Loredano: 'minha cachaça é a imprensa'
Artistas como Lula Palomanes, Bruno Liberati e outros começaram copiando Cássio Loredano
Rio - É sempre uma alegria voltar ao Bar do Joia. Nesta sexta-feira, voltamos, eu e o Netto ao simpático boteco. E qual não foi a minha alegria, ao reencontrar lá o genial Cássio Loredano, que eu não via desde a época do ‘Pasquim’. Batemos um papo gostoso, relembrando histórias do velho ‘Pasca’.
Diante do meu comentário: “Você é genial! Artistas como Lula Palomanes, Bruno Liberati e outros começaram copiando você.” Loredano, do alto da sua humildade, corrigiu: ‘Não, eles não me copiam. Ele me seguem, como eu seguia Hermenegildo Sabat, Luís Trimano e outros.”
Lembrei de uma história do Jaguar com Loredano:
Jaguar é fã do cartunista Steinberg. No início da carreira, “chupava” descaradamente o romeno.
Como não tinha grana para comprar as revistas estrangeiras, fez amizade com o gerente de uma livraria chamada “América & China”, que ficava na rua do Ouvidor que o deixava admirar os desenhos de Steinberg, publicados na revista “The New Yorker”.
Era tão fã que não admitia que um cartunista não conhecesse Saul Steinberg, segundo ele, “o Picasso do desenho de humor”.
Um dia, Cássio Loredano, então um rapaz com vinte e poucos anos, recém chegado de São Paulo, que desenhava para o jornal “Opinião” - em um prédio vizinho - foi conhecê-lo na redação de “O Pasquim”, em Copacabana.
“Você não conhece Steinberg!??”, indignou-se. “Toma! Leia esses livros!”
Loredano leu tudo que pode de Steinberg. Mas leu também Hermenegildo Sabat, Luis Trimano, e J. Carlos. Copiou os mestres até encontrar o próprio caminho. "No início, era uma poluição violentíssima. Mas, com o tempo, você vai limpando, vai encontrando a essência da fisionomia", contou.
Loredano Cássio Silva Filho, nasceu no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro (RJ), em 1948. Seu pai era um oficial da Cavalaria e sua mãe uma dona de casa, cearense, filha de um abolicionista que libertou os escravos do Ceará, antes mesmo de 1888. Seu pai estava de passagem pelo Rio, e Loredano acabou nascendo no Hospital do Exército. Passou a infância entre os Estados do Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Em São Paulo, ainda adolescente, deixou a casa dos pais e seguiu para Santo André, na Grande São Paulo. Começou em 1968, no “Diário do Grande ABC”, em Santo André, que tinha acabado de virar diário. Entre 1968 e 1969, atuou como revisor, repórter, diagramador, redator, secretário gráfico, secretário de redação e caricaturista.
Na capital, trabalhou como repórter na sucursal paulista do jornal O Globo (RJ) onde conheceu, por intermédio de Elifas Andreato, o caricaturista argentino Luís Trimano, ilustrador do Jornal da Tarde (SP).
Mudou-se, em 1972, para o Rio de Janeiro, e, a convite de Raimundo Pereira (um dos donos do jornal) assumiu o cargo de ilustrador no recém-fundado semanário “Opinião”. Sem verba para fotografia, a direção decidiu que o jornal seria todo desenhado.
Dono de um estilo único na criação de caricaturas, seu traço forte, preciso e dinâmico, impressiona pela captação de gestos e impressões.
Millôr Fernandes, dizia: “Filho de um oficial de cavalaria, Loredano desde cedo se sentiu obrigado a desmontar o ser humano”.
No Rio, colaborou, eventualmente, com o “Jornal dos Economistas”, ‘O Pasquim”, “O Globo”, “Jornal do Brasil” e com as revistas “Veja” e “Piauí”.
Morou na Alemanha, França, Itália e Espanha, colaborando para grandes periódicos como: “Frankfurter Allgemeine Zeitung”, “Die Zeit”, “La Repubblica”, “Il Globo”, “Libération”, “Magazine Littéraire” e “El País”.
No retorno ao país, em 1994, fixou-se novamente em São Paulo, trabalhando para os jornais “O Estado de São Paulo” e “Gazeta Mercantil”.
Pesquisador, Loredano escreveu livros sobre os cartunistas J. Carlos, Nássara, Guevara, Figueroa e Luís Trimano.
Avesso aos avanços tecnológicos, até hoje ele afirma não saber trabalhar em computadores: "O original é nanquim e papel, um negócio anacrônico mesmo."
Loredano, hoje com 76 anos, divide o apartamento na Rua Marquês de Abrantes, no Flamengo, com a mulher, Rosana Lobo, as filhas e cerca de 4.000 livros.
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