Justiça por Marielle e Anderson
"Marielle, que tantos tentaram silenciar, se transformou em uma força viva, um símbolo", escreve Sara Goes
Eu estava ao vivo agorinha no Boa Noite 247 quando Marcelo Auler entrou do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro com um furo jornalístico: Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram considerados culpados por todos os crimes que envolveram o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. O que eu deveria sentir? A notícia chegou como um raio, apesar da forma sensível e delicada com que Auler a trouxe para nós. Eu não sei o que eu senti. Qual é o nome do sentimento que temos quando é feita uma justiça tardia, quase fria, que parecia incompleta, como se chegasse sem uma parte essencial, algo que a tornasse plena?
Marielle, que tantos tentaram silenciar, se transformou em uma força viva, um símbolo. Em algum ponto, ela se libertou, espalhando-se em murais, nas marchas, nos gritos de quem luta. Ela está livre. Mas o que sinto não é isso. É uma sensação que toma conta, talvez porque, enquanto Marielle persiste como força, nós seguimos bambos, nos agarrando em um fiapo de democracia cada vez mais simbólico.
Ao ouvir as sentenças — 78 anos e 8 meses para Ronnie Lessa, 59 anos e 4 meses para Élcio de Queiroz —, pensei na ausência. A justiça pareceu um gesto incompleto, porque os mandantes continuam nas sombras. Para eles, nenhuma sentença, nenhum nome revelado. É como se a resposta esperada nunca se completasse, e eu, que esperava por um momento de alívio, senti o gosto amargo da incompletude.
Penso na viúva de Anderson. Anderson, que naquela noite fatídica estava ao lado de Marielle, é muitas vezes apenas um detalhe na narrativa, mas sua perda é igualmente devastadora. Imagino essa mulher, que vive o luto de forma íntima e marginalizada, carregando um filho e uma dor que poucos veem, mas que nunca se apaga. A ela, essa justiça traz um tipo de consolo que não se completa.
A condenação trouxe uma resposta, mas não é suficiente. Marielle está livre, sim, mas nós continuamos presos a um sistema que não responde por inteiro. Ela transcendeu, mas aqui estamos, ainda inquietos, com a sensação de que falta algo. Que esse seja um passo e não o fim, pois a justiça para Marielle e Anderson ainda está incompleta, à espera das respostas que seguimos buscando. Eu quero justiça por Marielle e Anderson.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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