempo na Terra. Sua amiga Necy, de Recife, manifestou o desejo de criar um Memorial em seu nome, para preservar todo o material que ele produziu. Sua paixão pela cultura e sua busca incansável por justiça e liberdade continuarão a inspirar todos aqueles que tiveram a honra de conhecê-lo.

    José Leal, o homem que enfrentou a escuridão da ditadura militar e emergiu como um defensor ardente da cultura brasileira, permanecerá vivo em nossos corações. A cultura que ele tanto amou e promoveu continua a pulsar, e seu espírito, com certeza, vive.

    João Pernambuco vive! José Leal vive!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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