Maior desafio de Haddad é desarmar o antipetismo fora da capital
"Campanha deve focar em tocar os corações dos grupos que vêm sendo mais usurpados por esse modelo de sociabilidade", avalia Cesar Calejon
Por Cesar Calejon, para o 247
Durante o primeiro turno das eleições em São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o carioca bolsonarista que sequer sabe direito o seu local de votação em território paulista e há pouco tempo era um ilustre desconhecido da população do estado, obteve 9.881,995 votos (42,32%). Na segunda colocação, Fernando Haddad (PT) teve 8.337.139 (35,70%).
Contudo, Haddad foi o mais votado na capital, muito por conta da impressão que deixou durante a sua gestão como prefeito da cidade, com 44,2% (2,8 milhões de votos), seguido por Tarcísio, com 32,67% (2,06 milhões).
Evidentemente, esses números demonstram que o maior desafio do petista é conquistar o eleitorado do interior e do litoral do estado de São Paulo. Nesse sentido, o maior desafio da campanha de Haddad é arrefecer o antipetismo que ainda vigora de maneira muito enfática nessas regiões.
Dado o contexto, o obstáculo é grande, fundamentalmente, por um motivo central: a adesão ao antipetismo é maior nas cidades mais provincianas da nação, nas quais o elitismo histórico-cultural e, consequentemente, o conservadorismo são mais fortes.
Em linhas gerais, o antipetismo tornou-se tão forte porque traz, em sua essência, o elitismo histórico-cultural que organiza o modelo de sociabilidade brasileiro até a presente data. No Brasil, durante o começo do século XXI, essa força social remete às dimensões escravocratas do Brasil colonial e imperial.
Note que, invariavelmente, todo antipetista, a despeito de utilizar as pautas morais (combate a “corrupção”, manutenção dos valores da família “tradicional” ou religiosos etc.) para organizar o seu discurso político, efetivamente funciona de acordo com os parâmetros elitistas (racismo, misoginia, LGBTQIA+fobia, aporofobia, gordofobia etc.), ainda que ele ou ela pertençam aos grupos que são discriminados.
Esse é um ponto fulcral para entender a força do bolsonarismo, que se alimenta do (e estimula o) ódio à diversidade que conforma a essência do próprio elitismo histórico-cultural.
Cabe, nessa medida, que a campanha de Haddad se foque em tocar os corações dos grupos que vêm sendo mais usurpados por esse modelo de sociabilidade durante o processo de desenvolvimento do país. Ou seja, endereçar as mulheres, os negros, os indígenas e as comunidades LGBTQIA+ que residem nas cidades do interior e litorâneas do estado de São Paulo.
A tarefa é complexa, sobretudo considerando o tempo restrito que resta até a votação do segundo turno, mas essa é a melhor chance de tirar a vantagem que o bolsonarista conquistou no primeiro turno e evitar a milicianização do estado de São Paulo nos moldes cariocas.
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