Lira calado é um poeta
"Seria Arthur Lira o diretor da peça promocional da Marinha que insinua que brasileiros não querem trabalhar?", indaga Sara Goes
As declarações de Arthur Lira no Fórum JOTA sobre os programas sociais no Brasil reforçam uma visão distorcida e preconceituosa que tem sido usada politicamente para deslegitimar políticas públicas destinadas às populações mais vulneráveis. Ao afirmar que "os filtros ficaram muito flácidos, ficaram muito largos" e que "quem está no Bolsa Família não vai trabalhar mais nunca", Lira reproduz narrativas que desconsideram as complexidades da pobreza no Brasil e os dados concretos sobre os impactos positivos dessas iniciativas.
Seria Arthur Lira o diretor da peça promocional da Marinha que insinua que brasileiros não querem trabalhar? O vídeo, que gerou repercussão negativa nas redes sociais por sua narrativa enviesada, parece alinhado ao discurso de Lira. Ambos colocam o peso das dificuldades econômicas sobre os ombros dos trabalhadores e beneficiários de programas sociais, como se a pobreza fosse uma escolha ou sinal de "preguiça". A Marinha, até o momento, não se manifestou sobre o conteúdo do vídeo, mas o silêncio diante de uma peça publicitária tão controversa é revelador.
Lira, em suas falas, questiona o acúmulo de programas sociais, como benefícios municipais, estaduais e federais, sugerindo que trabalhadores informais acabam ganhando mais do que funcionários com carteira assinada. Ele ainda cita a planta de celulose da Suzano, no Mato Grosso, alegando que a mão de obra local foi insuficiente e que "toda mão de obra veio do Haiti, veio da Venezuela", enquanto brasileiros estariam acomodados no Bolsa Família. Essas falas não apenas ignoram as condições estruturais que dificultam o acesso ao mercado de trabalho formal, mas também refletem um profundo desconhecimento das realidades socioeconômicas enfrentadas pela população mais pobre.
Ao tratar os beneficiários como se fossem responsáveis por sua condição, Lira desvia o debate de questões estruturais, como a falta de investimentos em qualificação profissional, educação e políticas públicas que garantam a inclusão social e econômica. A narrativa de que programas como o Bolsa Família promovem dependência é facilmente refutada por dados. Por exemplo, entre 2005 e 2019, 64% das famílias que recebiam o benefício deixaram o Cadastro Único, demonstrando mobilidade social e redução da dependência estatal. Esses números mostram que as transferências de renda, longe de criar uma "área eterna", ajudam as famílias a superar ciclos de pobreza.
As falas de Arthur Lira também expõem o uso político desses discursos. A ideia de "filtros mais rigorosos" em programas sociais frequentemente serve como justificativa para cortes e ajustes fiscais que acabam penalizando os mais pobres. Enquanto isso, outros setores, como o mercado financeiro e grandes empresas, continuam a ser beneficiados com incentivos fiscais e subsídios bilionários.
Por fim, discursos como os de Arthur Lira e peças publicitárias como a da Marinha cumprem o mesmo papel: reforçar estigmas e preconceitos que deslegitimam políticas essenciais para a redução das desigualdades. Ambos ignoram que a pobreza no Brasil não é uma questão de escolha, mas o reflexo de injustiças históricas e estruturais. Combater essas narrativas e defender programas como o Bolsa Família é fundamental para construir uma sociedade mais justa, inclusiva e consciente de seus desafios reais.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: