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André Gattaz

Jornalista, historiador e editor. Doutor em História Social pela USP. É autor de "A Guerra da Palestina" (Usina do Livro, 2003) e editor da Editora Pontocom

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Licença para matar: EUA autorizam genocídio em Gaza

"É notório que o estado colonialista de Israel tem todo o apoio estadunidense para se portar à margem da lei internacional"

Gaza bombardeada, Benjamin Netanyahu e Joe Biden (Foto: reuters)

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No final do mês de novembro, enquanto havia esperança de que a trégua entre Israel e o Hamas fosse estendida, o Secretário de Estado dos Estados Unidos fez um giro diplomático pelo Oriente Médio. Ao final do giro, afirmou que Israel “tem o direito de fazer tudo o que puder para assegurar que a matança executada pelo Hamas em 7 de outubro nunca possa se repetir”. E, após conceder essa licença para matar, acrescentou hipocritamente que Israel deve proteger os civis, evitar danos à infraestrutura como hospitais e serviços de água, e que os palestinos deslocados do norte devem retornar “assim que as condições permitirem”. No mesmo pronunciamento, o primeiro-ministro israelense deixou claro que o estado sionista retornaria os ataques assim que o Hamas cessasse a entrega dos reféns.

No dia 1º de dezembro, encerrando-se a trégua, imediatamente recomeçaram os bombardeios e avanços terrestres, não apenas sobre o norte de Gaza, de onde foram deslocados centenas de milhares de palestinos, mas também sobre o sul, onde teoricamente estes estariam seguros. Junto a isso recomeçou o rapto dos cidadãos palestinos, capturados às centenas, despidos e transportados para locais desconhecidos. Retomou-se também o bombardeio a campos de refugiados, escolas e hospitais e o fechamento da fronteira egípcia para a saída de refugiados e entrada de alimentos, medicamentos, água e combustíveis. O número de mortos palestinos, em vingança pelos 700 civis israelenses mortos pelo Hamas em 7 de outubro, já chega a 18.800, sendo mais de 8.000 crianças.

Essa nova ofensiva, entretanto, não ofendeu o governo estadunidense, que uma semana depois, diante da retomada das atrocidades cometidas por Israel, achou conveniente vetar uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que propunha um novo cessar-fogo na região, com a interrupção dos bombardeios israelenses. A resolução foi aprovada por 13 membros do Conselho de Segurança, com o voto contrário dos EUA e a abstenção covarde da Grã-Bretanha.

É notório que o estado colonialista de Israel tem todo o apoio estadunidense para se portar à margem da lei internacional. Ao longo dos últimos 56 anos foi frequente a oposição estadunidense a resoluções da Assembleia Geral ou do Conselho de Segurança da ONU condenando Israel pela colonização da Palestina e por todas as tragédias correlatas – e mesmo as poucas resoluções aprovadas por unanimidade não foram jamais executadas, assim como foram, por exemplo, as resoluções condenando a invasão iraquiana do Kuwait, que motivou a formação de uma força internacional para obrigar o país árabe a obedecer às determinações da ONU.

Com isso, a planejada desocupação da Faixa de Gaza continua sendo executada pelo governo israelense, despreocupado inclusive com os 135 reféns que ficaram em poder do Hamas. O norte da região vem sendo sistematicamente destruído, de maneira a impossibilitar o retorno dos palestinos – a destruição não se esgota no bombardeamento de edifícios residenciais e comerciais, mas na demolição planejada de toda a infraestrutura, incluindo ruas e estradas, sistemas de água e esgoto, distribuição de eletricidade e serviços de saúde. O plano de limpeza étnica é evidente, espelhando e amplificando as ações dos colonos sionistas nos anos 1947-1949 e dos soldados-colonos israelenses em 1967. Já na parte sul da Faixa de Gaza, onde se concentraram todos os palestinos da região, os bombardeios isralenses estão sendo realizados de maneira absolutamente aleatória, atingindo áreas residenciais e provocando a morte diária de dezenas de mulheres e crianças – enquanto os homens (e crianças) entre 14 e 60 anos estão sendo sistematicamente capturados e levados para Israel, de maneira a atingir a liderança e os militantes do Hamas. A esta situação soma-se a falta de água, alimentos e medicamentos, que vem provocando uma crise humanitária sem precedentes na região. Há relatos de palestinos passando até três dias sem conseguir comer, levando o representante da UNRWA, o órgão da ONU para os refugiados palestinos, a falar num “tsunami humanitário” diante da falta de insumos básicos.

Enquanto isso, a repressão israelense aperta o cerco na Cisjordânia, governada pela Autoridade Palestina, que durante anos buscou a acomodação com Israel, sem obter ganhos concretos com isso. A esperança do governo de extrema-direita israelense é que as mortes e prisões diárias venham a provocar um novo levantamento palestino na Cisjordânia, de maneira a justificar uma ação semelhante à que vem sendo executada em Gaza. Fica bem claro, assim, o plano israelense de dar fim ao sonho de um Estado palestino, representado pelo mapa que o primeiro-ministro apresentou na ONU semanas atrás. O mundo está presenciando uma tragédia humanitária e a consolidação de um poder colonizador e fascista, mas lava as mãos diante da licença concedida pelo poder hegemônico maior. Até quando?

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