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    Eric Nepomuceno

    Eric Nepomuceno é jornalista e escritor

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    Mais do mesmo. Até quando?

    Quando foi declarar sobre o tal decreto de golpe encontrado na sua casa, Anderson Torres classificou o material como “lixo”

    Ministério da Justiça, Polícia Rodoviária Federal e Anderson Torres (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado | PRF | Marcelo Camargo/Agência Brasil)

     Não há um só mísero dia, um único, em que não apareçam novas e consistentes denúncias do que o país viveu ao longo dos últimos quatro anos.

     Da mesma forma que não há um só mísero dia em que não se confirme que ninguém, absolutamente ninguém, que esteve ao lado de Jair Messias e seu bando familiar vale coisa alguma.  

     Tanto faz se a figura, a exemplo de Paulo Guedes, sumiu na poeira das ruas, ou se virou governador, senador ou deputado: jamais na história da República, nem mesmo na mais recente ditadura militar, se reuniu tanto lixo, tanta podridão, num só governo.

     Daí a monotonia desses tempos: enquanto vemos os esforços e as dificuldades enfrentadas por Lula para reconstruir o país, não param de surgir novos indícios, quando não provas palpáveis, de tudo que é tipo de absurdo.

     Basta pegar o exemplo que anda navegando na crista da onda dos últimos dias, o ex-delegado da Polícia Federal Anderson Gustavo Torres.

     Era um ilustre desconhecido, de trajetória basicamente burocrática na PF, até virar secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, onde foi descoberto por Jair Messias.  

     Em março de 2021 virou ministro de Justiça.

     Aliás, muito mais que ministro de Justiça, foi – e contina sendo, ao menos até agora – um lacaio fiel a Jair Messias. E a cada dia surgem novas denúncias sobre até que ponto essa fidelidade pôs o país em risco.

     Por sorte, em ao menos um episódio Torres foi de uma incompetência olímpica. Em outro, até que se esforçou ao máximo. E se não deu certo, a responsabilidade final não é só dele.

     O esforço máximo foi abandonar Brasília à própria sorte no dia oito de janeiro. Se o golpe tivesse dado certo, a recompensa seria alta. Como deu errado, Anderson Torres acabou no xilindró.

     Já a incompetência aconteceu nas vésperas do segundo turno das eleições que extirparam Jair Messias da poltrona presidencial.

     Comprovou-se agora o que já se comentava a granel: faltando poucos dias para o segundo turno, Torres desabou na Bahia com a missão de mobilizar a Polícia Federal para que, junto com a Polícia Rodoviária Federal, infiltrada por bolsonaristas e obedecendo diretamente a Jair Messias, impedisse a circulação de veículos que estivessem conduzindo eleitores.

     A Polícia Federal da Bahia não entrou na armadilha, e embora muitos veículos tenham sido retidos ou atrasados pela Polícia Rodoviária, Lula varreu as urnas bahianas.

     Resumo da ópera: além do tal decreto que previa intervenção militar no Tribunal Superior Eleitoral, anulando o resultado das urnas, e que foi encontrado num cofre da sua residência, além de tudo que já se sabia sobre Anderson Gustavo Torres, agora tem mais essa.

     Pairam no ar algumas perguntas que não querem calar: será que ele fez tudo isso por conta própria? Será que Jair Messias e sua vasta trupe não sabiam de nada?

     Será que Torres vai continuar de bico fechado enquanto vê, do xilindró, o chefão todo faceiro fazendo de conta que não vai acontecer nada com nenhum dos dois?

     Quando foi declarar sobre o tal decreto de golpe encontrado na sua casa, Anderson Torres classificou o material como “lixo”.

     E cá está outra pergunta à espera de resposta: estava se referindo ao texto ou a ele mesmo?

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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