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    Paulo Moreira Leite

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    Lula mostra que a resistência nunca termina

    "Mais grave do que o comportamento bestial do candidato Marçal na campanha é a postura cúmplice de ataques às garantias democráticas de nosso sistema político"

    Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

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    Mais grave do que o comportamento bestial do candidato Marçal na campanha municipal de São Paulo é a postura cúmplice de ataques às garantias democráticas de nosso sistema político, cuja importância já foi explicada e confirmada nos estudos básicos de História Política.

    Aprendemos, em 1964, em 1968, e em vários episódios que marcaram a luta dos trabalhadores e do povo no final da década de 1970 e nas décadas seguintes, que, em tempos de crise grave, quando a sombra de confrontos de grande envergadura surge no horizonte, atos de provocação são produzidos como combustível indispensável para quem pretende quebrar as instituições.

    Atuando nos dias de hoje conforme um figurino que já produziu imensos desastres, uma fatia de nossa classe dominante alimenta a sabotagem e os ataques diretos contra o governo Lula — outra fatia finge que nada vê, evitando adotar uma atitude de apoio a um governo comprometido com os interesses dos mais pobres e excluídos, fazendo sua parte para alimentar um desfecho ruinoso, que pretende tornar inevitável.

    Incapazes de impor seus projetos democraticamente, pela vontade popular, uma parte das forças reacionárias do país optou pela omissão — essa cumplicidade com o abismo, típica de autoridades que fecham os olhos e abrem caminho para uma virada de mesa.

    Marcadas para os próximos dias, as eleições municipais fazem parte desse processo, num cenário de disputas políticas e tentativas de desmantelamento de instituições frágeis, construídas após muita luta e resistência.

    O combustível que alimenta Marçal e seus patrocinadores ocultos tem a mesma origem daquela força maligna que capturou uma vitória progressista no Chile pós-ditadura de Pinochet, colocou a Argentina de joelhos após o colapso peronista e submete outros vizinhos fragilizados, na perspectiva de estrangular definitivamente uma herança que permitiu avanços inegáveis e esperanças luminosas no passado.

    Num cenário de derrota, paralisia e desesperança, é preciso olhar o mapa do continente para reconhecer a posição estratégica de nosso país.

    Na década de 1960, a democracia imperfeita do pós-guerra, que proibia partidos operários e reprimia sindicatos independentes, foi o primeiro alvo do imperialismo e seus aliados locais, numa operação de guerra que, em pouco tempo, mudou a paisagem inteira da região.

    Na terceira década deste século, a ordem dos fatores parece cronologicamente invertida, mas o risco geopolítico é semelhante.

    Nosso país tornou-se a principal reserva de democracia na região, com respeito à maioria e abertura de caminhos concretos para o desenvolvimento e o bem-estar dos povos, em particular dos humildes. Sua derrota representará um golpe de grande proporção. Basta examinar o mapa-múndi de nosso tempo para entender a importância da resistência liderada por um Lula, quase inteiramente calvo, numa época em que boa parte dos antigos companheiros já não pode comparecer à trincheira onde foram obtidas vitórias decisivas num passado relativamente recente.

    Numa travessia com sobressaltos e incertezas, até naturais num período em que tantas utopias vieram ao chão, é preciso resistir, resistir e resistir mais uma vez — até que uma nova luz se mostre no horizonte.

    Alguma dúvida?

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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