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    Paulo Henrique Arantes

    Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”. https://noticiariocomentado.com/

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    Liberalismo debiloide

    Esse Luiz Felipe D’Avila é mesmo um pândego

    (Foto: Marcos Vinício Parodi/reprodução/Instagram @lfdavila)

    “Na véspera da Revolução Francesa, o rei Luís XVI estava alienado da situação dramática da nação. A fome que assolava o país, o caos das finanças públicas e a existência de um governo que extorquia a população por meio de uma carga tributária brutal para financiar os privilégios e as mordomias de uma corte encastelada no Palácio de Versalhes desencadearam a Revolução Francesa, em meados de 1789. Lula III está cada vez mais parecido com Luís XVI. A lição que o presidente brasileiro deveria aprender com o rei da França é de que o povo não aguenta o desaforo de maus governantes por muito tempo.”

    Com essas palavras desconectadas da realidade, o “cientista político” Luiz Felipe D’Avila, que foi candidato decorativo a presidente da República pelo partido Novo, começa seu artigo natalino no Estadão. Ao primeiro parágrafo seguem outros seis repletos de mantras neoliberais, aqueles argumentos cansativos sobre “gastança desenfreada”, privilégios, corrupção, ativismo judicial e coisa tal.

    O ficcionista disfarçado de analista político lembra, acertadamente, que às vésperas da Revolução Francesa “a fome assolava o país” e o governo “extorquia a população por meio de uma carga tributária brutal”. Mente descaradamente quando compara aquela França com o Brasil de hoje, em que as classes populares recuperam seu poder de consumo, o desemprego cai ao menor nível histórico e o governo sinaliza com a isenção de imposto de renda a quem ganha até 5 mil reais por mês – para a grita dos pares do articulista, inconformados com a possibilidade de milionários rentistas passarem a pagar imposto para valer.

    Esse Luiz Felipe D’Avila é mesmo um pândego. “O populismo petista alimenta o nacional-estatismo”, escreve o marciano, sem mencionar, mesmo porque não há, alguma empresa estatizada pelo governo Lula. 

    “A existência de uma elite omissa, que abandonou a arena política e apoia líderes populistas, é corresponsável pela degeneração da democracia, da economia de mercado e da liberdade no Brasil”. Aqui, erra propositalmente duas vezes: a elite brasileira não é omissa – é francamente anti-Lula e contra qualquer evolução no campo da justiça social. Foi, sim, corresponsável pela degeneração da democracia ao aplaudir Bolsonaro, mas neste momento a democracia está recuperada e pujante pela força institucional demonstrada e a iminente punição de civis e militares golpistas.

    A performance de D’Avila na última campanha eleitoral presidencial já o desnudara. Escrevemos em 31 de agosto de 2022 artigo dedicado à moderninha figura intitulado “À meia-noite, privatizarei sua alma”, inspirado em hilariante meme que circulava nas redes sociais com sua foto. Autoproclamado novidade, o partido chamado Novo, mas vetusto de ideias, nasceu ultrapassado. Ninguém no mundo civilizado ainda segue Milton Friedman.

    D’Avila talvez nem merecesse referências. Por pitoresco, mereceu-as. O discurso privatista cairia bem para uma elite hipnotizada por desregulamentações do mercado nos anos 80-90. O estereótipo do moderninho, de todo modo, ainda veste bem nos brasileiros cujo sonho de consumo é Miami. 

    A cabeça econômica do colunista do Estadão é a mesma de Paulo Guedes. Os liberais intelectualmente honestos reviram seus conceitos, e André Lara Resende é o melhor exemplo brasileiro. Vai longe o tempo de Ronald Reagan e Margaret Thatcher. Seus resquícios foram soterrados pela crise de 2008. O trabalhador americano perdeu com Reagan e a classe média naquele país viu regredir seu poder aquisitivo, que tinha alcançado o apogeu no pós-guerra pelas mãos do keynesianismo. No Reino Unido, basta verificar a imagem da qual a Dama de Ferro desfruta entre os trabalhadores.

    Políticos e economistas em estado de sanidade não propõem que se saia a estatizar tudo que há pela frente - não se trata disso. Porém, em hipótese alguma cogitam colocar em mãos ligeiras setores estratégicos da economia de um país, tampouco dar a empresários que buscam lucro - e só lucro - autonomia para gerir serviços essenciais à população. Privatizações e concessões mal feitas estão sendo revistas mundo afora, no sentido inverso caminham D’Avila e o Estadao, debiloides do neoliberalismo.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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