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    Emir Sader

    Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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    Luiz Inácio Lula do Brasil

    "O certo é que esta semana é um marco na situação política contemporânea no país. Lula, sem dizê-lo, desatou a campanha eleitoral", analisa o sociólogo Emir Sader sobre a entrevista do ex-presidente Lula

    Lula (Foto: Ricardo Stuckert)

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    O Lula que falou hoje ao país é o Luiz Inácio Lula do Brasil. É, ao mesmo tempo, o imigrante nordestino que chegou para ser operário em São Paulo. O mesmo que batalhou duramente contra o arrocho salarial da ditadura e a própria ditadura. O mesmo Lula que fundou o PT e ajudou a fundar a CUT e o MST.

    O mesmo Lula que ousou se candidatar a presidente do Brasil em 1989 e quase ganhou, não fosse as sujas manobras da Globo. O mesmo que comandou a oposição ao neoliberalismo de Collor e de FHC.

    É o mesmo Lula que levou a esquerda finalmente a ganhar as eleições presidenciais no Brasil, em 2002. É o Lula que foi o melhor presidente que o Brasil já teve, que atacou as desigualdades que marcam o país, que fez a economia brasileira voltar a andar, que levou o nome do Brasil a seu mais alto nível no mundo.

    É o Lula que elegeu a primeira mulher presidenta do Brasil, o mesmo Lula que batalhou para sua reeleição. É o Lula que comandou a resistência ao golpe contra Dilma e aos governos neoliberais de volta ao país pela fraude. 

    É o Lula que, com toda a dignidade, sofreu prisão injusta e condenação absurda. É o Lula que resistiu, provando sua inocência, até recuperar sua liberdade.

    O Lula que falou é o Lula de corpo inteiro. Começou da sua trajetória, de como ele saiu do mesmo sindicato dos metalúrgicos, para se apresentar, a contragosto, à polícia federal, porque sabia que era inocente. Como se esperasse esse momento, em que sua inocência fosse reconhecida e ele poderia voltar ao mesmo sindicato de onde saiu. 

    Hoje Lula voltou ao sindicato de São Bernardo, - onde eu também estava -, fez o histórico de tudo o que passou desde então, até o dia de ontem, histórico, também pelo Jornal Nacional, como o Lula ressaltou. Fechou-se um período que incluiu a prisão do Lula, sua sobrevivência na prisão de Curitiba.

    Dessa forma o Brasil passa a sair do processo de judicialização ou de lawfare, a nova estratégia da direita, que deu o golpe contra a Dilma, sem nenhum fundamento, prendeu, condenou e impediu o Lula de ser candidato, igualmente sem fundamento, para terminar na manobra eleitoral monstruosa que levou à eleição de Bolsonaro. A Argentina contornou o lawfare pela eleição de Alberto Fernandez, a Bolívia, pela eleição de Luis Arce, o Equador, pelo encaminhamento para a eleição de Andres Arauz.

    No Brasil, o processo tem ainda que desembocar nas eleições de outubro de 2022. Fica claro agora, que o Lula é o candidato. A pesquisa da semana passada, com Lula com 50% de apoio e o mais baixo nível de rejeição entre todos os pré-candidatos, com tendência de alta, enquanto Bolsonaro tem 38%, alto nível de rejeição e tendência de baixa.

    Se faltasse algo, as medidas favoráveis a Lula, que tendem a restabelecer  seus direitos políticos plenos, somado a seu discurso, que faz reaparecer não apenas sua figura como grande líder da oposição, projetam a disputa entre Lula e Bolsonaro para 2022. Este golpeia duramente os outros candidatos da direita, enquanto no campo da esquerda, a desproporção entre Lula e os outros, desfavorece fortemente a todos estes.

    A posição do Lula descoloca não somente aos outros pre-candidatos da esquerda, mas também as tentativas de conquista de votos do centro para uma candidatura própria ficam enfraquecidas, pelos apelos do Lula ao empresariado a a outras forças politicas, para a construção de um governo que retome o crescimento econômico com distribuição de renda. 

    O cenário político fica mais definido, mas resta saber como sobreviverá o Brasil até 2022. Porque se vive o pior momento da crise econômica e social, assim como da pandemia. A deterioração da pandemia e a lentidão da vacinação projetam a recessão econômica também para 2022. A direita manifesta seu temor de que as concessões que Bolsonaro será obrigado a fazer, sejam inócuas, porque Lula se maneja muito melhor na articulação de políticas estatais para políticas sociais, além de romper com o teto de gastos. 

    O certo é que esta semana é um marco na situação política contemporânea no país. Lula, sem dizê-lo, desatou a campanha eleitoral. Bolsonaro já priorizava seu comportamento e seu discurso adaptado a seu objetivo maior, a reeleição.

    A projeção, feita a partir de hoje, é amplamente favorável a Lula. A eventual derrota de Bolsonaro representará também a derrota da aventura em que os militares se meteram, ocupando milhares de cargos no governo. A superação do lawfare terá também esse aspecto particular da experiência brasileira.

    Lula reapareceu, identificado com um projeto nacional, acenando com uma mensagem de paz, de esperança e de acordo político. O novo desafio na vida do Lula se projeta como mais uma disputa, que tem caracterizado a vida dele. Sua disposição, sua força política e seu carisma demonstram que ele tem plenas condições de sair vitorioso uma vez mais

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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