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    Inez Lemos

    Psicanalista e autora de "Berro de Maria", ed. Quixote.

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    Machismo e feminicídio

    A chave da educação dos filhos precisa mudar. Vamos conversar mais com os garotos sobre feminicídio, machismo, preconceitos, misoginia, amor, companheirismo?

    Protesto contra o feminicídio (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ABR)

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    Como entender a barbárie, forma estúpida que muitos homens tratam as mulheres? A violência contra a mulher não respeita classe social, é cultural, estrutural. Ana Hickmann, linda e rica, após ser agredida pelo marido, confirma a importância da lei Maria da Penha: precisamos de proteção! Acredito que parte desse sintoma de violência possa estar na raiva dos homens em saber que as mulheres não estão mais sob o controle deles. Se antes eram subjulgadas, julgadas e definidas por eles, agora o barco desce o rio sozinho, elas sabem remar.

    A misoginia é o ódio do homem ao gozo feminino, antes o prazer sexual, genital, era privilégio dos homens. Com o avanço do feminismo, elas assumiram seus corpos para além das funções domésticas, exigências do marido e restrições religiosas. Ao se tornarem mais exigentes na rua, casa, cama e vida, desconcertaram os machões. Outrora apenas eles exigiam, agora a orquestra do baile é  composta de muitas fantasias. Os dois precisam dançar juntos. Caso ela fique em desvantagem, as luzes podem se apagar.

    O homem, ao perceber que não é mais o maestro, frustrado, ressentido, passa ao ato. O gatilho é a resposta que ele sabe dar à sua frustração. Sem assumir a impotência em proporcionar prazer à mulher, sem aceitar o fracasso enquanto amante, resolve colocar fim no sofrimento matando o objeto, causa da dor - angústia, sentimento de humilhação, inferioridade. 

    A vida não o educou para ser contrariado, questionado, criticado. Cresceram na ilusão dos vencedores. E se assim não for, que a violência resolva o impasse. 

    A mulher, ao manifestar seu  descontentamento e assumir seu desejo, abre espaço para sua morte. Na radicalidade do feminicídio está o direito feminino em escolher com quem e como ela quer viver o amor, sexo. Como também o que deve fazer parte de seu enxoval afetivo, fantasmático. A fantasia é o condutor da satisfação - requer cumplicidade, parceria. E só se realiza na dimensão da troca. 

    O sexo feminino é mistério que merece ser explorado com sabedoria. A mulher, ao abrir as pernas, abre também sua cavernas internas. Portamos, meio ao bosque, um santuário - há de se encontrar a morada divina. Sem tocar o Olimpo dos deuses feminino, a celebração não acontece. Nada de querer banalizar o recôncavo, nosso ninho afetivo deve ser visitado com empenho. Adentrar a mata, desbravar o âmago onde cochila o mel da floresta, requer dedicação. Não nos venham com força, cegueira, brutalidade. Não desperdiçem violência -  nada resolverá. Gostamos do beijo molhado, mãos delicadas, corpo rígido, toque macio - há de causar emoção. 

    O feminicídio é a resposta do homem à recusa da mulher ao desrespeito, à violência. Diante das exigências do feminino, ao perceberem que suas pistolas não são mais valorizadas como antes, resolvem se munir de algo letal colocando fim no corpo que deflagrou sua incapacidade em promover prazer.

    Para aplacar o feminicídio, o melhor seriam os homens iniciar um processo de desconstrução do machismo. Distanciar-se do ditame "homem não chora" e começar a falar das angústias, frustrações, perder o medo do fracasso, se aceitar imperfeito. Chore, desabafe, deite no divã e desate o Nó. Deixe cair a máscara fálica, fantasia de infalível, poderoso. Aposse-se de sua sensibilidade, abandone o orgulho e aceite as condições que a parceria amorosa hoje se apresenta.

    Para tanto, a chave da educação dos filhos precisa mudar. Vamos conversar mais com os garotos sobre feminicídio, machismo, preconceitos, misoginia, amor, companheirismo? Sozinhos dificilmente descobrirão a diferença entre gozo e prazer, vencer e ser feliz. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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