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    Jilmar Tatto

    Jilmar Tatto é ex-secretário de Mobilidade e Transportes das gestões de Fernando Haddad e Marta Suplicy, foi deputado federal e é secretário Nacional de Comunicação do PT

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    Lula, a civilidade e a “nova política”

    Aqueles que agem com civilidade, responsabilidade, respeito e compromisso com a democracia devem tomar a iniciativa para além do gesto solidário com Lula e familiares, por ocasião do falecimento do pequeno Arthur. Autocrítica e pedido de desculpas a todos os brasileiros pela dramática situação a que o país foi colocado seriam alguns passos nessa direção

    Lula, a civilidade e a “nova política” (Foto: Rafael Ribeiro)

    Momento de dor pela perda de um ente querido, o presidente LULA, há quase um ano encarcerado, mais uma vez esteve no centro da cena política nacional, mesmo sob imposição de total silêncio para ir ao velório do neto. O pequeno Arthur, tragicamente, foi referencia de manifestações envolvendo diferentes atores sociais e políticos, seja pelo ataque vil nas redes sociais, seja pelas condolências aos familiares desta criança que faleceu precocemente, em particular ao avô, ex presidente da República.

    A barbárie e a grosseria verificadas nas redes sociais, com destaque às mensagens de um dos filhos do atual presidente, marcam de maneira extremamente negativa esta etapa da vida política nacional. Na ótica dos governistas de plantão, eventuais divergências são encaradas como necessidade de extermínio do oponente, achincalhe de quem pensa diferente e ódio à flor da pele a todo o instante. Parece ser fonte de energia que os alimenta: xingamentos gratuitos, baixo nível de argumentos e absoluta falta de respeito com quem não concorda com eles.

    O que chamam de “nova” política, lamentavelmente, tem como marca essencial a intolerância, o preconceito, a discriminação e inclusive a violência. Por quanto tempo essa coisa nefasta e assustadora se sustenta, é impossível prever. Mas a sua origem é facilmente identificável. Vem de uma onda de criminalização da política que se consolidou a partir de dois pilares: de um lado, a contribuição de parte expressiva da grande mídia; de outro, a reação desesperada e o vale-tudo de derrotados em eleições, que apostaram no quanto pior, pior, em especial a de 2014. Essa parte da história bem sabemos.

    Mas os desdobramentos e desfecho disso ninguém podia prever. Souberam como começar a guerra suja na vida institucional do país, porém não imaginaram o resultado final, que davam como certo que seria favorável às suas pretensões. Como perguntou o celebre Mané Garrincha ao técnico Vicente Feola: “combinaram com os russos”? E tivemos como consequência a excrecência política que vivemos atualmente. Hoje não há, infelizmente, o mínimo de civilidade na política. A democracia brasileira entrou em xeque e a Constituição tornou-se peça cujo valor como força de lei é apenas relativo e secundário.

    E o que tem isso a ver com o pequeno Arthur, neto do ex presidente? Embora muito bem-vindas, chamaram a nossa atenção as manifestações de pesar de tucanos de alta plumagem, seja por telefone, pelas redes sociais ou outras formas de comunicação. Foram educados, solidários a LULA e familiares. Gesto natural de quem se comporta com civilidade e respeito, bem ao contrário do que vivenciamos atualmente com o clã Bolsonaro e seus seguidores.

    Estaria contido nos gestos dos medalhões do PSDB um certo sentimento de culpa e arrependimento pela guerra fratricida da qual foram principais protagonistas? Digo no sentido de terem contribuído de maneira tão incisiva para levar o país à situação em que se encontra. No vale-tudo do poder pelo poder colocaram em xeque nossa Constituição e destroçaram a democracia. Ousaram acreditar que uma suposta destruição do PT reconduziria, automaticamente, o tucanato de volta ao comando do governo federal. E o feitiço virou contra o feiticeiro.

    A altivez de LULA no velório do neto foi observada no Brasil e no mundo, a ponto de mais uma vez irritar seus algozes. O gesto nobre de condolências de membros e simpatizantes do PSDB precisa ser louvado e elogiado, mas deve também ser visto como um ponto de inflexão acerca da responsabilidade dos atores políticos que pautam sua atuação pela seriedade e respeito, bem o oposto do que temos hoje. Uma turma da pesada e despreparada, literalmente, governa nosso país. E a cada dia um sobressalto, uma agressão a pessoas e/ou instituições, o que nos coloca em evidência internacional de maneira pejorativa, vergonhosa.

    O Brasil não é isso, não precisaria passar por isso. Aqueles que agem com civilidade, responsabilidade, respeito e compromisso com a democracia devem tomar a iniciativa para além do gesto solidário com LULA e familiares, por ocasião do falecimento do pequeno Arthur. Um pouco de autocrítica e um pedido de desculpas a todos os brasileiros pela dramática situação a que o país foi colocado seriam alguns passos nessa direção, ponto de partida para recolocar nosso país no panteão das nações onde democracia é coisa séria, um valor em si a ser preservado e respeitado e não um favor da caserna.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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