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Davis Sena Filho

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Maragato - Brizola

Diante da grave crise política, percebemos o quanto Brizola faz falta. Desprezado em vida pelas elites dominantes, sua memória e legado são honrados

Exilado por 15 anos no Uruguai durante o período da ditadura, Brizola voltou ao Brasil em 1979 (Foto: Divulgação/PDT)

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Passaram-se duas décadas do falecimento de um dos maiores brasileiros de todos os tempos, Leonel de Moura Brizola, uma figura central na história do Brasil. Trata-se do trabalhista e maragato, homem de esquerda, corajoso, combativo, político autêntico e o último herdeiro das revoluções gaúchas. Brizola foi governador do Rio Grande do Sul (1959/1963) e, por duas vezes, do Rio de Janeiro (1983/1987 e 1991/1994), conquistando a segunda eleição apenas três anos após retornar do exílio de 15 anos, em 1979. Também foi prefeito de Porto Alegre (1956/1958).

Leonel Brizola é tão relevante na história do Brasil que teve seu nome inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Para que o nobre gaúcho recebesse essa justa homenagem, o Congresso Nacional aprovou, em 2015, um projeto que reduziu a exigência de 50 anos para 10 anos após o falecimento, permitindo que Brizola, legítimo herdeiro do trabalhismo de Getúlio Vargas e João Goulart, fosse laureado, garantindo que seu nome ocupasse o lugar merecido entre os grandes brasileiros e brasileiras.

Extremamente corajoso e coerente em seus princípios e valores, Brizola jamais deixou de lutar de forma incansável e sistemática pela soberania do Brasil e pela liberdade do povo brasileiro. Ele buscava a inclusão social e econômica, traduzida em mais educação, cultura, saúde e na defesa dos direitos de negros, indígenas, mulheres e pessoas com deficiência.

Essencialmente democrata, Leonel Brizola lançou programas sociais históricos e implementou projetos de desenvolvimento em todos os segmentos e setores da sociedade, gerando uma atmosfera de satisfação durante seus governos. Como um verdadeiro democrata, ele buscava incessantemente distribuir renda e riqueza, especialmente aos cidadãos do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, estados que governou.

Falecido em 21 de junho de 2004, em 2024 completam-se 20 anos desde a morte desse estadista, sendo ele o único político brasileiro eleito para governar dois estados diferentes. Embora o tempo necessário para uma avaliação histórica completa ainda esteja por vir, é seguro afirmar que Brizola dedicou sua vida pessoal e política ao desenvolvimento do Brasil e à luta pela sua soberania.

Essa trajetória gerou imensos desafios e embates duros. Percalços e injustiças privaram-no da paz e de uma vida familiar plena, pois seu tempo foi majoritariamente dedicado às causas sociais. Ele se manteve disciplinado na governança, nas lutas de classe, nas ações político-partidárias e, especialmente, na maior luta de sua vida: o combate à ditadura civil-militar imposta ao Brasil em 1964.

Apesar de tudo, Brizola manteve-se fiel aos seus ideais, sendo um homem profundamente solidário, humanista e corajoso, qualidades que se revelaram ao longo de sua vida política, enfrentando episódios graves da história brasileira, inclusive com armas nas mãos quando necessário, como durante seu governo no Rio Grande do Sul.

O gaúcho maragato, nascido em 22 de janeiro de 1922, em Cruzinha de São Bento, distrito de Carazinho, transformou o Palácio Piratini em um bunker para garantir a posse de João Goulart na presidência, após a renúncia inesperada de Jânio Quadros. Liderou a famosa “Campanha da Legalidade” e organizou a “Rede da Legalidade”, composta por 104 emissoras de rádio em todo o país.

Brizola usava o microfone diariamente para denunciar a tentativa de golpe, e a rede de rádios tornou-se uma ferramenta poderosa contra os militares e civis golpistas. Estes foram forçados a negociar uma saída que resultou na implementação do parlamentarismo no Brasil, um sistema que durou pouco até que o país voltasse ao presidencialismo e Goulart reassumisse seus plenos poderes como presidente.

Brizola mobilizou o povo brasileiro e as forças do Rio Grande do Sul para resguardar a Constituição e impedir o golpe militar. Jango assumiu a presidência até sua deposição em 1º de abril de 1964, que ironicamente ficou marcado como o Dia da Mentira.

Nascido nos rincões do Rio Grande do Sul, um estado forjado em lutas e revoluções, Brizola não teve a oportunidade de crescer sob o olhar de seu pai, José Oliveira Brizola, que morreu em combate na Revolução Federalista de 1923, lutando ao lado de Assis Brasil contra as tropas do republicano Borges de Medeiros.

Os republicanos, conhecidos como chimangos, usavam lenços brancos, enquanto os federalistas, os maragatos, usavam lenços vermelhos. Essa cor encarnada foi adotada por Brizola ao longo de sua vida, tornando-se um símbolo de sua luta política e ideológica.

Foi nesse ambiente de guerra entre chimangos e maragatos que Brizola se formou como cidadão e político. Ele foi, de fato, o último personagem das guerras riograndenses, que se estenderam por quase três séculos. Essa essência histórica fez dele o herdeiro do trabalhismo brasileiro de Getúlio Vargas e João Goulart.

O trabalhismo gaúcho foi transformador, sendo a única doutrina sócio-política que efetivamente realizou reformas estruturais nos setores de industrialização, trabalho e soberania, promovendo mudanças cruciais para o desenvolvimento do país e a melhoria da qualidade de vida da população.

Até os dias de hoje, os trabalhadores brasileiros, tanto do setor público quanto do privado, usufruem dos benefícios sociais e econômicos conquistados desde os tempos do estadista Getúlio Vargas, fundador do PTB e responsável pela industrialização do Brasil.

Brizola, sendo parte essencial do trabalhismo, deixou um legado social reconhecido em todo o Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. Seu nacionalismo de esquerda, frequentemente taxado de populismo pela direita e pela grande imprensa, incomodava as elites brasileiras, que o perseguiram cruelmente após o golpe militar de 1964.

Leonel Brizola foi o brasileiro que mais tempo passou no exílio. Durante esses 15 anos, os golpistas investigaram sua vida, sem encontrar qualquer mancha que comprometesse sua honra. Chamaram-no de louco, radical, insano e até de ladrão, humilhando sua família e amigos. Durante anos, seu nome foi proibido de ser mencionado, como se ele não existisse.

Somente em 1979, com a anistia, o nome de Brizola voltou a circular. Muitos esquecem que o presidente dos EUA, Jimmy Carter, teve papel crucial na distensão política das ditaduras na América Latina, promovendo os Direitos Humanos como uma bandeira de proteção social.

Leonel Brizola lutou bravamente pelos direitos humanos, sociais e trabalhistas dos brasileiros. Ele pagou um alto preço por sua ousadia de enfrentar o status quo, sem nunca desistir de acreditar em um Brasil melhor, justo e democrático.

Brizola acreditava firmemente na educação, vendo nela o caminho para a dignidade e soberania do povo. Por meio da educação, ele acreditava que os brasileiros teriam a força para fiscalizar governos corruptos e reivindicar seus direitos.

Diante da grave crise política que vivemos hoje, percebemos o quanto Brizola faz falta. Desprezado em vida pelas elites dominantes, sua memória e legado, agora, são honrados. Brizola vive!

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