Lula, como Joãosinho Trinta: o povo gosta é de luxo
O jornalista Mauro Lopes anota a sabedoria de Lula que, como fez antes dele o saudoso Joãosinho Trinta, anuncia: o povo gosta é mesmo de luxo e detesta miséria
Por Mauro Lopes
Pouco antes do Carnaval de 1980, em janeiro daquele ano, o imortal carnavalesco Joãosinho Trinta (1933-2011) escreveu um artigo com uma frase que causou enorme polêmica: “O povo gosta de luxo. Quem gosta de miséria é intelectual”. Foi um furor e ele foi criticado asperamente por setores da esquerda.
40 anos depois, Lula retoma Joãosinho Trinta. Na verdade, ele tem repisado o tema aqui e ali. Mas numa entrevista à Rádio Progresso FM, de Juazeiro do Norte (CE), com transmissão para toda a região do Cariri, no último dia 17, o ex-presidente formulou a questão de maneira mais abrangente: "Todos têm direito ao resultado daquilo que produzem. Todos devem ter condição de comprar aquilo que produzem. Que todos possam viver bem, estudar, comer, trabalhar, passear, ter acesso à cultura. Isso é o que o povo sonha. Lamentavelmente, João Hilário [da Rádio Progresso], a elite acha que o povo nasceu e se conforma em ser pobre, que o povo não gosta de luxo. Não, o povo gosta! O povo gosta de comer bem, de trabalhar bem, de ganhar bem, de se vestir bem, de ter carro, de ter motocicleta, de ter a família bem criada, bem estruturada. É disso que o povo gosta”.
Lula causa furor na esquerda com essa posição. Claro que as críticas na esquerda não são feitas na mesma intensidade que aquelas destinadas ao carnavalesco. Mas há uma crítica usual na esquerda, ainda que meio arquivada, mas foi um tema central logo no pós-golpe, em 2016, e que confronta essa visão de Lula.
É aquela segundo a qual em seu governo, Lula “só” teria se preocupado com as condições concretas de vida do povo e deixado de lado a “educação política”. O espírito da crítica a Joãosinho Trinta em 1980 não era muito diferente.
Em relação aos governos do PT, o frade dominicano Frei Betto condensou as críticas de diversos segmentos, afirmando que Lula e Dilma não teriam “promovido a alfabetização política do nosso povo” e que teria se criado “muito mais uma mentalidade de consumista do que de cidadão protagonista político”.
Para as pessoas das chamadas médias ou ricas, para os intelectuais denunciados por Joãosinho Trinta, a “educação política” seria tão ou mais importante que o direito ao consumo. Para Lula, não. O direito ao consumo e o combate à fome são a primeira prioridade. Como diz Lula, quem já passou fome, quem vive numa favela, num cortiço, quem está desempregado sabe bem qual é sua prioridade.
O povo não se conforma com a fome, com a miséria. E quer luxo, adora luxo. É óbvio que o luxo, para os mais pobres, é diferente do luxo dos ricos. Para estes, luxo é carro blindado, jatinho, hotéis cinco estrelas na Europa. Para aqueles, como indicou Lula, é comer bem, vestir bem, morar bem, passear, ter acesso à cultura, um carro, uma moto. É uma família bem criada, bem estruturada. Para Lula, isso tudo compõe desde logo uma educação política, uma educação para a cidadania, que aos mais pobres foi negada ao longo da história.
Lula nunca aceitou a crítica da falta de prioridade à educação política”.
Os governos do PT reduziram a pobreza extrema (pessoas que vivem com menos de US$ 1 ao dia) em 75% e a pobreza em 65%. É um caso de sucesso mundial sem precedentes. No front da formação do povo brasileiro, o que se fez jamais havia sido visto antes O orçamento do MEC triplicou, passando de R$ 49,3 bilhões, em 2002, para R$ 151,7 bilhões, em 2015.
Por ideia de Lula o dinheiro do pré-sal, descoberto em 2006, foi destinado para educação. Em 2013, 75% dos royalties do petróleo e 50% do Fundo Social do Pré-Sal foram destinados para a educação.
ProUni e Fiespe rmitiram o ingresso de milhões de estudantes de baixa renda nas universidades privadas. Em 2015 , eram 8,03 milhões de alunas, alunos e alunes no ensino superior, contra 3,52 milhões, em 2002. Além disso, os universitários mudaram de perfil. Com a Lei de Cotas, aprovada em 2012, em 2019, pela primeira vez na história, pretos e pardos se tornaram a maioria dos estudantes nas universidades federais.
Uma revolução.
Há mestres e doutores negras, negros, trans, gentes de todos os caminhos preparados, prontos para assumirem funções estratégicas no futuro governo Lula, se ele for eleito agora em 2022.
Não é função de um governo prover “educação política”. Isso é papel dos partidos, dos movimentos sociais, da formação inclusiva e crítica nas escolas.
O povo de Joãosinho Trinta e Lula gosta de luxo e detesta a miséria. Esta “vida de luxo” é em si mesma uma educação política.
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* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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