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    Cândido Vaccarezza

    Dr. Cândido Vaccarezza é um médico e político formado pela Universidade Federal da Bahia e atualmente mora em São Paulo. Ele tem especializações em ginecologia e obstetrícia, saúde pública e saúde coletiva. Durante a pandemia, foi diretor do Hospital Ignácio P Gouveia, referência para o tratamento de Covid na Zona Leste de São Paulo. Como político, ele participou da luta pela democracia no Brasil na década de 1970 e foi deputado estadual e federal pelo PT. Além disso, ele também foi líder na Câmara do Governo Lula e Dilma e secretário de esporte e cultura em Mauá. Reg

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    Mais ponderação e tolerância. Paz para o Brasil

    "A lei deve valer para quem a infringe, para quem acusa e para quem julga", indica

    Jair Bolsonaro em reunião ministerial (Foto: Reprodução)

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    As redes sociais, mesmo com a folia do carnaval, foram inundadas pela espetacularização das prisões e das realizações de busca e apreensão em residências de pessoas ligadas ao ex-presidente Bolsonaro. O frisson aumentou principalmente depois da divulgação do vídeo, encontrado no computador do Tenente coronel Mauro Cid, com a gravação da reunião ministerial quando, supostamente, o presidente tentava enquadrar todo o governo para o confronto com o STF e para a utilização da máquina administrativa na campanha eleitoral. A cena mais trágica foi protagonizada pelo general Heleno, ao defender a “virada de mesa” antes da eleição, entendida por muitos como a defesa explícita de um golpe.

    A conjuntura política no Brasil está quase deteriorada pela polarização exacerbada e irracional de parte significativa dos agentes políticos da chamada extrema direita e também da esquerda. Assisti estupefato, a fala de um deputado federal importante e dos mais votados do país, que manifestava, como o seu principal desejo para o Brasil em 2024, ver a prisão de Bolsonaro; do outro lado as fake news na internet e nas pregações de todos os tipos atacando o judiciário, afirmando que já vivemos em uma ditadura e atacando fora da política o atual governo. Uma pesquisa publicada em 09/02/2024 pela Atlas Intel, mostra que 47%,3% da população considera que vivemos sob uma ditadura do judiciário, estes dados são preocupantes.

    Felizmente, apesar de não ter sido acompanhado pelo seu governo e pelos seus principais apoiadores, o presidente Lula em uma, uma entrevista, para a rede de rádio formada pela CBN de Pernambuco, falou sobre as buscas e apreensões: “você tem um processo de investigação, você tem uma decisão de um Ministro do STF de busca e apreensão sob suspeita de utilização de má fé da ABIN, cumprida pela Polícia Federal. Eu não vejo nenhum problema anormal, se há uma decisão judicial, só espero que as pessoas que estão sendo investigadas, sejam investigadas, tenham direito de defesa e que estas pessoas tenham a presunção da inocência, que eu não tive”.

    A SECOM, órgão de comunicação do governo federal, adotou o deboche com o toc, toc, toc para noticiar a busca e apreensão envolvendo Carlos Bolsonaro. Além disto, tivemos o “espetáculo” que muitos da mídia e da esquerda fizeram festejando as prisões preventivas, as tentativas de desmoralização das pessoas e outros tipos de investigações que para o público já é uma condenação antecipada, independentemente da presunção da inocência, do direito de defesa e, mesmo, dos interesses gerais do país. É o vale tudo do Velho Oeste americano”, retratado em filmes de cow boy, que dava direito ao xerife a enforcar o acusado de ser o ladrão do gado, sem as provas cabais; às favas o Estado Democrático de Direito.

    Muitos dos que são aplaudidos hoje e com quem a esquerda faz coro, foram aplaudidos por bolsonaristas e outros, quando o processo nefasto mal apelidado de “Lava Jato” reinava por estas bandas. Não sou contra a investigação, a condenação de culpados e suas respectivas punições com base na lei. Sou contra a espetacularização das investigações, ao cumprimento antecipado e injusto de penas travestidos de prisão preventiva, e, desculpem-me o termo chulo, sou contra a esculhambação das pessoas e de suas famílias. A sociedade brasileira ou a maior parte dela precisa aprender a conviver com a política e com a democracia, esse é um processo civilizatório.

    Ao conversar com um amigo sobre o 8 de janeiro famoso e sobre a minha preocupação em relação a criação de uma imagem negativa na sociedade em relação às Forças Armadas, ele me interpelou: “ora! mas você acha pouco estas notícias, a articulação do golpe, tem que botar todo mundo na cadeia. Tá claro que eles tentaram dar um golpe, que uma parte dos militares foram ativos e os outros se calaram, são coniventes, veja o que está saindo na mídia”.

    As investigações levadas a efeito pela polícia federal são sérias, depois de concluídas deveremos ter o devido processo legal com direito de defesa para os acusados e caso haja condenação a devida punição.

    Imagino ao assistir ao áudio da fatídica reunião que o general Heleno, o general Braga Neto, o Bolsonaro e alguns outros manifestavam o desejo de perpetuar-se no poder ao arrepio da Constituição… imagino como não foi fácil para, naquela conjuntura, o general Gomes Freire, que detinha o comando da tropa do Exército e para o brigadeiro Batista Júnior, comandante da Aeronáutica, manterem-se firmes na defesa da Democracia e garantirem juntamente com a maioria do oficialato que as Forças Armadas Brasileiras não iriam participar de aventuras golpistas. É importante o Brasil reconhecer nem só aqueles militares que não vacilaram nos momentos difíceis, como reconhecer sem meios termos o papel das Forças Armadas brasileiras, elas têm evoluído muito com nossa nação democrárica. O Brasil precisa de Forças Armadas qualificadas, respeitadas e comandadas pelo poder civil. É um processo longo, nossa democracia que, a meu ver, começou com a eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, antes mesmo da promulgação da Constituinte em 88, vem se consolidando de forma ímpar e sem precedentes na história do país. Não devemos olhar, apenas, para trás para condenar o passado. O que passou, nos serve de exemplo e aprendizado, não serve para julgar o presente. Não adianta dizer que desde o período da Regência, no segundo império os militares já conspiravam. Todos aprendemos, o importante é que o Poder civil está julgando os acontecimentos recentes, sem interferência indevida de nenhum poder. Também o julgamento civil não poderá ser regido pela batuta da volta do cipó de aroeira, parodiando Geraldo Vandré. Na música de Vandré é belíssimo, na atual conjuntura, se não houver ponderação, será um erro crasso.

    Para finalizar responderei ao meu amigo:

    O 8 de Janeiro, para mim foi uma sarrafusca, a maioria daquelas pessoas tem de ser julgada como baderneiros, não como terroristas ou como golpistas, alguns mandantes e organizadores que lá não estavam, respeitando-se o devido processo legal, se tinham intenção de dar golpes, devem ser investigados e julgados dentro da lei e com os rigores da lei, não com rigores acima da lei só porque são adversários ou inimigos políticos.

    Em relação às ações dos presentes na fatídica reunião, o processo deve ser conduzido com o rigor da lei, com a parcimônia e ponderação que a lei também dita. A lei deve valer para quem a infringe, para quem acusa e para quem julga.

    “ O Sentimento da Nação não obedece ao exclusivismo de um interesse: forma-se sob a ação múltipla de interesses diversos, conciliados em um ponto de vista superior”.( Rui Barbosa)

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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