Macri fica com o FMI e as offshores, o Papa com os argentinos
A verdade chegou para Argentina, e se apresenta como uma verdade de terror. Dólar super valorizado, inflação e tarifaços, enquanto que o governo perde o controle do país que ele mesmo desordenou
A verdade chegou para Argentina, e se apresenta como uma verdade de terror. Dólar super valorizado, inflação e tarifaços, enquanto que o governo perde o controle do país que ele mesmo desordenou. A alta dos preços está em quase 10% em 4 meses, ou 2,7% no último mês, um dólar a 25 pesos e uma taxa básica de juros (LEBACS) que atingiu 40%, a maior do mundo em termos reais.
O presidente Mauricio Macri assim como se mostra perdido em aplicar a pura cartilha do neoliberalismo, percebe que seu resultado é destruidor. Escondendo a realidade, os devaneios passam aflorar em vários temas de seus discursos:
Não estamos voltando ao FMI, pois nunca deixamos e sempre fomos membros. O fundo é uma ferramenta adicional que nos trás mais estabilidade, pois estamos no vai e vem do mercado. Além do mais o ajuste fiscal beneficia o povo, afinal a dívida pública condena o futuro dos argentinos (...) As offshores são instrumentos no mundo dos negócios que todos usam. Não é ilegal. É mentira dos que dizem que é ilegal.É um instrumento jurídico que se utiliza para organizar investimentos(...) É mentira que pagamos uma energia cara, ela é um terço dos dos custos de outros lugares.
A forma de tratar a sonegação que os empresários praticam utilizando as offshores como lícito, bem como relacionar a deficit fiscal com os gastos em educação e saúde, e não pelo lado dos juros pagos aos rentistas, fez até o Papa Francisco romper o silêncio sobre estas questões:
Numerosas economias se veem oprimidas pelo pagamento de enormes juros provenientes destas dívidas, e por tanto são obrigadas a fazer ajustes estruturais com este fim (...) A imposição tributária quando é justa desempenha uma função equitativa e redistributiva da riqueza , não apenas dos que necessitam de subsídios apropriados, mas também o apoio ao investimento e o crescimento da economia real(...)Não é possível ignorar que estas redes de offshores tem se convertido lugares de lavagem de dinheiro sujo, fruto de ganhos ilícitos
O eufemismo de Macri procura esconder as receitas do Fundo Monetário Internacional para uma nação a beira do precipício social: facilitar a demissão do trabalhador, limitar convênios que onerem o Estado e subir as taxas de juros. Este modelo significa na prática, beneficiar ainda mais os ganhos dos rentistas, reduzir a massa de empregados e fomentar o Estado mínimo beneficiando o capital em detrimento dos direitos básicos. É o paradigma de um governo que em apenas dois anos já se debruça como a última cartada dos inadimplentes : FMI.
Quando se busca na história recente, pode-se identificar que os que grandes grupos investiram no dólar futuro são exatamente os exportadores, os bancos e a grande mídia apoiadora do atual presidente. O Clarin de Hector Magneto e o La Nación de Mario Quintana, investiram 11 milhões de dólares cada. Hoje muitos especuladores do final da era Kirchner são executivos do governo, agentes que compraram o dólar à 9,65 pesos e logo depois de assumir, em nome do livre mercado, deixou oscilar para 15 pesos. Uma grande mistura entre o público e o privado que debilitou o país.
A dinâmica da crise cambial na Argentina, permite que o capital financeiro e os conglomerados que hoje formam altos executivos da administração pública, depois de um rentável salto contra o peso se lancem numa nova etapa de rendimento. Depois de valorizar a moeda estadunidense , os novos dividendos virão da alta da taxa de juros , ou LEBACS .
A melhor forma de mostrar de formar transparente o quanto o trabalhador perde para o capital, é discorrer sobre a correlação entre a rentabilidade de aplicações em contra ponto a diminuição do poder de compra dos salários, pagos em peso numa economia dolarizada. O manipulador que comprou o dólar por 9,65 no final de 2015 ainda com Kirchner, recebeu 25 pesos neste mês, auferindo um lucro de 159% em 28 meses, para uma inflação de 90%. O governo passou a ofertar a taxa de 42% e vender o dólar por 22,9 como forma frear o descontrole. O precipício na prática já se refletiu na taxa de câmbio. Agora os rentistas, que detém 92 % das LEBACS, irão aplicar para maio de 2019 com uma rentabilidade de 42% deixando dólar que já se valorizou , para se beneficiar de uma verdadeira fase de agiotagem.
Assim, o modelo de Macri permite sucessivos ganhos ao capitalista, ao passo que o trabalhador não tem o salário corrigido pelos dólares mas os preços, sim. Na seara dos juros , o custo financeiro de crédito levarão uma parte maior do salários, quando não a própria vaga de trabalho. Uma sequência que se realimenta, concentrando renda e endividando o Estado e os trabalhadores. O que se aclara é que o movimento de crise, serve para reordenar a renda a favor da classe mais alta da sociedade.
Em contradição com a realidade, Macri passou mirar o acordo com o FMI como única solução possível. Neste contexto, uma multidão formada por movimentos sociais e partidos de esquerda, marcharam pelas ruas de Buenos Aires esta semana, até chegar a 'Plaza de Mayo' para repudiar esta possibilidade. A história mostra que cada vez que FMI quando intervem num país, este termina aprofundando a crise, perdendo a soberania e elevando os níveis de pobreza. É recorrente os exemplos da Grécia e Espanha, enquanto em 'Nuestra America' , o Brasil no governo Fernando Henrique Cardoso ou a própria Argentina de Carlos Menem participaram deste mesmo processo.
Grande parte dos conceitos neoliberais vão de encontro aos discursos dos endinheirados, com objetivo de impor uma verdade aos trabalhadores, que existiria apenas a opção de rastejar sem dignidade frente ao poder do capital.
Uma análise mais atenta, devenda as contradições do liberalismo praticado por Mauricio Macri em relação ao governo desenvolvimentista de Cristina Kirchner. Na disputa eleitoral fez uma defesa contudente pela liberação da economia. Legitimou o livre acesso ao dólar com câmbio flutuante , pagamento aos fundos abutres como meio de ter acesso ao mercado global financeiro com a tutela do FMI. A vitória de Macri levou o país ter uma dívida pública no patamar de 60% do PIB , enquanto no período Kirchner era 38%, o peso de participação do dólar alcançou 45% onde na era 'K' estabilizou-se em 13%. Macri ainda elevou a inflação em 20% do que recebeu da antecessora. O neoliberalismo colapsou a Argentina, deveria ter lembrado a máxima que 'devemos conhecer a História para não repeti-la'.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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