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    Mauro Nadvorny

    Mauro Nadvorny, é Perito em Veracidade e administrador do grupo Resistência Democrática Judaica". Seu site: www.mauronadvorny.com.br

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    Lula vale a luta

    Estou vivendo na esperança de que surja uma solução pacífica e que Lula possa ter seu direito a recorrer em liberdade até que um tribunal imparcial reconheça a injustiça que se cometeu contra ele

    lula (Foto: Mauro Nadvorny)

    Sempre achei o Mentor Neto um boçal. O tipo do cara cujo ego deixaria um portenho (argentino nascido em Buenos Aires) envergonhado.

    Ele representa o típico neoliberal. O cara que diz que foi de esquerda, que votou no Lula e então se desencantou quando ele se vendeu por uma reforminha no sítio e um apartamento no Guarujá.

    Eu fico me imaginando no lugar do Lula. Assumo a presidência depois de várias derrotas e meu primeiro diploma na vida é o de Presidente da República. Imagino o tamanho da minha responsabilidade. Primeiro comigo mesmo, e depois com todo o povo que colocou suas esperanças em mim, um cara sem estudo e cuja única experiência é aquela que a vida me ensinou. Uma vida que não foi nada fácil.

    Então começo a trabalhar e como nada é perfeito, com uma minoria eleita comigo eu sou obrigado a formar uma maioria para governar. Numa democracia, seja ela presidencialista, ou parlamentarista, só se governa com uma maioria que de sustentação ao governo. Sim, a democracia é uma merda, mas tente experimentar uma ditadura e vais aprender como eras feliz e não sabia. Aí vem aquele dilema: se eu quiser governar sozinho eles não vão deixar e não vou ter apoio político para fazer nada do que prometi. Se eu me aliar ao Diabo, consigo fazer o que prometi, ou ao menos parte disso. E assim foi.

    Como todo “contrato” com o Diabo, passado um tempo vem à cobrança. Eu consigo fazer tudo que outros não conseguiram. Entre tantas coisas eu pago a dívida histórica com o FMI, e passo a emprestar dinheiro para eles, acabo com a fome e a miséria, crio universidades e consigo colocar os menos favorecidos para estudar dentro e fora do Brasil, à economia se move com obras, o povo passa a ter acesso a uma casa para viver e a desigualdade diminui no país. Mas oito anos passam rápido e ao menos consigo fazer minha sucessora. 

    Dilma segue na mesma linha. No entanto com ela não tem esse negócio de jeitinho para levar beiradas nas obras do governo e ela resolve atacar a corrupção. Aí o Diabo, lembram dele,  cobra a sua parte. Sou obrigado a assistir o golpe branco dado por aqueles para os quais eu fechei os olhos pelo bem maior. Difícil ver a sua obra ser destruída e o país começar a voltar para trás, mas foi o que aconteceu.

    O golpe foi pesado, não somente para mim, para o povo brasileiro. E eles não se satisfizeram em assumir o poder para manter seu status quo, eles passaram a me perseguir sem dó nem piedade. Acusações sem provas baseadas em testemunhas que escutaram falar tiveram o peso de condenação que nenhum tribunal sequer aceitaria levar a julgamento. Assim,  passei a ser dono de um apartamento que nunca foi meu e sou condenado a doze anos e um mês de prisão para ser obrigado a cumprir em regime fechado.

    Voltando a ser quem escreve novamente, me pergunto como este boçal lá de cima do texto pode achar que o Lula se vendou por tão pouco. E eu mesmo respondo. É que para ele quem nasceu para Manchete, jamais poderia ser uma Paris Match (revistas semanais dos anos 80, uma brasileira e a outra francesa).

    Estes “ex-esquerdistas” acham que diferentemente dos diretores da Petrobrás que compraram mansões, barcos e abriram contas milionárias no exterior, o Lula por sua origem se contentaria com um apartamento no Guarujá em troca de favores não republicanos. Esta gente é a expressão maior do preconceito racial no Brasil. São aqueles que se incomodaram com a ascensão dos pobres a classe média, que não engoliram viajar de avião ao lado de ex-pobre, de ver seus filhos estudarem ao lado de favelados, que não admitiram encontrar seus empregados nos mesmos restaurantes que eles frequentavam. Estas são as pessoas que bateram panelas, que vestiram a camiseta da seleção brasileira para se dizerem patriotas, mas que na vida real são os maiores sonegadores de impostos e conviveram complacentemente com a corrupção histórica no país.  

    Estes são aqueles que sabiam da corrupção do Aécio, do Jucá, do Temer, do Padilha, do Alkimin e de tantos outros e nunca se manifestaram antes, e pior, não se manifestam agora. Aquele apartamento com malas de dinheiro não gerou raiva nesta gente, gerou foi inveja.

    Esta batalha não é somente pelo Lula. É por justiça e pela democracia.

    Assistir a esta caçada implacável ao Lula é muito triste e estar distante vendo tudo isto acontecendo é mais ainda.

    Como todos os companheiros, estou vivendo na esperança de que surja uma solução pacífica e que Lula possa ter seu direito a recorrer em liberdade até que um tribunal imparcial reconheça a injustiça que se cometeu contra ele.

    Daqui de Israel, toda a minha simpatia e solidariedade com aqueles que estão na resistência. 

    (*) Mauro Nadvorny é membro do Juprog (Judeus Progressistas) e da J-Amlat (movimento em construção de judeus latinoamericanos de esquerda). Atualmente vive em Israel.

     

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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