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    Helena Chagas

    Helena Chagas é jornalista, foi ministra da Secom e integra o Jornalistas pela Democracia

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    Lula aliancista enquadra PT, acena a militares e acalma o centro

    "Lula fez o que sempre faz nas divergências do PT: deixa todo mundo gritar, mas avisou que, uma vez tomada a decisão, ela será seguida", diz Helena Chagas

    Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)

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    Por Helena Chagas, para o Jornalistas pela Democracia 

    O principal recado do ex-presidente Lula na entrevista aos sites independentes foi o de que está pronto para ter o ex-governador Geraldo Alckmin como vice em sua chapa, numa aliança não só para vencer a eleição, mas para governar. Nos últimos dias, adversários do petista e a própria mídia vinham levantando a cada hora maiores dificuldades para essa aliança, dando grande ênfase aos problemas do PT na negociação com o PSB e à reação interna ao ex-tucano - o que só mostra a importância estratégica do movimento de aproximação com o ex-governador para Lula.

    Mas o recado serviu também ao público interno, os petistas que estão vindo a público detonar o entendimento, patrocinando até um abaixo assinado da militância contra Alckmin. Sem confrontar líderes da estatura dos ex-presidentes da legenda Rui Falcão e José Genoíno, seus amigos que vem liderando esse movimento, Lula fez o que sempre faz nas divergências do PT: deixa todo mundo gritar, mas avisou que, uma vez tomada a decisão pelo partido, ela será seguida.

    "O PT não é problema. É um partido político. As pessoas têm o prazer e o direito de divergir, até o PT decidir. E aí todo mundo cumpre. E vão aparecer rindo, e não chorando", disse Lula, que, a seu modo, acabou por enquadrar o partido. O ex-presidente esgrimiu em seguida o principal argumento para justificar a ampliação das alianças: resgatar o país desmantelado por Jair Bolsonaro, restituindo ao povo a democracia e e lhe devolvendo condições de vida que perdeu.

    "O que estamos disputando no Brasil é tão sério...", disse ele. Em outros momentos da entrevista, afirmou que não será candidato do PT, mas de todas as forças que tiverem esse objetivo.

    Outros recados importantes foram dados ao longo de mais de duas horas de entrevista. Lula acenou ao birrento PSB com a desistência das candidaturas de Humberto Costa, em Pernambuco, e de Fabiano Contarato, no Espírito Santo, se for celebrada a federação com os socialistas. Mas riscou o chão: da candidatura Haddad, em São Paulo, o PT não vai recuar.

    Faz parte do recado aos navegantes políticos o anúncio de Lula de que vai conversar de novo nos próximos dias com Gilberto Kassab, encontro adiado apenas pela Covid do presidente do PSD. Se haverá novidade ou não, como uma reversão da decisão do PSD de lançar candidato presidencial, ninguém sabe. Mas só a conversa já deixa os outros aliados curiosos, talvez mais propensos a apressar seus próprios entendimentos.

    Lula mandou mensagens a públicos variados, inclusive militares, a quem fez um gesto de paz. Defendeu Forcas Armadas bem equipadas e valorizadas para cumprir sua missão constitucional, enfatizando não considerar os militares que estão no atual governo como representativos da instituição.

    Ao mercado financeiro, deu o duro recado de que não vai de forma alguma governar para eles e para as demais elites.  Mas no que interessa de verdade para esses setores, a sinalização foi positiva. Mesmo rejeitando o fiscalismo, repetiu os bons números da economia em seu governo, deixando claro que a responsabilidade fiscal está embutida em sua forma de governar, embora longe de ser prioridade. Sua defesa das alianças, "até com a centro-direita", foi destacada nos primeiros informativos enviados ao mercado.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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