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    Ronaldo Lima Lins

    Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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    "Kids Pretos" (com bolinhas verde-amarelas)

    Os tais elementos exageraram nas suas vocações e se esqueceram de que as Forças Armadas existem para proteger

    Kids pretos presos pela PF: Rafael Martins de Oliveira, Hélio Ferreira Lima, Rodrigo Bezerra de Azevedo e Mario Fernandes (Foto: Arquivo pessoal/Reprodução)

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    A nação tomou conhecimento, estarrecida, das estrepolias de um grupo de elite militar, conspirando para tomar o poder e assassinar o Presidente, o Vice e um Ministro do Supremo. Graças à Polícia Federal, soubemos que essa gente integrava os chamados “Kids pretos” e se associava a Comandos Especiais, programados para lutar contra subversivos e guerrilheiros. Sob a capa de defensores do Estado, agiram para ameaçar e tentar derrubar autoridades constituídas por meio de uma insurreição capitaneada por membros do antigo governo. 

    Os tais elementos, com prestígio adquirido não se sabe onde, e inspirados no modelo dos rangers norte-americanos, exageraram nas suas vocações e se esqueceram de que as Forças Armadas existem para proteger e não para torpedear governos eleitos. Respeito aos pleitos, nos sistemas democráticos, representa uma função primordial de quem detém as armas. Nesse sentido, pareceu exemplar a ida à Câmara dos Deputados do General Tomás Paiva, Comandante do Exército, tirando dúvidas e prestando esclarecimentos aos parlamentares. 

    No confronto com Marcel van Hatten, o jovem irreverente e agressivo sempre a ponto de explodir, colocou-o no devido lugar pela pura determinação dos argumentos, como se, de fato, estivesse ao lado da Lei. Mostrou-se inteligente, preparado e formado nas normas do espírito democrático. Um líder autêntico, enquanto, do outro lado, tínhamos um militante partidário preocupado em desestabilizar a administração vigente em favor da extrema direita. 

    Nas conspirações agora denunciadas, os tais “Kids” agitaram bandeiras que nada tinham a ver com a discrição ou a neutralidade dos capuzes com os quais costumam se disfarçar. Implícitas nas ações e nas palavras colhidas segundo as investigações havia declarações de guerra contra os resultados eleitorais para a perpetuação dos antigos dirigentes no poder. Claro que obedeciam a orientações de cima, através de laços com autoridades próximas a Jair Bolsonaro e seus asseclas, incluindo os generais Braga Netto, Heleno, Mauro Cid e outros.

     Para quadros supostamente bem treinados (com dinheiro público) visando defender a democracia, resvalaram para clara subversão. Os “Kid pretos” (com bolinhas verde-amarelas) fariam melhor, junto com Tarcísio de Freitas e Malafaia, nos comícios de apoio ao renegado capitão, louco para recuperar prestígio e se livrar de acusações. 

     Nada disso soa tranquilizador no que diz respeito a nossas perspectivas de paz social. Parece evidente que, do ponto de vista ideológico, os treinamentos do Exército falharam drasticamente. Infringiram em sua verdadeira vocação no sentido de dever obediência hierárquica à autoridade superior, no caso ao Presidente da República. 

    O que gastamos com o aparelhamento das nossas defesas só se justificaria se, por trás disso, permanecêssemos seguros – e não ameaçados. E não se trata de estrepolias de pequena monta. Algo do tipo poderia ter transbordado e gerado situações trágicas. Uma punição severa é o que os espera. Que nunca mais se imagine a possibilidade de setores, adestrados ou não, se tornarem maiores do que são.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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