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    Pedro Desidério Checchetto

    Psicologo Clínico, Pesquisador em Psicologia Social e Professor Universitário. Doutorando em Psicologia Social pela PUCSP/URV - Espanha

    9 artigos

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    Juliana e a juventude invisível: histórias que se repetem

    "As histórias de jovens como Juliana questionam a quem servem as políticas públicas, quais são as reais oportunidades oferecidas"

    Moradores em situação de rua em SP (Foto: FOTO:Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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    Há 12 anos, em minha atuação como psicólogo social, conheci Juliana. Ela era uma jovem inteligente, carismática, com um brilho difícil de ignorar,  uma história que carregava o peso de São Paulo em suas costas. Usuária de crack, mãe jovem, com uma infância marcada por abandono e dificuldades. Moradora de rua, a garota circulava pelo centro como uma espécie de embaixadora informal das praças, vielas e avenidas que compõem o cotidiano invisível da cidade.

    Ela tinha sonhos: queria escrever um livro sobre sua vida, uma vida cheia de personagens, tramas, aventuras e sobrevivência. As histórias que ela contava com humor e sem autocomiseração me mostravam o quanto há de resiliência, criatividade e esperança mesmo nos cenários mais adversos. Juliana, que já passara pela Fundação Casa, falava com carinho das aulas de coral, dos filmes e livros que devorou — mais de 100, como ela mesma fazia questão de frisar —, e dos momentos de descoberta e afeto que viveu ali, mesmo em um contexto tão desafiador.

    Ela lia Zíbia Gasparetto, Anne Frank, Esmeralda Ortiz, autoras que, de alguma forma, ecoavam as complexas camadas da vida que ela levava. Lembro-me de como ela dizia que um dia gostaria de ser “uma nóia que se deu bem”. Esse desejo, tão simples e profundo, traduzia não apenas sua vontade de transcender, mas também sua visão clara das barreiras que a cercavam.

    Esses anos passaram e talvez Juliana já seja uma mulher diferente ou talvez sua história tenha se repetido com novas "Julianas", jovens que nasceram e crescem em meio a um sistema que falha em fornecer amparo, alternativas e dignidade. O centro de São Paulo ainda abriga jovens que, como ela, são ao mesmo tempo protagonistas e vítimas de uma narrativa social marcada pela negligência.

    As histórias de jovens como Juliana questionam a quem servem as políticas públicas, quais são as reais oportunidades oferecidas e, mais ainda, como podemos transformar essas vidas que são marcadas por uma desesperança tão bem disfarçada pela bravura do dia a dia. Sua vida e a de tantos outros jovens revelam, ao mesmo tempo, as possibilidades que poderiam existir e as promessas que continuamos a quebrar.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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