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    Lelê Teles

    Jornalista, publicitário e roteirista

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    Macetando o apocalipse

    Baby queria anunciar o "fim da aventura humana na terra".

    (Foto: Reprodução)

    "canta uma pequena eva pra mim agora", gritou baby do brasil, metida num babydoll evangélico antissexy.

    baby queria anunciar o "fim da aventura humana na terra".

    veveta, porém, disse que não: "eu vou cantar o macetando porque deus tá mandando o macetando certo".

    a multidão, seminua, puxou o coro:

    "de ladinho, coraçãozinho, joga beijinho pra quem tá filmando".

    e assim, alegremente, foi cancelado o apocalipse no carnaval de salvador.

    "macetando, macetando, macetando."

    corta para brasília, um ano antes.

    o ajudante de ordens, por trás de um vidro espelhado, apertou o rec da câmera.

    um diabo verdeamarelo gritou: "ação!"

    e sete gárgulas, fardados, fizeram soar as trombetas, anunciando o fim dos tempos democráticos.

    montado num jumento branco, e usando o babydoll de baby, jair messias adentra a sala de reunião. 

    o general heleno, seu fiel cão cérbero, cumprimenta os dois jumentos e abana o rabo sujo.

    "canta minha pequena eva pra mim, meu capitão", relinchou o general braga neto, com a língua de fora.

    então, jair deu play em um áudio que recebera pelo zap.

    a voz de barítono era de bob jefferson, que cantava, com galhardia, atrás das grades:

    "meu amor, olha só hoje o sol não apareceu."

    "é o fim da aventura humana na terra", essa era a voz metálica do etê bilu.

    "meu planeta, adeus", murmurou olavo de carvalho das profundezas do inferno.

    "fugiremos nós dois na arca de noé", cantaram em coro, leo índio e carluxo. 

    ao final do jogral musical, jair, numa linguagem ásnica e relinchante, anuncia a boa nova:

    "a marinha aderiu ao golpe, agora vai". 

    sinistros ministros começaram a bater os cascos no chão, em frenética euforia. 

    anderson torres começou a rascunhar uma minuta no celular.

    pelo zap, jair enviou a um dos seus advogados um pronunciamento sobre o estado de exceção.

    "imprime essa porra, seu filho da puta, e manda pro meu gabinete lá no peéle."

    valdemar recebeu a impressão e ficou impressionado, botou uma pepita de ouro sobre o documento e deixou na mesa do burro chifrudo. 

    uma espécie unicórnio com o intestino preso.

    em seguida, voltou a brincar de roleta russa com o revólver de um amigo.

    uma forma lúdica de espantar o tédio da capital.

    almir, o almirante, revelou ao chefe que estratejava uma entrada triunfal em brasília, a partir do lago paranoá.

    a esquadra contaria com uma frota de jet skis, comandada por carluxo.

    à frente, na proa de uma corveta, viria jair, de boca aberta feito uma carranca.

    dali partiriam para o stf, levando presos xandão e gilmar mendes. 

    o tribunal passaria a ter apenas dois ministros, nunes  marques e andré mendonça.

    dona fátima de tubarão, indultada, se encarregaria de cagar nas nove cadeiras vazias.  

    jornais e revistas progressistas seriam fechados.

    a comunicação oficial ficaria sob o comando do gabinete do ódio.

    allan dos santos comandaria o jornal nacional, ao lado de augusto nunes. 

    o mastro de kid bengala seria usado como molde e substituiria todos os mastros de bandeira brasil afora.  

    na praça dos três poderes, o corpo de xandão estaria pendurado num cadafalso, a careca recebendo cascudo de abutres.

    zé trovão assumiria o itamaraty e michele assumiria seu caso com o maquiador.

    malafaia, finalmente, realizaria seu sonho de tio patinhas e viraria presidente do banco central. 

    um pelotão de cacs se encarregaria de metralhar a petralhada.

    jair se tornaria presidente vitalício e o minotauro, metade homem e metade gado, seris o novo símbolo nacional.

    mas aí baixou a veveta em alexandre de moraes.

    o piroca, descobrindo as maquinações do unicórnio tupiniquim, mandou prender geral.

    general, passaporte, pepita, revólver, minuta, o diabo.

    macetando o apocalipse verdeamarelo.

    um cabo e um soldado estão esperando a quarta-feira de cinzas, dentro de um jipe, na porta da casa de praia de jair, em angra.

    o traslado do morto-vivo será cortejado por um buzinaço.

    palavra da salvação.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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