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    Pablo Nacer

    Jornalista, autor do livro Meu Avô A´uwê - sobre três viagens a uma aldeia indígena xavante - e ex-Brasil 247, atualmente vive na Austrália

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    Lula é o candidato do povo

    O recado de ontem foi claro: Lula é o candidato do povo. Cheguei na terça-feira em Brasília, véspera do registro, e encontrei alguns amigos de lá. Um deles, que trabalha há anos no Congresso e é, digamos, de fora da nossa bolha, mostrava muita resistência em aceitar a minha leitura de que, no eventual impedimento de Lula, há uma chance considerável de Haddad passar para o segundo turno. Explico

    Lula é o candidato do povo (Foto: Brasil247)

    O recado de ontem foi claro: Lula é o candidato do povo. Cheguei na terça-feira em Brasília, véspera do registro, e encontrei alguns amigos de lá. Um deles, que trabalha há anos no Congresso e é, digamos, de fora da nossa bolha, mostrava muita resistência em aceitar a minha leitura de que, no eventual impedimento de Lula, há uma chance considerável de Haddad passar para o segundo turno. Explico.

    Muita gente vem comparando o pleito presidencial de 2018 com o de 1989, entre outros motivos pelo alto número de candidatos e pela ausência da polarização PT x PSDB, o que deverá fragmentar a distribuição dos votos e, consequentemente, baixar o corte para chegar no segundo turno.

    Concordo com a comparação e vejo mais um aspecto que poderá ser decisivo para colocar Haddad no segundo turno. Assim como Lula e Brizola disputaram voto a voto do eleitorado de centro-esquerda e esquerda em 1989, com Lula passando em segundo lugar por margem mínima de diferença (16,69% contra 16,04% do ex-governador), imagino que a disputa entre Bolsonaro e Alckmin possa ser semelhante este ano, dividindo o voto da direita.

    Bolsonaro, mesmo sem tempo de televisão e disparando sua metralhadora diária de memes, não demonstra tendência de queda. Alckmin, por mais insosso que seja, pode ganhar alguma musculatura com a superexposição midiática, incluindo aí não só o horário eleitoral e as inserções diárias na programação, como também a mídia amiga. Se conseguirá encostar ou até passar Bolsonaro, só o tempo dirá. Mas o próprio Mercado, o Deus, já desconfia.

    No outro flanco, acreditar que Lula possa transferir 100% dos seus votos para Haddad é ilusão. Mas o ex-prefeito de São Paulo pode largar com os 20% que o Partidos dos Trabalhadores possui historicamente. E, atuando no vácuo de Lula, Haddad deve herdar alguma coisa do ex-presidente e talvez ainda seja beneficiado na reta final do primeiro turno com o voto útil da esquerda e centro-esquerda, que poderia levá-lo ao segundo turno.

    Até ontem, meu referido amigo do início do texto só enxergava Bolsonaro e Alckmin nas duas primeiras posições. Na ausência de Lula, ele não conseguia ver Haddad e o PT em condições de crescimento. Essa certeza durou até às 17:55 de ontem, quando me enviou a seguinte mensagem:

    "Pablo, vendo toda a mobilização em torno do registro do Lula no TSE, começo a concordar com tua análise. Me parece que há sim chances do PT, via Haddad e Manuela, estar no segundo turno. A Globo News mostrou há pouco imagens da Gleisi indo até o TSE para fazer o registro. Muita gente ao lado dela, essa grande manifestação organizada por aqui mostra que a militância ainda é sim muito forte e articulada".

    A manifestação, de fato, foi histórica. Caminhei junto desde a saída no Mané Garrincha até o ato final em frente ao TSE. A grande maioria dos presentes era militantes ligados aos movimentos sociais, povo organizado em estado bruto. E havia também muita gente que foi por conta própria, de todas as regiões do país, de várias idades, incluindo uma nova geração que, há poucos anos, estava distante de Lula e do PT.

    Assim como junho de 2013 foi astutamente canalizado pela direita contra a presidenta Dilma Rousseff, o PT e a esquerda; o golpe de 2016 e todas as suas consequências serviram para que uma parte importante da esquerda convergisse em torno da defesa da liberdade do ex-presidente Lula e, extrapolando a militância, que o próprio Lula se tornasse a antítese do golpe.

    Ontem foi bonito, emocionante e deu esperança. O momento do anúncio do registro foi apoteótico. Lula é o candidato do povo. Mas em tempos de golpe, Haddad em breve encabeçará a chapa e vai precisar encarnar visceralmente a candidatura do projeto Lula, enquanto que a militância terá um papel fundamental no dia a dia da campanha, conquistando mentes, corações e mostrando, conforme bem disse meu amigo, que "é sim muito forte e articulada".

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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